Notícias admin 3 de maio de 2015 (0) (1343)

Hipoglicemia de rebote: fuja dela!

Você vem treinando certinho nos últimos meses, sente-se preparado psicológica e fisicamente para a tão sonhada prova, e toda a estratégia de alimentação/hidratação da corrida está mais do que fixada na sua mente. Passa o quilômetro 15, o 20 e, chegando no 30 o corpo começa a doer, a ansiedade toma conta pela proximidade com o "muro"; tudo o que quer nesse momento é uma inesperada injeção de energia. E ela pode vir na forma de uma batata assada salgada ou de uma latinha vermelha, gelada e sem gás, entregue por um parente ou amigo que se transformou em staff pessoal.
É muito açúcar e alegria dentro de uma coisa só; o alívio é quase imediato e você cria alma nova para aguentar até o fim da maratona. Volta a correr e, não mais que de repente, seu mundo caiu. Tontura, ânsia de vômito, fraqueza e um só pensamento: onde foi que eu errei? A culpa não foi das sessões de reforço muscular na academia que você faltou, nem do longão de domingo que você pulou para poder dar uma descansadinha da festa de sábado, que você não teve como fugir. A culpa foi do danado do rebote.
Quando realizamos um esforço físico intenso, o corpo necessita de energia para que o sistema muscular continue rendendo o que desejamos, sem desestabilizar as nossas funções vitais. Embora não seja a única, o carboidrato é a principal fonte de energia responsável por tudo isso. Mas é importante que a hidratação esteja balanceada para que as reações químicas continuem acontecendo dentro do corpo, possibilitando a liberação de energia sem interrupções abruptas ou "efeitos colaterais" desagradáveis, como a hipoglicemia ou a hipoglicemia de rebote, causas completamente diferentes para uma mesma consequência.

O QUE É. Que hipoglicemia é a queda das taxas de açúcar, a maioria dos desportistas já sabe – e por isso não é aconselhável correr em jejum e blá, blá, blá. Mas o que é e como acontece a de rebote? Antes de iniciarmos as explicações é importante frisar que a historinha contada na abertura desta matéria é uma realidade fictícia, não muito comum. A hipoglicemia de rebote não acontece com todo mundo. De acordo com algumas estatísticas, uma em cada três pessoas pode sofrer esse efeito, causado pela ingestão de alimentos de alto índice glicêmico, antes ou durante o exercício físico.
A esta altura o leitor estará pensando: eu me alimento de forma correta antes e durante treinos e provas, portanto não corro esse risco. A má notícia é que não há como prever quem é você entre as três pessoas dessa estatística. Isso porque estamos passíveis de cometer deslizes, como o nosso colega corredor da abertura da matéria, e também porque o rebote pode ser ameno, mas é bom estar preparado para isso caso venha a acontecer.
"Muitas vezes os sintomas da hipoglicemia de rebote são muito fortes, e em caso de tonturas e vômitos o mais indicado é parar de correr. Porém, se os sintomas são amenos, a melhor forma para sair da hipoglicemia é ingerir carboidratos complexos, presentes em géis, pastilhas ou isotônicos", explica Karina Valentim, nutricionista esportiva da Patricia Bertolucci Consultoria em Nutrição, de São Paulo.

O PROCESSO. Vamos lembrar, rapidamente, como funciona o processamento dos carboidratos dentro do nosso corpo, uma informação que pode ajudar muito durante uma prova de resistência. Grosso modo, quando ingere-se carboidrato (CHO), o pâncreas libera uma enzima chamada amilase, que é responsável por quebrar as cadeias de CHO e transformar em glicose, que será absorvido pelo sangue com a ajuda de liberação de insulina, para ser transformada em ATP (energia). Esse açúcar/glicose fica armazenado nos músculos, no fígado e no sangue. Quando a atividade física é muito intensa e repetida por vários dias, o organismo usa praticamente todo o açúcar dos músculos e começa a queimar o do sangue. Com isso, a taxa de açúcar cai muito e começam os sintomas da hipoglicemia, como vista escura, suor frio e vômito.
Já o efeito rebote acontece quando é ingerida uma grande quantidade de açúcar antes ou durante uma atividade física intensa. Vamos, mais uma vez, voltar à nossa historinha. Uma latinha de refrigerante comum contém cerca de 7,5 colheres de pura bomba energética. Àquela altura, após tanto esforço, nosso corredor fictício já estava com suas reservas de energia indo para o espaço: estava hipoglicêmico, já com baixa concentração de glicose no sangue.
Quando ingeriu uma quantidade considerável de refrigerante para tentar melhorar o rendimento, o pâncreas automaticamente liberou uma quantidade muito grande de insulina para metabolizar aquele tanto de açúcar que apareceu de repente. Isso gerou um processamento mais rápido e, consequentemente, uma queda drástica, novamente, dos níveis de glicose no sangue, que o fez ficar hipoglicêmico novamente! Só que, dessa vez, com a tal da indesejada instabilidade das funções vitais.

COMO EVITAR. Para evitar um quadro de hipoglicemia de rebote, Karina recomenda aos seus pacientes que ingiram na refeição pré-prova uma fonte de carboidratos com médio a baixo índice glicêmico, de acordo com a tolerância do corredor, associada a macronutrientes como proteínas, que auxiliam na digestão mais lenta dos carboidratos, não elevando os níveis de glicose sanguínea. "Combinações como pão integral com patê de frango/atum ou frios podem ser uma alternativa a fim de evitar a hipoglicemia. Não se deve consumir açúcares simples, suco de laranja, de uva e melados."
A atenção com a alimentação durante a prova também precisa ser grande, segundo a nutricionista Fúlvia Gomes Hazarabedian, da rede paulista de academias Bio Ritmo. "É preciso administrar a quantidade de carboidratos de forma proporcional à necessidade e gasto. Consumir com a diluição correta de água pode amenizar os sintomas, assim como usar produtos em gel ou em pó diluído em água, que tenham carboidratos de rápida, média e lenta absorção".
As nutricionistas ressaltam que os corredores podem se habituar a manter ao menos duas opções de café da manhã, uma para os dias de treino e outra para as competições. Nos primeiros, o café da manhã deve oferecer energia de boa qualidade com liberação lenta e constante no sangue, enquanto que em dias de prova, os alimentos de rápida digestão devem ser priorizados para que o desempenho não seja prejudicado. Para facilitar, Karina elaborou um cardápio bem básico para essas situações:

CAFÉ DA MANHÃ PRÉ TREINOS
1. Se for consumir 30 minutos antes do exercício:
Mix de frutas (½ banana + ½ mamão + ½ maçã) + aveia + linhaça
2. Se for consumir 1 hora antes do exercício:
Pão integral com peito de peru ou tofu ou ovo mexido
Suco de frutas diluído em água

CAFÉ DA MANHÃ PRÉ PROVAS
Até 2 horas antes da largada
Pão integral com peito de peru ou tofu ou ovo mexido
Suco de fruta natural diluído com água
Banana amassada com aveia e mel

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