A Maratona de Boston tem como característica principal (e maior valor) o envolvimento total dos moradores de toda a região, antes e principalmente durante. Isso é mais do que conhecido e comentado. É o grande atrativo que sempre emociona os participantes, ano após ano, na centenária prova, que teve a edição de número 119 no dia 21 de abril – sempre disputada no Dia do Patriota. Em uma segunda-feira gelada (temperatura média de 5 graus, com sensação térmica ainda mais baixa) e um pouco de chuva, as características deste ano, impressionou a quantidade de gente no percurso.
Eram famílias inteiras — crianças, adolescentes, adultos, idosos… — que estavam ali pelo simples fato de quere apoiar os corredores. Aplaudindo, distribuindo água, isotônico, tocando música (com bandas não na garagem, mas na frente das casas, debaixo d'água) ou simplesmente gritando (muito alto) e empurrando os maratonistas rumo à linha de chegada, na Boylston Street.
E ficaram ali horas e horas, com a mesma animação. Isso sem falar do staff, todo formado por voluntários. Na chegada, medalha colocada no pescoço, o poncho vestido um a um nos corredores, banana entregue aberta e muitos aplausos e congratulações. Sempre com sorriso no rosto. Com isso, ficou mais do que comprovado agora que, se houve um lado positivo do atentado à bomba, foi que a interação da população ficou ainda maior. No ano passado já foi assim e, agora, ficou ainda mais nítido.
HIPOTERMIA.O número de atendimento médicos devido à hipotermia (ao longo de todo o percurso e principalmente na chegada, com o posto de atendimento lotado) mostra como a temperatura foi realmente o principal adversário. Isso foi potencializado pela chuva e pela longa espera na área de largada, como acontece na Maratona de Nova York. São, pelo menos, duas horas aguardando a liberação das baias após o transporte nos ônibus escolares amarelos de Boston para Hopkinton (que leva em média mais uma hora). Como ventava e garoava, o corpo já travou uma "guerra" para ficar aquecido. Ao começar a correr, esse processo acabou potencializado. Dedos dormentes por quilômetros (mesmo com luvas e nos pés) foi mais do que comum. Mas nem isso afastou o público, estipulado na média normal de 500 mil pessoas.
"Foi minha primeira vez em Boston e a prova é realmente única. Passar por todas as cidadezinhas, com os moradores na rua incentivando e ajudando os corredores, faz com que ela tenha um clima todo especial. As bandas ao longo do percurso, tocando música country, remetem a um clima típico americano, muito diferente das tradicionais corridas em metrópoles, como Nova York e Chicago, que já fiz. Apesar do frio intenso e da chuva, consegui manter um bom ritmo em praticamente toda a prova, fechando em 3 horas cravadas e conseguindo um novo recorde pessoal", afirmou José Eduardo Motta Garcia, assinante de São Paulo.
"Uma prova bem organizada, como deve ser uma Major. A corrida passou rapidamente demais, pois estava empolgado e contente pela participação do público mesmo com o clima extremamente adverso. Agora, falando do percurso, considero ‘capicioso', pois quase não há plano, mas mesmo assim considero bom para bater recorde, mesmo com bastante sobe e desce. Chama muito a atenção como a população participa. Outra coisa é que no curral de largada você fica lado a lado de pessoas que têm exatamente o mesmo perfil de você, o que é estimulante", disse Leonardo Cianella, do Rio de Janeiro.
Outro ponto ainda mais intensificado agora em relação ao ano passado foi o forte esquema de segurança. No Boston Common, de onde saem os ônibus, na Vila dos Atletas, no caminho para as baias de ritmo e durante todo o trajeto, incluindo a chegada. Policiais, agentes de segurança, militares e até FBI! Qualquer tipo de bolsa, grande ou pequena, era sempre revistada, mas sempre com educação.
RESULTADOS. Na elite masculina, a vitória foi do etíope Lelisa Desisa, com 2:09:17. O interessante é que Desisa havia vencido a prova há dois anos, quando do atentado à bomba na chegada e, na época, doou a medalha à cidade. Agora, ao cruzar a Finish Line, Desisa gritou "Boston Forte", em uma referência ao slogan "Boston Strong". A vitória do etíope veio com uma arrancada na reta final, já na Boylston Street. Ele desbancou o compatriota Yemane Tsegay por 31 segundos. Completando o pódio, veio o queniano Wilson Chebet.
No feminino, o primeiro lugar foi da queniana Caroline Rotich, com o tempo de 2:24:55, em uma final empolgante. Quarta colocada na edição de 2011, ela arrancou nos últimos 500 metros para superar a etíope Mare Dibaba por apenas 4 segundos. Também da Etiópia, Buzunesh Deba ficou em terceiro, com 2:25:09, à frente da norte-americana Desiree Linden, que marcou 2:25:39 e que liderou boa parte do percurso, numa atitude pouco inteligente, uma vez que o grupo a seguia, no vácuo. Aliás, o mesmo aconteceu com o americano Ritz, que insistiu em correr na frente a partir do meio da prova, e que quebrou nos quilômetros finais.
Veja os resultados completos em www.baa.org.
Manual de Boston
A janela para obtenção dos tempos para a 120ª edição está aberta desde o dia 13 de setembro do ano passado e vai até o início das inscrições, no começo de setembro próximo.
A 120ª edição da Maratona de Boston está marcada para o dia 18 de abril de 2016. A data é sempre "fechada": a terceira segunda-feira do mês, quando se comemora o Dia do Patriota (em 2017, será no dia 17 de abril). O sistema de classificação está mantido para o próximo ano, ou seja, a janela de obtenção dos índices valendo a partir de 13 de setembro de 2014 até o domingo anterior à abertura das inscrições (o calendário oficial ainda não foi divulgado, o que irá ocorrer nas próximas semanas, mas é sempre no começo de setembro).
Com a procura cada vez maior dos brasileiros pelo BQ, o Boston Qualifying, sempre surgem dúvidas. Contam os segundos? Por exemplo: o índice é de 3h25 na faixa etária dos homens de 45-49 anos; se fizer 3:25:01, está valendo? Não! Antigamente, existia o limite dos 59 segundos, mas isso acabou faz alguns anos.
Outro ponto importante: a classificação é feita pela idade no dia da maratona (ou seja, em 2016, no dia 18 de abril). Assim, caso você corra a Maratona do Rio de Janeiro no dia 26 de julho com 39 anos, mas faça aniversário até 17 de abril, seu índice será o de 40-44 anos (ao se inscrever no site de Boston – e em outras maratonas no exterior -, além do campo para colocar a data de aniversário, há um sobre a idade no dia da corrida).
Com o crescimento da procura, porém, ter o índice não assegura mais a participação. Nos últimos quatro anos, em três tivemos "notas de corte". O sistema vai premiando os mais rápidos. A inscrição abre em uma segunda-feira. Nos dois primeiros dias, pode se inscrever quem tem 20 minutos ou mais do índice (em todas as faixas etárias). Depois, na quarta e quinta-feira, quem tem 10 minutos ou mais. Na sexta-feira, quem tem 5 minutos ou mais. Na segunda semana, quem tem o índice. Por duas semanas, em média, o sistema fica aberto.
A organização vai checando os tempos e dados, confirmando por e-mail os aprovados e colocando na lista de inscritos no site. Então, fazem uma conta e determinam se terá ou não a redução do índice (que é a mesma para homens e mulheres em todas as faixas etárias). Se o corte for de 1:08, será tirado esse tempo de todos os BQ. O que era 3h10 fica 3:08:52, o que era 4h25 fica 4:23:52 etc.
QUALQUER MARATONA OFICIAL. Vale qualquer maratona pelo mundo? Sim, desde que seja oficial e reconhecida pela federação/confederação do país. Como comparação, aqui no Brasil, tem de ter a chancela da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Florianópolis, Foz do Iguaçu e Curitiba enquadram-se, pelo menos teoricamente. O que existe é uma lista pré-aprovada no site de Boston (quando você se inscreve, basta clicar na prova). Caso os 42 km que vá correr não estejam nessa relação, você preenche os dados conforme solicitado (site da prova, nome, local, tempo feito, número de peito…) e tudo será checado. A única diferença é que, em caso de correr uma Major ou uma prova pré-aprovada, por exemplo, o tempo de confirmação será mais curto (nas maratonas internacionais, como eles chamam, leva-se mais tempo na análise). Mas não há qualquer vantagem em fazer o tempo em Porto Alegre ou em Nova York!
Outra pergunta comum: vale somente o resultado de uma maratona? Sim. Em muitas provas, até para determinar elite B ou o ponto de largada, as organizadoras aceitam a correlação de tempos em distâncias diferentes, como 21 km ou 10 km. Mas no caso de Boston, apenas 42 km. E em todos os casos, o tempo líquido.
Uma vez inscrito e confirmada a participação, é possível também "melhorar" o BQ. Exemplo: você se inscreveu com 3:39:37. Em novembro seguinte, fez a Maratona de Nova York ou a da Disney em janeiro em 3:37:30. Envia online essa informação e seu tempo será atualizado no sistema. Por que isso é importante? Porque determina o local e horário de largada. Quanto mais rápido, mais na frente você sairá. São quatro ondas, com oito baias em cada uma (foram cerca de 7.500 corredores por onda neste ano). Caso você queira correr com um amigo/esposa/marido, pode "andar" para trás, mas nunca para frente. Está na onda 1 e baia 6; pode ir para a 7 ou para a 3 da onda 2, mas nunca para a baia 5 da onda 1 (nem as primeiras baias de cada onda também).
A inscrição de Boston custa US$ 225 para estrangeiros. Está incluso o kit, jantar de massas (no domingo), festa pós-prova (na segunda à noite) e o transporte para a largada (os ônibus escolares amarelos saem do Boston Common, um parque localizado no centro da cidade, conforme programação passada pela organização e levam os corredores até a vila dos atletas, onde há toda uma infraestrutura montada, com comida, bebida e banheiros. A espera é de mais de 2 horas em média). Exemplo: os ônibus para a onda 1 saem entre 6h15 e 6h45 em média (1 hora de viagem) e a largada é a partir das 10h. E, assim, sucessivamente, com 25 minutos de intervalo entre cada onda.
A Expo (completa e com muitos estandes, de todas as marcas, com destaque para o da Adidas, patrocinadora da prova) ocorre sempre na sexta, sábado e domingo. Reserve um bom dinheiro, mas não deixe para comprar os produtos oficiais no domingo, pois correrá o risco de ficar sem. Acaba mesmo! Nas lojas multimarcas, há sempre ótimas promoções. Reforçando: não há entrega do kit para terceiros. É preciso estar presente, com o "passaporte do corredor" enviado pelos Correios e um documento oficial com foto.
No dia da corrida, a hidratação é a cada milha (1,6 km). A marcação de distância também é em milhas (com cronômetros), tendo tapetes (com o tempo divulgado on line no site e redes sociais, caso queira se cadastrar) e placas a cada 5 km. O percurso é todo em sobe e desce, com pouco plano (veja os detalhes no mapa). A primeira metade é mais rápida. O trecho mais complicado, com três longas subidas, se localiza entre os km 29 e 34. Há gente apoiando o tempo todo – em média, são 500 mil pessoas nas ruas.
Em termos de logística, tão importante quanto fazer o BQ e treinar, é buscar a reserva de hotéis. Os preços sobem (muito) e a procura é enorme (corredores, parentes e amigos) no final de semana da maratona. O ideal é se hospedar em Boston, para aproveitar todo o clima da corrida, com o envolvimento total de todos os setores da sociedade. O sistema de metrô/trem é bem eficiente, então, vale outra dica: ficar próximo de uma estação caso opte por um hotel um pouco mais distante linha de chegada de Boston, localizada na Boylston Street.
Mais informações no site oficial, o www.baa.org, que é bem completo.
Índices para Boston-2106
Tempos válidos a partir de 13 de setembro de 2014
Idade Homens Mulheres
18-34 3:05:00 3:35:00
35-39 3:10:00 3:40:00
40-44 3:15:00 3:45:00
45-49 3:25:00 3:55:00
50-54 3:30:00 4:00:00
55-59 3:40:00 4:10:00
60-64 3:55:00 4:25:00
65-69 4:10:00 4:40:00
70-74 4:25:00 4:55:00
75-79 4:40:00 5:10:00
80 ou + 4:55:00 5:25:00