Vinícius Zimbrão sempre gostou de desafios. Começou a correr aos 13 anos. O desafio era deixar de ser aquela criança gordinha para se tornar um adolescente saudável. Tomou gosto pelas atividades físicas e acabou se formando em Educação Física. Atleta dos bons, fez provas duras em diversas modalidades: maratonas, ironman e corridas de aventura mundo afora.
O carioca Zimbrão corre há 27 anos e nada foi capaz de pará-lo. Nem mesmo o maior desafio que encarou até hoje. Em setembro do ano passado sentiu dores e inchaço nos testículos. Diagnosticado com câncer, Zimbrão não perdeu tempo com lamentações e logo começou a encarar o seu grande desafio.
"A doença estava em estágio médio. Já havia metástase e linfonodos abdominais, mas não era tão grave quanto a do polêmico ciclista Lance Armstrong. Foi tudo muito rápido e confesso que não processei nem dei muita importância; nunca pensei que morreria disso. Descobri o câncer no dia 29 de setembro com meu urologista e fui operado dois dias depois. A agilidade e a dedicação do meu médico fizeram toda a diferença. Minha mãe só ficou sabendo depois da cirurgia", conta o atleta e também treinador.
DESAFIO LANÇADO. Zimbrão reconhece que teve momentos duros e difíceis por causa dos efeitos da quimioterapia, mas nada que o fizesse pensar em desistir. Segundo ele, já havia passado por coisas piores nas corridas de aventura. Em vez de se recolher e enfrentar o tratamento sozinho, Zimbrão resolveu envolver amigos e também muitos desconhecidos. Estava lançado o ‘Desafio do Zimbrão'.
"No primeiro dia da quimioterapia, quando estava recebendo os medicamentos na veia, sabia que teria que ficar por pelo menos 4 horas lá, todos os dias! Então pensei que 30 a 60 minutos de treino não são nada quando estamos saudáveis! A referência temporal muda muito, quando não temos opção, senão lutar pela vida! Foi aí que descobri que podia mostrar isso para as pessoas para valorizarem o tempo de sua saúde. Pedi então a amigos que treinassem por mim; se alguém acordasse sem disposição, que treinasse por mim", lembra o atleta.
As manifestações vieram de todas as partes. Além dos registros de treinos nas redes sociais, Zimbrão ficou surpreso com as manifestações de carinho e solidariedade que chegavam de todos os lados. Isso, segundo ele, gerou um comprometimento de solidariedade e retribuição que pretende carregar para o resto da vida.
EXERCÍCIOS LEVES. Embora tivesse autorização do oncologista Daniel Hochenrorf para treinar durante o tratamento, Zimbrão não tinha forças para realizar a carga a que estava acostumado antes do diagnóstico da doença. Fazia apenas alguns exercícios para calibrar os vasos sanguíneos dos braços e dava algumas pedaladas numa bicicleta ergométrica. Zimbrão não queria deixar de fazer aquilo que certamente tornou este desafio um pouco menos sofrido.
"Meus pulmões, vasos e coração são muito mais resistentes! Minha autoestima e disposição me ajudaram durante nos dias de baixa. E minha referência de disciplina, sofrimento, dor e rotina gerados pelos treinamentos facilitaram a aceitação ao tratamento. Não sinto que tenha uma dívida de gratidão com o esporte, mas uma certeza de que fazer atividade física minimiza todos os problemas relacionados à saúde".
Curado e de volta aos treinos, Vinícius Zimbrão já atingiu cerca de 60% do volume de treinos de corrida e 80% do volume de ciclismo a que estava acostumado. Nos planos, algumas provas ainda no primeiro semestre. As mais longas terão de esperar um pouco mais.
"Não me programei para o primeiro semestre, mas pretendo fazer alguma corrida de montanha e uma de mountain-bike em abril ou maio. Quero sentir a adrenalina de novo. No segundo semestre volto pra valer. A amiga Manuela Vilaseca me desafiou a correr com ela uma prova de 160 km, pois treinávamos juntos antes do tratamento. Mas confesso que as muito longas terão de esperar um pouco mais."