Notícias Tomaz Lourenço 7 de abril de 2021 (0) (298)

ÚLTIMA EDIÇÃO! O editorial de despedida da Contra-Relógio

Em outubro de 1993 (ao longo do texto há a capa dessa primeira edição) surgia a Contra-Relógio, com o objetivo de transformar as provas no país, do caos que reinava, em algo organizado. Igualmente havia o intuito de valorizar os corredores e, de certa forma, defender seus interesses. Depois de uma ação que durou vários anos, as duas metas foram alcançadas, com as corridas aos poucos melhorando na organização e os participantes sendo respeitados. Hoje, quem entra em um evento de corrida no Brasil nem imagina como era a realidade há 3 décadas, sendo um bom exemplo a nossa principal corrida, a São Silvestre, que não oferecia banheiro algum (isso mesmo!) aos então 5 mil participantes. Na foto, o editor e esposa na entrega de kits da SS de 2012.

Sobre essa atuação da CR, os mais experientes já conhecem e reconhecem, ficando consagrada a expressão “As corridas no Brasil se dividem entre antes e depois da Contra-Relógio”. Um pouco dessa história de quase 28 anos pode ser vista nas páginas seguintes, assim como depoimentos de assinante, colaboradores, organizadores e anunciantes.

Agora vamos falar das razões para estarmos terminando essa maratona, que como tal nos trouxe muitas alegrias e naturalmente exigiu muito esforço e dedicação, mas que valeram a pena!

A revista se viabilizou com assinaturas, venda avulsa em bancas e publicidade durante todos esses anos, que é o tripé básico das publicações. Assim foi até 2015/16, quando se iniciou uma queda nessas três fontes principais de renda, em decorrência notadamente do surgimento dos meios digitais, um fenômeno mundial, em prejuízo da mídia impressa.

Se não bastasse essa realidade, constatam-se, no nosso segmento especificamente, outras duas forças contrárias para as revistas especializadas, como bem sentiram as que apareceram depois de 10 anos da CR e que foram desaparecendo, mesmo atuando quando as corridas já tinham mudado de patamar, em função da ação da Contra-Relógio, com muitas e boas provas e corredores de melhor renda.

Por um lado, equipes de treinadores bem estruturadas, como vemos hoje, eram raríssimas e apenas em algumas metrópoles. Com a nova fase das corridas no Brasil, elas proliferaram, e seus associados recebem plena atenção, com orientações técnicas, dicas para viagem, inscrições etc. Com isso, a necessidade de recorrer a uma revista para se informar fica sem grande importância.

A outra razão está absolutamente relacionada à primeira. Com a melhora das provas, que a revista ajudou a acontecer e sobre isso não temos a menor dúvida, mudou o perfil dos participantes, não mais tão interessados em performance, mas sim em saúde, estética, convivência e lazer. Este novo corredor não tem, obviamente, motivos para acessar uma publicação que poderia ser resumida ao slogan “Leia para correr melhor e mais rápido”. Ele não quer uma coisa nem outra, mas sim aquelas outras motivações.

Aparentemente seria uma contradição alguém buscar um treinador, se não tem grandes metas atléticas, mas na prática é isso que acontece, pelo conjunto oferecido pelas equipes de corrida, que, aliás, são um fenômeno bem brasileiro, na medida em que lá fora elas não são tão populares e/ou não oferecem os serviços aqui disponíveis.

TOMBO NAS BANCAS. Em relação às vendas em bancas e livrarias, elas nunca foram importantes para a CR, já que nossa base sempre foram os assinantes. Por isso mesmo, acompanhávamos com certo desinteresse os resultados alcançados nessa área, e mesmo com alerta da secretária Helenice, de que a distribuidora não estava cumprindo com os prazos de pagamento, fomos em frente. Até que chegou a 12 meses esse atraso e resolvemos suspender a entrega em bancas, passando a exigir o que tínhamos direito. Mas aí já era tarde, porque a empresa pediu falência, o que no Brasil é um instrumento muito eficaz para deixar de pagar os credores. Tínhamos então para receber algo hoje em torno de R$ 50 mil, o que nunca mais veremos!

Agora vamos à publicidade, que foi também afetada, especialmente devido à preferência pelos meios digitais, o que vale para os nossos dois principais anunciantes, ou seja, as corridas e os tênis. Aliás, nesta edição, agradecemos imensamente a participação da Olympikus e da Skechers, marcas que estiveram presentes em inúmeras edições, divulgando seus excelentes modelos, sempre com preços justos para os corredores brasileiros. Assim como a Velocità, presença constante nos últimos anos, da mesma forma que nos primeiros da CR, com o nome Sport Now.

E então chegou a pandemia, para complicar ainda mais toda essa realidade adversa, que enfrentamos nos últimos anos. Para não deixar de publicar a revista, optamos por torná-la bimestral, a partir de abril/maio do ano passado, o que minimizou um pouco o prejuízo, e que significava jogar mais para frente o problema. Também fomos solidários com os organizadores e até com as marcas de tênis, oferecendo publicidade gratuita nas últimas edições, na espera de que as coisas melhorassem, mas o que se viu foi a piora, em função principalmente da incompetência do desgoverno federal que temos atualmente.

Quando fechamos a última edição, em meados de janeiro, a pandemia não tinha dado sinais de que iria se agravar ainda mais, e até achávamos que a normalidade poderia voltar em alguns meses, a ponto de terminarmos o editorial, dizendo acreditar que talvez pudéssemos sair mensalmente a partir deste mês. Mas o que se viu a seguir foi o agravamento da situação, por culpa da irresponsabilidade do desequilibrado que está na presidência do país.

Dessa forma, sem perspectivas a curto prazo para o nosso esporte, que foi um dos mais prejudicados, não nos restou outra opção a não ser encerrar esta publicação, mas desde já torcendo para que em breve tudo volte ao normal e nos encontremos nas provas, correndo lado a lado.

MUITO OBRIGADO. Agradeço imensamente aos assinantes, que foram a base de sustentação deste projeto ousado, mas que deu certo em seus propósitos, por isso mesmo motivo de imensa alegria para mim e família. A Contra-Relógio mudou minha vida e deu muito mais razão para que eu a tocasse firme nestes quase 28 anos.

Também foi fundamental a centena de colaboradores que teve a CR, sendo impossível citar todos neste espaço, mas que podem ser identificados nos depoimentos dos atuais e outros de grande atuação recente. Destaque para o fotógrafo Tião Moreira, companheiro inseparável antes mesmo do lançamento da revista, para a secretária Helenice Lima, que por 23 anos resolveu todos os problemas, para Sérgio Rocha, que trouxe alegria e tecnologia para a CR entrar em uma nova fase, que se manteve até agora. Também para o editor assistente André Savazoni e o de arte, Sandro Mantovani, que me ajudaram nos últimos anos, até esta edição especial, em que mantivemos o Guia do Tênis, uma tradição da revista e o de maior credibilidade entre os corredores.

O mesmo vale para os anunciantes, sem os quais a Contra-Relógio não teria sobrevivido por todo esse período, aliás, um dos mais longevos entre as revistas de corrida no mundo, que ainda se mantêm.

Por último, porém da maior importância, agradeço a minha esposa Cecília, companheira efetiva, afetiva e aguerrida há 50 anos, mais da metade deles passados ao lado da Contra-Relógio, a par de seu trabalho docente na universidade. Igualmente a minhas filhas Naia e Lia, e respectivos Tiago e Tadeu, assim como os netos Enzo e Gael, que acompanharam de perto toda esta história.

O site da CR continuará informando os corredores e será lá que os assinantes poderão acompanhar as novidades. Os que tiverem alguma observação, reclamação, dúvida, ou quiserem se expressar em relação ao fim da Contra-Relógio, favor mandar email para contato@novosite.contrarelogio.com.br, que serão prontamente atendidos por este editor e pela secretária Helenice.

Feliz pelo dever cumprido, agradeço a todos pelos melhores anos de minha vida e que voltemos à normalidade o mais breve possível.

Tomaz Lourenço – editor

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