Desde algum tempo tinha vontade de conhecer o extremo sul de nosso continente, a Patagônia, também chamado de "fim do mundo". A oportunidade de realizar este desejo surgiu quando, com um grupo de amigos, tomamos conhecimento de uma das corridas realizadas por lá e ao ver as fotos no site www.patagonianinternationalmarathon.com/pt decidimos que deveríamos participar.
No último dia 27 de setembro estivemos num grupo de 19 corredores fazendo uma das 4 distâncias, juntamente com outros aproximadamente mil inscritos. Assim como nós, a maioria participou da categoria meia-maratona.
Optamos por viajar à noite, saindo de São Paulo às 20h30 e chegando em Punta Arenas às 5h30, com escala e troca de voo em Santiago. Cada trecho da viagem leva aproximadamente 3,5 horas (SP-Santiago e Santiago-Punta Arenas).
A cidade mais próxima da prova é Puerto Natales, que dista 240 km de Punta Arenas. Existem várias empresas de ônibus que fazem este trajeto, mas nós optamos por alugar carros para nossa locomoção e o trajeto pode ser feito em 2h40. A base da economia de Puerto Natales é o turismo e come-se e bebe-se bem. Apesar do Chile ser famoso pelos seus vinhedos, por lá existem mais opções e variedades de cerveja que de vinho.
A prova é realizada dentro do Parque Torres del Paine, localizado a 140 km da cidade de Puerto Natales e sua altitude é ao nível do mar. O parque abriga o maciço Paine, um conjunto de montanhas distintas, sempre cobertas de neve: Cuernos del Paine, Torres del Paine, Paine Grande e Cerro Fortaleza, algumas com mais de 3.000 metros de altura. Apesar da sua vegetação baixa e que lembra mais um deserto, o parque abriga também água sob todas as formas (lagos, vertentes, cascatas, glaciares) e você pode percorrê-lo através de "treckings" de todos os tipos. Existe uma estrada de terra principal, que sai do Lago Grey e termina próximo à base dos picos das torres e esta estrada é o percurso da prova. Em cada extremo está localizado um hotel: Lago Grey (saída dos 63 km) e Torres del Paine (chegada de todas as provas). A ultramaratona larga no Lago Grey, a maratona ao lado da Ponte Weber e a meia e os 10 km na própria estrada.

KIT E PROVA. A retirada do kit pode ser feita no dia anterior, no centro de Puerto Natales, próximo de todos hotéis da cidade, em um local que também vende artesanato. O kit é fraco: chip e camiseta de manga curta, mas de tecido um pouco mais grosso do que estamos acostumados no Brasil. Pouco para os 150 dólares cobrados pela inscrição. Um dos itens mais comprados pelos atletas no local é um lenço com logotipos da corrida, que pode ser usado como bandana.
O traslado de ida e volta pode ser feito por ônibus colocados à disposição pela organização a um custo de 20 dólares. É bom saber que, talvez devido à distância da cidade até à prova, trabalha-se com muita margem de segurança quanto ao tempo. Assim a maratona larga às 10h, mas o ônibus para a largada sai às 5h30 de Puerto Natales.
A organização deixa a desejar: faltou lugar nos ônibus reservados para a largada dos 10 km; no percurso da maratona havia apenas 2 postos de hidratação; a prova de 10 km na realidade teve 12,6 km; o controle na largada dos 21 km era manual (apesar do chip), formando-se uma fila enorme e para não atrasar abandonou-se o controle e considerou-se que todos que chegaram partiram da largada no mesmo tempo. Afinal de contas, só havia controle do tempo na chegada.
Apesar desta falta de organização, a prova compensa pelo espírito de aventura. Sem contar o tempo meteorológico. Corremos com sol, mas com a temperatura por volta dos 5ºC. E, na Patagônia, parece que existe um ventilador permanentemente ligado, trazendo os ventos gelados do Polo Sul. Assim você corre toda a prova com luvas, gorro, agasalho. Na chegada a compensação de ter corrido por um dos lugares mais belos do mundo e poder saborear um churrasco "magallanico". O Hotel Torres del Paine disponibiliza duchas, possui um bom restaurante, com vários tipos de cervejas e lanches, apesar dos preços altos em todos os hotéis situados dentro do parque.

PASSEIOS. Nos dias seguintes à prova pode-se aproveitar os vários passeios oferecidos na região. A organização da prova realiza gratuitamente no domingo um "trecking" sem custo, que é uma caminhada até o Mirador Torres del Paine, como forma de confraternização de todos os atletas. Esta caminhada parte às 9h e dura entre 6 e 7 horas, sendo que cada participante deve levar seu próprio alimento e bebidas.
Existem vários outras trilhas que podem ser percorridas e existem refúgios para se passar a noite em sacos de dormir ou barracas. Outros passeios imperdíveis são a navegação de 3 horas pelo Lago Grey até o glaciar de mesmo nome, ou a navegação até os glaciares Balmaceda e Serrano, que parte de Puerto Natales às 7h30 e retorna por volta das 17h.
Já em Punta Arenas há muito pouco para ser ver nesta época do ano. A estação de esqui já fechou pela escassez de neve, os pinguins ainda estão no mar e as "pinguineiras" estão vazias. Os passeios tipo cruzeiros levam mais de um dia, existe uma zona franca na cidade que vende de tudo, desde automóveis até quinquilharias.
De qualquer modo, você volta para o Brasil já fazendo planos de voltar a correr por lá.

José Carlos Jorge de Moraes é assinante de São Paulo, capital.