Blog do Corredor Notícias André Savazoni 16 de julho de 2012 (10) (108)

Diário de aventura: K21 Ilha do Mel, uma viagem no tempo

Vamos partir de um princípio básico, a participação no K21 Ilha do Mel não resume-se somente ao dia da prova. Para a maioria, a aventura começa na véspera ou antevéspera, depende da sua disponibilidade de tempo. Ao chegar no arquipélago, a sensação é de uma viagem no tempo. As facilidades tecnológicas são deixadas de lado. Não há nem iluminação nas ruas, percorridas somente a pé ou de bicicleta. Por essas características, é uma corrida única. Mas a corrida em si também não fica atrás, tem dificuldade para todos os gostos.

Minha aventura começou na madrugada de sábado, saindo de casa às 5h em direção ao Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Chegada em Curitiba às 9h, quando o Marcos Tavares da Silva, o Tomate, da MTS Performance Assessoria Esportiva me esperava, com sua família. De carro, partimos em direção à Pontal do Sul. Descida pela Serra da Graciosa, vendo o percurso da Subida da Graciosa, que ocorre em outubro. De carro, já fiquei cansado. E olhe que estava descendo… mas fiquei com uma vontade de voltar para a corrida…

Cerca de 2h30 até Pontal do Sul. Carro estacionado e travessia para a Ilha do Mel em uma pequena lancha, de seis lugares, que estava fazendo o traslado para a organização do K21. Uns 40 minutos de mar, algumas ondas, e uma visão geral, do arquipélago, que foi crescendo aos poucos… Desembarque em Brasília, uma das duas comunidades do local (a outra é Encantadas). A partir desse momento, você vai tendo o contato direto com a natureza e as características próprias da Ilha.

Não há iluminação pública nas ruas, que são percorridas a pé ou bicicleta. Outro meio de transporte? O barco. Celular e internet, pegam muito mal. Em alguns pontos, há sinal. Mas fraco. Fiz o básico: desliguei o meu. E me desliguei do mundo. Qualquer coisa, minha família tinha o telefone da pousada. Ah, em dias de vento forte, como ontem, pouca coisa funciona. Cai tudo. Por sinal, um parênteses aqui. No sábado, estava uma temperatura agradável na Ilha, mar calmo, maré baixa, noite estrelada… porém, na madrugada, tudo começou a mudar: frio, vento bem forte, muitas nuvens, nada de sol, garoa e frio!.

Alimentação, basicamente, peixes frescos e frutos do mar. Não sou um fã de peixes, mas estavam bons demais. Lanterna é um equipamento fundamental, principalmente para as caminhadas noturnas (a não ser que queira ficar dentro do quarto ou guiar-se pelas sensações no breu total). Devido à escuridão da noite, o céu parece um tapete de estrelas. Animais há diversos. Golfinhos, peixes, aves, pinguins… Vi até coelho. Sem contar aranhas. Uma enorme resolveu passear pelo no teto do meu quarto, às 6h do domingo. Nunca acordei tão rápido e tão esperto para uma prova!

Fogos de artifícios são proibidos (palmeirenses e corintianos iriam sofrer…), assim como animais domésticos e plantas exóticas. Além disso, como é uma reserva natural e há um limite de 5 mil visitantes diários, a experiência é única. Tudo fica muito vazio. Mesmo em final de semana de Festival da Tainha. Junte-se, então, uma prova desafiante, de 21 km (21.300 m para ser mais exato). Esse foi o cenário.

A prova passou por diversas praias da Ilha do Mel e pelos caminhos usados para deslocamento. Tudo praticamente plano. Apesar do vento forte contra e frio, dava para imprimir um bom ritmo. Mas quando houve subidas e descidas, foram de tirar o fôlego. A começar pela trilha íngreme para a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, toda feita com pedras. No alto do morro, pedras e canhões voltados ao litoral. Fiquei pensando no esforço e vidas perdidas para montar essa estrutura…

Outro ponto de destaque (e muito esforço) foi a subida para o Farol das Conchas. Uma longa escadaria em pedra. Para completar, no último morro, havia uma trecho em aclive tão inclinado que, para subir, só com o auxílio de uma corda instalada pela organização… era segurar e não olhar para baixo… Um vaievem no costão, com o mar batendo, completaram o perfil.

Costão esse que me causou o quarto tombo do ano, uma canela toda cortada e um pouco de sangue escorrendo (como dá para ver na foto). O pior é que levantei e, ao voltar a correr, percebi que meu óculos tinha caído. Voltei para buscá-lo. Esse finalzinho me custou o sub 2h que queria (além dos 21.300 m, claro). Fechei a prova em 2:00:17. Corri bem forte nos trechos planos, mesclei caminhada e trote nas subidas, porém, nas descidas em trilhas, fui bem devagarzinho. Não me arrisco não!

A média geral do K21 foi muito boa. A prova é perigosa, até mais do que outras de montanha pelas características do local, então, acredito que a presença de socorristas caminhando pelo percurso (como ocorre no K42 Bombinhas) seria um benefício. O vaievem na subida da Fortaleza e no costão, ficaram um pouco tumultuados pelo movimento. O pessoal subindo mais lentamente e outros descendo a “milhão”. E, no costão, a mesma coisa com o tráfego contrário. Melhorias que podem ser pensadas para 2013 caso o K21 do Paraná permaneça na Ilha do Mel.

Houve três pontos de controle, onde foram entregues pulseiras para os corredores. Acredito que usar aqueles elásticos de cabelo ou as pulseiras que batem e ficam no braço, seriam melhores alternativas. As entregues, daquelas com um encaixe para fechar, complicaram um pouco. Eu coloquei as minhas no bolso e fechei o zíper, mas há sempre o risco de caírem…

Hidratação com água praticamente a cada três quilômetros e um ponto de isotônico em saquinho foram perfeitos. O kit veio com camiseta, dois GU, sacolinha e um porta-número (os alfinetes foram abolidos, o que gerou reclamação de alguns, mas a justificativa foi o lado ecológico da Ilha). E como a aventura não terminava na prova, o retorno para casa ainda teve 40 minutos de barco com o mar bem mexido, com muito sobe e desce, numa verdadeira montanha-russa marinha. Um pneu esvaziado, estrada e muito frio até Curitiba. Esse foi o diário de mais uma aventura. Que venha a próxima. Em montanhas, será o K42 Bombinhas.

Fotos: Bombinhas Runners

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10 Comments on “Diário de aventura: K21 Ilha do Mel, uma viagem no tempo

  1. Massa!!! Eu quero!! …assim, igual criança mesmo!!

  2. Belo relato. Parece ser uma prova sensacional.

  3. Prezado André!

    Parabéns pela coragem e pelo interessantíssimo relato da prova, você esta virando um “Indiana Jones” das corrida de montanha, um verdadeiro Caçador de Aventuras, deve até começar usar um chapéu como eu, risos!!!

    Corrida de Montanha é assim, caiu, “levanta, sacode a poeira e da a volta por cima”, você mais uma vez voou nessa prova, pois fazer em 2:00:17 nesse tipo de prova trail não é para qualquer um, creio que nem sem a câmera faria esse tempo, pelo menos no meu atual condicionamento.

    Estava superansioso em ver o seu artigo e mais ansioso ainda em participar dessa prova, vontade que aumentava ainda mais quando via pela internet as belíssimas fofos contendo cenas paradisíacas do lugar, inclusive tinha falado para minha esposa que iria para rodoviária do Tietê na sexta à noite por volta das 23 horas para chegar em Curitiba entre 6 e 7 horas para dali tomar um ônibus para o Pontal do Sul, mas como ainda estava me recuperando da Maratona do Rio que fiz no domingo retrasado e tinha visto a previsão metereológica da Ilha do Mel para o dia da prova que não era nada animadora, com ventos frios e chuva, acabei desistindo, o que pesou nessa decisão foi saber que nossa imunidade depois de uma maratona fica bem abaixo no normal, preferi não arriscar e me fortalecer para as próximas grande batalhas entre elas o K42 de Bombinhas.

    Um grande abraço!!!

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    E a previsão acertou em cheio, Pinguim. Frio e chuva, além de vento forte. Por sinal, havia alguns parentes seus, pinguins, mortos na praia. Acho que de frio! Fez bem em cuidar do corpo em São Paulo.

    Abraço
    André

  4. Belo relato André !!! Mas a corda do Morro do Sabão está lá a muitos anos o novo nesse morro foi a trilha que vc caiu, essa foi inventada para dificultar a vida dos corredores (adorei).. Volte para a subida da Graciosa, vc vai gostar !!!

  5. Muito bom e fiel a descrição da prova. Foi tudo isso que realmente teve. Por ter a experiência das provas de 12km do Circuito Paranaense de Corridas em Montanha da Naventura dos anos anteriores, eu não tive sequer um “ralado”, muito menos tombo. Conseguir um 8º lugar geral e Campeão na categoria, troféu que recebi de suas mãos. Por sinal, foi um prazer conhecê-lo. um grande abraço.

  6. André, muito bom o relato!
    Parabéns pela participação e por ter feito com esse tempo! Fiz em mais de 3h…
    Por conta de ter me recuperado de uma gripe recentemente, sabia que meu tempo de corrida seria ruim. Como já estava me sentindo bem treinado sem dificuldades semana passada, resolvi arriscar… e cheguei exausto no final! rs fazendo uma média dos prós e contras (incluindo nos contras a minha dificuldade), valeu a pena ter ido! Belas paisagens, apesar do frio!

    Minhas reclamações quanto a corrida: subida e descida da Fortaleza serem no mesmo trajeto. Aquele trecho de pedras/paralelepípedos (começo da subida) é muito estreito, e enquanto eu corria em ritmo lento para subir, outros desciam com tudo. Teve um cara que tentou ultrapassar outro na descida e esbarrou em mim, por pouco não caí com tudo embaixo, me mantive em pé… mas perdi o fôlego totalmente e tive que fazer a subida andando (o que me custou muito tempo).
    Em 2013 terão que rever isso, não sei se há outro caminho para separarem a subida da descida. Na pior das hipóteses, orientar que aquele trecho seria sem ultrapassagens (só fila indiana mesmo) e deixar um fiscal lá.

    Adorei os trechos com pedras, as trilhas, subidas/descidas! Espero que a K21 Ilha do Mel tenha em 2013 novamente, se possível com menos “vai-e-vens” e repetições de trechos.
    Minhas reclamações ficam com a subida/descida da Fortaleza e também com as pulseiras (seria mais prático elástico de cabelo também).

    Gostei do porta-número, mas acabei rasgando 3 furos! Perdi tempo parando para “improvisar” furos extras no número…

    Abraço!

  7. A adrenalina até voltou!!! Parabéns pelo artigo!! Fiz a k21 e foi minha primeira de várias provas de aventura com certeza!! Abraço. Shibata.

  8. Muito legal André, e parabéns pelo super tempo, sem mimimi, rs. Já estou esperando pelo Cr no Ar e pelo artigo na CR.
    Abraços!
    Alex

  9. Fala André…

    Foi muito legal mesmo, percurso que misturou muita rapidez e muita técnica… mas ano que vem tem que ser sem tombos pra fechar sub 2h.. rsrsrs

    Abraço

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    Valeu Danilo, mas os tombos estão fazendo parte das provas, rs. Caí até nos 10 km no asfalto novinho outro dia (se bem que me derrubaram, não fui eu).

    Abraço
    André

  10. Fala André, acredito que sua ótima performance foi devido a está aranha! Você correu rápido para fugir dela!

    Um abraço e bons treinos.

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    Nem lembra da aranha que perco o sono… ainda bem que foi no dia em que já voltava para casa, ou não ia mais dormir kkkkk

    Abraço
    André

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