Iniciamos esta nova série de postagens sobre treinadores de corrida e suas novas rotinas junto aos seus orientandos, trazendo para inaugurá-la um técnico experiente e conceituado no Rio de Janeiro, além de corredor sério e competitivo, com inúmeras maratonas e meias (e grandes resultados) no Brasil e exterior em seu currículo. É Marcio Puga, assinante da CR desde sempre, que nos mandou seu relato, a seguir.
“A partir de 15/03, minha médica, aluna, amiga e atleta, Alessandra Siqueira, me disse: ´não saia mais de casa, não receba ninguém´; eu havia estado na pracinha com meu filho Alexandre e meu neto Rafael, 4 anos. Meus dois filhos são professores de Educação Física. Alexandre dá aulas de jiu jítsu e Denis trabalha comigo na Equipe Puga. Na mesma semana, com o aparecimento das primeiras aulas (lives), nos sentamos e resolvemos o que fazer. Mandei emails para os alunos da equipe, suspendendo planilhas; os treinos da Adidas Runner’s, da Comunidade EP, também suspensas.
Aí fizemos uma rotina de 7 aulas semanais de 2ª à sábado de aulas de educativos de corridas, aeróbicos, funcional, mobilidade, força e yoga. E participei de lives com treinadores, nutricionistas, médicos, fisioterapeutas, psicólogos, sobre o momento e o que fazer. Nós abraçamos o ´Fique em Casa´.
E eu? Como sempre digo, corredor de longa distância tem de ter cabeça, tem de dominar a mente. Então, meu problema inicial foi não poder ver netos, mas com o tempo, aceitei. A única atividade física que faço é correr. Em março, eu estava me preparando para a meia-maratona de Viena, 19/04, e outras meias do Rio. Estava correndo cerca de 80 km por semana.
Iniciei então as corridas no corredor do apartamento em que moro, 20 metros. Ida e volta, 40. Portanto, 1 km com cerca de 52 voltas… Foi muito difícil no início, esbarrava nas paredes, 1m/1m10 de largura. Mas fui e fui…
Montei a rotina, eu e minha mulher, Isabella: acordar (cedo), atualizar zap e e-mails, com o tempo abandonei as notícias, pois só coisa ruim e política; TV nunca gostei. Aula na live, corrida no corredor, iniciei um pouco de malhação, almoço, soninho, leitura, séries e filmes, leitura, boa noite.
Com o tempo fui me adaptando a correr no corredor e cheguei a fazer 15 km, totalizando 71 km em uma das semanas.O ruim eram as preocupações diárias se netos e filhos estavam bem; nessas horas o tempo não passa.
Alguns alunos insistiram em ir para a rua ou não deixaram de ir para a rua correr. Praticamente, diariamente entrava em contato com eles pelo grupo de zap. Alguns, em particular, estavam sofrendo, depressão… aí era muita conversa. Eu sou bom nisso. Com 69 anos, 47 de carreira, sei lidar com as pessoas, com meus problemas, aprendi muito na vida. E toda essa minha nova experiência de correr em casa, não esmorecer, era uma forma de incentivo para alunos e amigos. Em contra partida, recebi também muito apoio deles, muito carinho, muita generosidade, que serei eternamente grato.
Com 15 dias, uma aluna disse: ‘Não estou aguentando mais!’ (mal sabia ela…). Eu disse: ‘Não estou aguentando’ não tem no dicionário atual.
Minha médica me liberou para correr na rua, de máscara, dia 09/06. Segundo ela, pela minha sanidade… mas, se tivesse que ficar mais um tempo, ficaria.
E, voltando, vendo, ouvindo e participando de lives com médicos, abraçamos a causa do correr só com máscara. E passei isso aos alunos e nas lives que continuo a fazer. E peço, para aluno que não for com máscara, por favor não usar a camisa da equipe. É ruim correr de máscara? Não. É MUITO RUIM. Mas é uma forma de nos protegermos e protegermos o próximo. Mas, reconheço que correndo de máscara, somos minoria.
Só nos resta aguardar. Para mim, poder receber meus filhos e abraçar meus netos. Abraços”
Marcio Puga, do Rio de Janeiro