Érica Rocha de Sena, a maior marchadora da história do País, não mora no Brasil. Mesmo assim, tem enfrentado medidas restritivas severas desde março em Cuenca, cidade em que vive no Equador, por causa da pandemia da COVID-19. Trancada em casa, treina em esteira e sobrevive da esperança de que tudo volte ao normal em breve.
“Estamos esperando as decisões do governo para o abrandamento da quarentena. Nenhuma novidade até agora. Estão sendo momentos difíceis dentro de casa. Adaptamos alguns treinos, mas é complicado treinar só em esteira”, disse a atleta sete vezes campeã brasileira e ganhadora das medalhas de prata (Toronto-2015) e de bronze (Lima-2019) nos Jogos Pan-Americanos na prova dos 20 km.
Treinar em casa para atletas que precisam “rodar” mais de 20 km por dia, como é o caso de Érica, não deixa de ser estressante. “Estou acostumada com a rotina ao ar livre, é difícil ficar na esteira por quase 2 horas vendo a parede”, afirmou.
A marchadora pernambucana, nascida em 3 de maio de 1985, em Camaragibe, acabou de completar 35 anos e está qualificada para os Jogos de Tóquio, com a marca de 1:27:35, obtida em La Coruña, Espanha, em junho de 2019. Com a experiência, procura controlar a ansiedade. “Ainda não temos nenhuma competição programada. Quero muito que tudo volte ao normal, que possa treinar. Está bem complicado, mas estou tentando ser positiva.”
Quarta colocada nos Mundiais de Atletismo de Londres-2017 e de Doha-2019 e sétimo lugar nos Jogos Rio-2016, a atleta ocupa posição de destaque entre as estrelas internacionais da modalidade. Fato inédito no Brasil na especialidade.
Érica participou recentemente de uma live pelo instagram da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), quando contou detalhes do início de sua carreira e falou de suas metas. “Hoje, o meu objetivo é brigar por uma medalha nos Jogos de Tóquio em 2021”, afirmou a medalha de bronze no Mundial de Marcha Atlética de Roma-2016.
A marchadora, casada com o equatoriano Andrés Chocho, seu treinador, lembra de suas boas atuações em Mundiais, como a estreia em sexto lugar em Pequim-2015 e, principalmente, das duas quartas colocações seguintes.
“Em Londres foi uma das melhores provas, clima bom e foi bem rápida. Em Doha, o clima atrapalhou muito, mas a principal diferença foi que eu me senti muito mais perto da medalha, mas fica de aprendizado para as próximas competições”, afirmou Érica.
Os bons resultados, segundo a atleta, começaram a surgir depois de sua mudança de atitude nos treinamentos e nas competições. “Brinquei muito de ser atleta. Lembro que eu treinava um dia, faltava outro, não terminava o que tinha sido proposto e isso refletia nas provas”, disse. “Depois disso, dediquei 100% ao que fazia e tudo melhorou”, completou a recordista brasileira dos 20 km, com a marca de 1:26:59, obtida em Londres-2017.
Foto: Érica Sena treina em casa, em Cuenca, Equador (Foto: Wagner Carmo/CBAt)