Para os leitores da Contra-Relógio, o Desafio de 2014 será correr a maratona em busca do recorde pessoal. O meu será ajudá-los a conseguir atingir esse objetivo. Enfrentar a jornada que é treinar para os 42 km, especialmente em busca de tempo, é algo desafiador. Independentemente da maneira como se encara a prova: seja como "mito", "desafio", "desejo" ou até um "certo desprezo" (por alguns), acredito que uma boa preparação faça toda a diferença para enfrentar os 42,195 km, sejam eles mágicos, amaldiçoados, abençoados ou somente 42,195 km.
Na verdade, penso que é justamente o treinamento, ou a falta dele, que faz a distância assustar tanto. Pessoalmente, acredito que seja um desafio, tanto físico como mental, pois mais do que enfrentar a prova é preciso passar pela preparação; é nela que vamos encontrar o prazer de encarar as longas distâncias, ou vamos odiar. Digo aos meus alunos que a maratona não é a prova em si (e quem já treinou para ela vai concordar comigo), porque envolve todo o período de treinamento, o caminho percorrido até o grande dia.
Caminho que consiste em muita dedicação: enfrentar a pista para os intervalados, encarar sol e chuva nos longos, abdicar dos finais de semana em função dos "longões", cuidar da alimentação, brigar com a cabeça nos últimos quilômetros de uma sessão de 34 km (e pensando que na maratona teremos "só" mais 8 km), é enfrentar dores que muitas vezes nem imaginávamos que poderíamos ter… Mas garanto que o caminho todo vale o sacrifício. Saímos mais fortes, descobrimos que o nosso corpo pode ir além do que imaginamos e que a nossa mente muitas vezes nos prega peças.
ALGUMA EXPERIÊNCIA. Mas vamos sair um pouco dessa "filosofia de maratona" e entrar na parte do treinamento. As planilhas que trago aos leitores da CR foram desenvolvidas pensando em corredores que já tenham alguma experiência em competições de rua. Particularmente, penso em pelo menos dois anos, antes de encarar uma maratona, com algumas provas de 10 e 16 km no currículo e ao menos uma meia-maratona. Quando falo nesse tempo de experiência, penso principalmente que o corredor necessite de um autoconhecimento significativo para encarar o desafio de uma maratona. Conhecer o seu corpo e cabeça, ter passado por etapas de treinamento para disputas menores, obtido sucesso e aprendido com os tropeços. Por se tratar de uma carga e volume maiores de quilometragem semanal e até diária, isso acaba levando o organismo a um nível de exigência alto, causando um desconforto muito grande para os mais novatos.
Além disso, a maioria dos corredores tem o seu trabalho, vida familiar e social, portanto, sem disponibilidade de treinar 6 ou 7 vezes na semana. Com isso, as sessões precisam ser de qualidade, muitas vezes abrindo mão de uma quantidade maior (que também poderia ser utilizada). Dessa forma, conseguimos utilizar melhor o tempo disponível para os treinos, reduzindo a quilometragem semanal e inclusive a possibilidade de lesões, muitas
vezes relacionadas à sobrecarga e ao volume exagerado de rodagem.
Tendo como base um tempo recente numa meia-maratona ou até numa prova de 10 km, as planilhas estão organizadas de acordo com as metas a serem batidas, e servem tanto para aqueles que vão estrear na distância como para os que pretendem baixar seus tempos nos 42 km. Juntamente com as planilhas estão os comentários sobre a execução de cada um dos diferentes tipos de treino e algumas dicas e cuidados que devem ser levados em conta durante a preparação. São pequenos detalhes que, somados, fazem diferença e trazem benefícios aos corredores na parte de desempenho e da saúde.
METODOLOGIA. A planilha para a maratona está elaborada com três treinos semanais de qualidade e mais algum outro complementar. Cada indivíduo tem suas preferências e necessidades, portanto, recomendo alguma atividade extra durante o período de preparação (musculação, pilates, funcional, pedalar, etc.). Acredito que este tipo de treinamento alternativo possa servir para melhorar os aspectos mais carentes do corredor.
São 13 semanas, mas isso depende muito do histórico de cada um, do período de base e de competições prévias. Para os que estão vindo de um bom período de base, costumo elaborar planilhas de 13 semanas. Já para aqueles que já estão em um ritmo competitivo, é possível diminuir para 10 semanas. Mas no caso de o período de base ter sido esquecido, recomendo pelo menos 4 semanas de adaptação aos ritmos e tipos de treinos, mas com um volume menor, aumentando gradativamente para chegar no início da planilha para a maratona com um volume aproximado ao que vai enfrentar, e já habituados aos ritmos propostos.
SEIS TIPOS DE TREINO. Acredito na variabilidade da preparação, visando trabalhar uma gama maior de condicionantes e permitindo uma quebra da monotonia. Por essa razão, os treinos consistem nos seguintes tipos:
1) Treinos de ritmo (RT): Por se tratar de uma planilha com três sessões semanais, é um dos mais importantes. Trabalha muito próximo do ritmo de competição e por isso normalmente indico que seja feito em local plano ou em pista. Para a maratona, são realizados em ritmo mais rápido do que o previsto para a prova (se aproxima muito dos 10 km). Acredito que este treinamento auxilie muito na manutenção da velocidade dos corredores. Não se surpreenda se durante essa fase, que visa à maratona, você bater seu recorde nos 10 km.
Treinos Longos (LO) e em Ritmo de Maratona (RM): São de fundamental importância para os maratonistas, tanto na parte fisiológica, em que o corredor vai ter as adaptações necessárias, quanto nos aspectos psicológicos de en
frentar sessões de mais de 2 horas. Aprender a dosar o ritmo e trabalhar mentalmente para que o nosso cérebro não nos faça desistir, quando enfrentamos algumas adversidades. São esses treinos que servirão de base para trabalhar nosso ritmo de prova e testar tudo que for relacionado à corrida: alimentação, hidratação, calçado, roupa, etc. Nunca teste algo novo no dia da maratona. Os longos estão divididos em dois tipos:
2) Longo (LO): Os ritmos propostos servirão para dar ao corredor uma resistência tanto física quanto mental, para enfrentar a distância e o tempo de uma maratona. São um pouco mais confortáveis do que o ritmo durante a prova em si.
3) Ritmo de Maratona (RM): Os treinos longos em ritmo de maratona servem, além dos fatores trabalhados nos treinos longos, para dar ao corredor o conhecimento necessário do ritmo que irá utilizar na prova. São sessões mais curtas que os longos, mas no ritmo em que se pretende correr os 42,195 km.
4) Fartlek (FT): O termo, traduzido do sueco como "jogo de velocidade", consiste na combinação de diversos tipos de corrida: fácil, aclive, rápidas, declives, ritmadas, sem um compromisso rígido, inclusive variando diferentes tipos de superfícies. O fato de não haver uma rigidez nas distâncias, intervalos ou ritmos não significa que seja fácil; o corredor deve estar atento para que o treino não perca algumas características, como a parte da velocidade (em alguns momentos) e das variações nos ritmos e terrenos. Deve-se chegar ao final de um Fartlek can
sado pela exigência do trabalho realizado, mas com a sensação de que poderia correr mais um pouco.
5) Intervalados (IN): Por ser extremamente eficaz no ganho de condicionamento dos corredores, ele tem um papel importantíssimo nessa periodização. É um treino duro, mas que traz excelentes benefícios, desde que sejam observadas e respeitadas as características e estruturas. Ele consiste em tiros com distâncias e ritmos pré-determinados, e com um intervalo de recuperação (descanso) entre eles. Cada sessão de intervalados terá o número de repetições determinado, com o tempo a ser feito em cada distância e o tempo de recuperação entre cada "tiro". Antes de cada sessão de treinamento intervalado, sugiro um aquecimento de cerca de 2 km, podendo até ser maior em dias mais frios. A musculatura deve estar muito bem preparada para o esforço que será exigido. Um trote também é recomendado ao final da série, para "soltar" a musculatura.
6) Treino Leve (LE)/alternativo: Uma das opções durante a semana é um trote em ritmo confortável, algo entre 10 e 12 km. Além disso, como citei anteriormente, é o momento de fazer um treinamento que vá aperfeiçoar o corredor em algum fator que ele normalmente negligencia: alongamento, musculação, etc. Optar por dois dias de treinamento alternativo também é interessante, para aqueles que tiverem disponibilidade de tempo.
Quem tiver alguma dúvida, o e-mail de contato é claitonlenz@yahoo.com.br.