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Releitura Redação 15 de outubro de 2019 (0) (572)

Teste de esforço deve ser máximo

Notícias do corpo – Luiz Carlos de Moraes – JULHO 2008

O teste ergométrico, exame conhecido pela maioria dos corredores, tem por objetivo submeter o corredor, ou qualquer pessoa, a um estresse físico programado e personalizado a fim de avaliar a resposta cardíaca, na tentativa de prever desde uma simples desordem cardíaca até um problema mais grave que só se manifesta com o esforço acentuado.

O teste deve ser personalizado e máximo exatamente porque ninguém tem o mesmo condicionamento físico. Máximo significa dizer ultrapassar os valores normais de cada um e o que pretende fazer. Sendo assim, um sedentário irá seguir um protocolo que no máximo o faça correr lentamente enquanto um corredor de elite deverá no final do teste estar correndo muito acima do seu melhor em competições. Essa é a diferença.

O teste ergométrico para quem vai fazer atividade física não pode ser igual para todos como normalmente acontece seguindo um protocolo calcado em percentual extraído da fórmula 220 – idade, que está ultrapassada.

Durante anos a fio, entre tantas equações, a mais difundida no meio dos profissionais de saúde e principalmente os de Educação Física, é a 220 – idade. Eis o problema. Não há questionamento simplesmente porque ela é recomendada até em livros de fisiologia e alguns sites na Internet, sem nenhum controle sério, como se todos nós fossemos iguais.

 

Erro grande na 220 – idade

Qualquer equação pode apresentar um erro estimativo, entretanto, de 2 a 5 batimentos pode ser desprezível para ser validada. A 220 – idade, segundo estudos recentes, apresenta um erro de 11 batimentos para mais ou para menos e nunca foi estabelecida uma amostra com um número considerável de pessoas. Claro, se estamos usando-a num teste importante como o ergométrico ou na prescrição de um exercício contínuo visando seja lá qual for, no mínimo estaremos subestimando a capacidade do indivíduo. Pior se, ao contrário, estivermos expondo-o a um risco desnecessário.

Basicamente são conhecidos dois tipos de ergômetros: a bicicleta ergométrica e a esteira rolante. Vários estudiosos criaram ao longo dos anos protocolos adequados a cada tipo de pessoa a ser avaliada. Todos começam com exercício de baixa intensidade e progressivamente vai-se aumentando o esforço até um limite teórico estabelecido.

O ergômetro mais comum e mais fidedigno, segundo a maioria dos fisiologistas, é a esteira rolante porque nela o indivíduo movimenta maior massa muscular, usa um tipo de exercício mais comum à população (andar, correr) e atinge-se com mais facilidade uma freqüência cardíaca máxima desejada. Na bicicleta ergométrica, com exceção dos ciclistas, há uma grande facilidade de fadiga precoce do quadríceps (músculos da coxa), sem que o testado tenha atingido a freqüência cardíaca alvo e tampouco o volume máximo de oxigênio. Ou seja, a avaliação fica incompleta. O corredor deve ser avaliado na esteira sempre, e o ciclista na bicicleta porque são as atividades esportivas que irão praticar.

De um modo geral, em qualquer protocolo escolhido a maioria dos avaliadores limita o teste a 85% da freqüência cardíaca máxima extraída da tal fórmula 220 – idade. Cooper, entre outros médicos, afirma que testes com essa limitação ou submáximos deixam de detectar até 39% das desordens cardíacas reveladas somente numa avaliação máxima de esforço.

Na opinião dele, com a qual concordo plenamente, todas as pessoas, independente do nível de condicionamento, deveriam ser incentivadas ao teste máximo, e não apenas os atletas. Cooper nos seus relatórios revela que em mais de 70 mil testes de desempenho máximo nunca teve um caso de morte em teste de esforço, que acaba sendo o receio de médicos que aplicam o teste.

Cá entre nós. O que adianta as pessoas serem avaliadas com certas limitações teóricas se no dia-a-dia, nas atividades funcionais vivenciam-se situações de máximo esforço cardíaco ou elevação rápida de freqüência cardíaca, ao subir uma escada, correr para pegar o ônibus etc. E para os corredores, mesmo amadores, chegadas fortes são comuns, gerando situações que precisam ser avaliadas antes. Portanto, o teste de esforço deve ser adequado à atividade pretendida.

O teste revela informações úteis e confiáveis ao médico, tais como isquemia do músculo miocárdio, arritmias cardíacas, distúrbios que só se manifestam quando o coração é submetido a um esforço maior. É com esses dados em mãos que o treinador pode prescrever com segurança o treinamento certo para o corredor, no que se refere a intensidade. Ou seja, quantos minutos por quilômetro em cada treino, seja fartlek, intervalado, longão ou competição. Serve também, caso haja alguma alteração, ao médico saber que medidas terapêuticas tomar.

 

Só eletrocardiograma não basta

No exame periódico anual não basta fazer um simples eletrocardiograma e achar que está tudo bem porque esse tipo de exame checa a pessoa em repouso. É diferente do ergométrico que avalia o desempenho cardíaco simulando a caminhada, corrida fraca, moderada ou forte.

Para ficar completo e o corredor poder treinar mais uma temporada tranqüila é bom também fazer um ecocardiograma, exame que fornece informações importantes sobre a estrutura do coração, tais como: tamanho das câmaras e músculo cardíaco, eficiência das válvulas etc. Atualmente esse exame tornou-se mais importante por causa dos vários casos de morte súbita no esporte, principalmente no futebol, que é uma atividade física intensa, mas o corredor também faz treinos fortes, tais como os intervalados.

Não é raro exames de eletrocardiograma e de esforço apresentarem resultados normais e o ecocardiograma detectar uma anomalia em desenvolvimento inicial e tratável a tempo ou uma hipertrofia das paredes do coração que possa de alguma forma causar problemas quando o corredor estiver participando de uma prova mais exigente.

 

Ergoespirometria: para poucos

Existe ainda um exame mais sofisticado indicado especialmente para atletas de alto nível, que é o ergoespirometria. Ele avalia as mesmas respostas do teste ergométrico mais a troca de gases. É um exame caro, não acessível a todo mundo, mas quem compete visando apenas a saúde não precisa fazer.

A prescrição mais atualizada de exercícios deve ser calcada em Freqüência Cardíaca Máxima atingida nesses testes ergométricos e não a teórica de 220 – idade que vem sendo bastante questionada em vários artigos científicos. Essa fórmula pode até ser usada na falta de outros dados fisiológicos mais confiáveis.

Pessoalmente entendo que até a escala de esforço subjetivo (Escala de Borg) é melhor que a fórmula e tenho razões para concluir isso. No meu caso, com 58 anos, pela fórmula a minha freqüência cardíaca máxima seria 162. Se for treinar entre 60 e 80% da FCmax ficaria entre 97 e 129 bpm. Simplesmente ridículo, pois pela escala de Borg corro de modo confortável usando o monitor cardíaco a 170 bpm e no intervalado e nas competições chego a 182.

Avaliar é preciso, mas também é preciso saber o que avaliar, o que fazer com os resultados e reavaliar com os mesmos critérios anteriores para fazer comparações.

 

Para não correr perigo

1) Procure fazer avaliações físicas e médicas pelo menos uma vez ao ano.

2) Se você corre, faça teste na esteira. Na bicicleta é para ciclista.

3) Antes de fazer o teste de esforço converse com o médico sobre o protocolo que ele irá usar, certificando-se que a freqüência cardíaca máxima a ser atingida não será limitada pela fórmula 220 – Idade. O ideal é que o médico permita você pedir para interromper quando não agüentar mais a intensidade.

4) Se você treina duro fazendo intervalados fortes e compete visando melhorar cada vez mais o seu melhor tempo pessoal, mesmo não sendo atleta de elite, peça para incluir nos exames o ecocardiograma.

5) Complete os exames fazendo os laboratoriais e o de sangue completo.

6) Faça testes físicos de campo.

7) De vez em quando verifique a pressão arterial, principalmente se tiver histórico familiar de hipertensão, que é uma doença “silenciosa”. Apesar da corrida ser ótima na prevenção, não é garantia absoluta contra a doença.

8) Converse com seu treinador (se tiver) para elaborar um plano de treinamento com evolução gradativa baseado nos resultados dos exames.

9) Adquira o hábito de anotar os tempos de competições e o que você sentiu, porque não deixa de ser um teste.

10) Use sempre o bom senso, procurando ouvir o corpo. Correr forte é preciso para evoluir, mas respeite os limites do corpo.

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