Performance e Saúde admin 10 de março de 2015 (0) (78)

Correr para emagrecer: conheça as variáveis

Perder peso é o resultado de uma equação aparentemente simples: some todas as calorias que uma pessoa consome e subtraia todas as calorias que ela gasta. Se o resultado final for positivo, a pessoa ganha peso; se for negativo, perde. A realidade, no entanto, não é tão simples assim. O exercício é uma importante ferramenta para aumentar o gasto calórico ao longo do dia, e assim conseguir inverter a equação de calorias consumidas x gastas para valores negativos com mais facilidade, pois com um gasto total maior fica mais fácil (e menos sofrido!) criar o déficit calórico necessário para a perda de peso. No entanto, muitas vezes o exercício pode não apresentar os efeitos desejados, em parte pela chamada supercompensação alimentar: gasta-se mais energia, mas come-se mais também, e um acaba por anular o outro.
Pensando nisso, uma nova corrente de pensamento surgiu na fisiologia do exercício: ao invés de focar somente no balanço calórico, no total de calorias gastas com uma sessão de treino, se quantifica de que forma estas calorias são gastas: se através da queima de gorduras ou de carboidratos. Parte da teoria por trás disso é que estimulando o organismo a consumir mais gorduras do que carboidratos pode trazer uma série de vantagens: do ponto de vista atlético, queimar gorduras é benéfico, pois preserva os estoques de glicogênio do organismo (glicogênio é a forma como o corpo estoca carboidratos), que possuem uma relação direta com a sensação subjetiva de esforço ao longo de uma prova longa.
Do ponto de vista de redução de massa corporal, não depletar o glicogênio parece diminuir a necessidade de comer após a atividade, o que contribui para reduzir este efeito de "supercompensação" mencionado acima. Além disso, ao ser "ensinado" a preferir lipídios durante o exercício, o organismo ainda promove um aumento prolongado de queima proporcional de gordura nas 24 horas após uma sessão de exercício, como combustível para produzir a energia gasta durante o repouso. Este fenômeno, por sua vez, é um preditor da perda de peso durante programas de emagrecimento.

GORDURA OU CARBOIDRATO? Descobrir se o organismo está utilizando gorduras ou carboidratos como fonte de combustível durante o exercício é uma tarefa relativamente simples com a tecnologia atual. Através da análise do ar expirado durante o exercício é possível saber qual o combustível utilizado pelo organismo, pois cada substrato utiliza uma quantidade "x" de oxigênio e produz uma quantidade "y" de gás carbônico.
Surgiu assim o conceito de FatMAX, a intensidade em que a queima de gordura é máxima (gráfico). A FatMAX é influenciada pelo grau de treinamento, sendo que indivíduos treinados aumentam sua capacidade de queima de gordura durante o exercício. No entanto, a intensidade relativa em que este ponto ocorre (ver gráfico), parece não mudar, sendo em torno de 50% do consumo máximo de oxigênio (VO2max) ou 60% de frequência cardíaca máxima, ou ainda entre 9 e 12 na escala de percepção de esforço de Borg, na qual 6 representa nenhum esforço e 20 representa esforço máximo.
No entanto, a utilização da FatMAX como ferramenta de prescrição de intensidade de treinos ainda está engatinhando. O método é promissor e representa um passo adiante no sentido de se entender por que as respostas da regulação de peso corporal frente a um programa de exercícios variam tanto de pessoa para pessoa. Um estudo de 2012 publicado por um grupo australiano, por exemplo, avaliou a questão da intensidade de treinos com a supercompensação calórica de uma maneira interessante: dois grupos de meninos, um composto por garotos com sobrepeso, realizaram duas sessões de treino seguidas por um café da manhã tipo "bufê livre".
Uma das sessões consistia de 30 minutos pedalando em intensidade de FatMAX, e na outra foram incluídos sprints máximos de 4 segundos a cada 2 minutos dentro da mesma sessão de 30 minutos. O estudo constatou que a adição de pequenos sprints dentro de uma série feita em intensidade de FatMAX aumentou o gasto calórico dentro da série, apesar de este aumento ter vindo da queima adicional de carboidratos, e não de gordura. No entanto, a ingesta calórica feita após a sessão de treino foi a mesma, independente da sessão de treino, de forma que o déficit calórico foi maior na sessão com os sprints.
Seja da maneira que for, a variabilidade de respostas frente a dietas e exercício ainda é muito grande e, apesar de a conta de calorias consumidas x gastas ser simples, chegar nos valores de cada lado da equação é que é difícil. Se perder peso (ou ganhar, para alguns) ainda é um dos seus objetivos principais com a corrida, vale a pena pensar em "como" você está correndo, em que zonas de metabolismo seu treino está sendo feito, e como está sendo a alimentação pré e pós-treino. Pequenas mudanças nestes fatores podem trazer o resultado esperado!

 

Os fat-burners
Diversos suplementos são comercializados com a promessa de acelerar a queima de gordura pelo organismo: são os chamados "fat-burners". A lista inclui cafeína, taurina, L-carnitina, fucoxantina, crômio, chá verde, entre muitos outros. A efetividade da maioria deles, no entanto, é questionável.
A cafeína, por exemplo, parece ter efeitos mensuráveis apenas em exercício de baixa intensidade. O uso da L-carnitina parece ainda menos recomendado: uma recente revisão apontou que a argumentação da L-carnitina para perda de peso não somente é infundada como também teoricamente impossível. O uso de suplementos à base de crômio não apenas é ineficaz como estudos em células isoladas apontam que o acúmulo de crômio pode levar a danos nos cromossomos.
De todos os listados, o chá verde ainda é o que mais promete em termos de resultados, porém a maioria dos estudos já realizados até hoje utilizou modelos animais, e não há dados seguros sobre dosagem, efeitos e contraindicações para humanos. De concreto: reduzir a ingesta calórica e aumentar as atividades físicas, sem atalhos, é o caminho para se perder peso.

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