21 de setembro de 2024

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Sem categoria admin 10 de março de 2015 (0) (137)

81 brasileiros completam a Comrades

A mais famosa ultramaratona do mundo, a Comrades, na África do Sul, contou novamente com grande participação de brasileiros, como vem acontecendo desde que a CR passou a dar uma cobertura especial ao evento, há 6 anos, com a reportagem feita por seu editor Tomaz Lourenço, que dela participou em 2007, para comemorar seus 60 anos, e repetiu a dose no ano seguinte. A ultra, que não atraía normalmente nem 10 corredores do país, passou a contar com quase 100 anualmente.
A cada ano o percurso se inverte. Em 2014, a prova começará no alto (em Pietermaritzburg), seguindo para o litoral (Durban), totalizando 89 km. Apesar de ser "em descida", não há grande diferença na dificuldade de completar a Comrades, cujo trajeto é quase nada plano, mas as subidas e descidas são predominantemente suaves. Daí a diferença de apenas 2 km entre cada sentido, e inclusive os tempos dos campeões não costumam sem muito diferentes a cada ano. O editor da CR completou pela primeira vez em 10h54 e, no ano seguinte, "em subida", fechou em 10h12, mas estava melhor preparado (e magro…).
Este ano, no dia 2 de junho, completaram 81 brasileiros, e apenas 7 não conseguiram, dentro do tempo-limite de 12 horas, por desistência ou corte no percurso de 87 km, desde Durban até Pietermaritzburg. A saída é às 5h30, ainda no escuro e com um pouco de frio (em torno de 10 graus, normalmente) e os corredores seguem por estrada, sempre asfaltada, com muita gente animada pelo trajeto, estimulando os atletas. No final a temperatura costuma chegar a no máximo 25 graus. Portanto, o clima não é um obstáculo, apesar de este ano ter sido bem mais quente e úmido que o normal, acarretando muitas quebras.
Adriano Bastos, que venceu a Maratona Disney oito vezes e algumas maratonas e outras provas no Brasil, foi para a Comrades esperando ficar entre os primeiros, mas acabou sentindo dores e cãibras no percurso, se esforçou para ir até o final e acabou completando em 6h52, na 95ª classificação geral. Lindenberg Nunes, também vitorioso em muitas maratonas e hoje na casa dos 50 anos, foi o segundo do país, com o tempo de 7h34. A primeira brasileira, Zilma Rodrigues, marcou 9h37.

VITÓRIA SUL-AFRICANA E RUSSA. O campeão foi um sul-africano, Claude Moshiyma, o que não acontecia há 21 anos. Ele fechou a ultra em 5h32. No feminino, mais uma vez as gêmeas russas Elena e Olesya Murgalieva fizeram dobradinha, desta vez completando em 6h27 e 6h28. Claude correu pela 13ª vez a Comrades, enquanto Elena pela 11ª e Olesya pela 9ª vez.
Ao todo terminaram a 88ª Comrades um total de 10.186 homens e 2.013 mulheres. Os inscritos chegaram a 18 mil, mas muita gente não aparece por razões diversas (não conseguiu treinar como queria, razões financeiras, de saúde, etc.). Calcula-se que em torno de 15 mil pessoas tenham largado, quase todos sul-africanos; os estrangeiros são absoluta minoria, não chegando a mil. No caso dos brasileiros, 88 iniciaram a prova e 12, embora com inscrição, não largaram. Portanto, o total de inscritos do país chegou a 100 corredores.
Um destaque da prova são os que já fizeram 10 ou mais Comrades e que ganham o número verde (green number), pertencente ao corredor para sempre, recebendo um tratamento especial. Entre os brasileiros, apenas Nato Amaral, de São Paulo, conseguiu a honraria, mas vários outros estão a caminho, como se pode ver na listagem dos resultados do evento.
Qualquer pessoa com 20 anos ou mais pode participar. Não há restrições em termos de performance, mas se solicita a informação sobre marca alcançada em uma maratona recente, para se organizar as baias na largada, sem qualquer comprovação. O site para inscrições e para muito mais informações é www.comrades.com . Até o fechamento desta edição, a data da Comrades 2014 ainda não estava definida, mas é sempre no final de maio / começo de junho. Não há necessidade de grande antecipação nas inscrições ou de ficar atento ao período em que estão abertas, como acontece com maratonas mais procuradas, como Berlim, Paris e Nova York.

 

O treinamento do editor da CR
Para os que pensam em um dia correr a Comrades, faço um relato de como foi meu treinamento, durante cinco meses. Antes, comento que a ideia de participar da ultramaratona sul-africana foi, além de comemorar meus 60 anos, também para verificar a dificuldade dessa empreitada e poder passar informações aos leitores. Já tinha ouvido falar da prova, das suas dificuldades, dos cortes por tempo no caminho e do seu famoso tempo-limite – de 12 horas – que, se ultrapassado, não dá direito à medalha.
Na verdade, quando a prova fechava a chegada com 11 horas, como aconteceu até meados da década passada, muitos eram barrados, pelo percurso ou no final e, efetivamente, havia uma grande apreensão sobre a possibilidade ou não de se conseguir a famosa (e pequena) medalha, igual todo ano, só mudando a data. Mas com 12 horas, a exigência é bem menor, já que o ritmo médio pode ser de 8 min/km. Além disso, uma prova em que mais de 10 mil terminam anualmente não poderia ser um grande bicho-papão, mesmo sabendo que na África do Sul existe a cultura das provas longas, com dezenas de maratonas e ultras pelo país.
Sabendo que o mais importante para me sair bem na Comrades seria ganhar resistência, defini meu treinamento com base em musculação e rodagem, sempre em ritmo confortável, desde o começo de janeiro até final de maio. Apesar de estar acostumado a correr praticamente todo dia e já tendo no currículo mais de 30 maratonas, optei por ganhar força na academia e assim me poupar um pouco do desgaste da corrida, principalmente porque convivia (e convivo) com uma hérnia de disco.

ACADEMIA E RODAGEM. Assim, às segundas, quartas e sextas, fazia musculação (braços, pernas, abdominais) por 1 hora e depois encarava meia hora de esteira em ritmo progressivo. Era o meu "treino de qualidade". Começava com velocidade de 10 km/h (6 min/km) e fechava a 12 km/h (5 min/km).
Às terças e quintas trotava inicialmente 1h30 e ia aumentado de 10 a 15 minutos por semana. Dessa forma, comecei rodando 1h30 na terça e 1h45 na quinta e lá pelo final do treinamento fazia 3h30 na terça e 4h na quinta, geralmente. Aos sábados, descanso total para no domingo correr os longos. Mas sempre em ritmo confortável e com quilometragem crescente, mas de forma bem paulatina. Os longos começaram com 2 horas e cada semana aumentavam em 15 a 20 minutos. No último mês, aconteceram cinco longões, de 5h, 5h30, 6h, 7h e 8h, em semanas sequenciais.
Apesar de parecer algo meio assustador, o fato de ter feito tudo aos poucos tornou esses treinos absolutamente nada muito desgastantes, sendo que no mês final mantive o mesmo trabalho na academia, assim como deixei fixa a quilometragem de terça e quinta, de forma que apenas aos domingos aumentava a rodagem.
Os únicos treinos de qualidade que fiz foram nas maratonas de Floripa e Porto Alegre, que corri com sobra, sendo que na primeira consegui meu até hoje único split negativo, ao completar a segunda metade mais rápido que a primeira, fechando em 3h50. Na semana seguinte ao longão de 8 horas, reduzi a rodagem e a academia em 50% e na semana da prova, apenas dois trotes de 1h30.
Apesar de toda essa preparação, que me levou a imaginar que completaria a Comrades em torno de 10 horas, acabei quebrando no terço final da primeira que fiz, o que me obrigou a caminhar por quilômetros, para fechar em 10h54. Na seguinte, em subida, estava mais magro e melhor preparado, mas mesmo assim enfrentei cãibras por volta do km 60, que me impediram de correr por longos trechos, até que decidi fazer uma boa massagem (de pé), com os atendentes passando gelo em minhas coxas e que funcionou. Voltei a correr e muito bem, para completar em 10h12, a prova mais marcante de minha vida.

Brasileiros na Comrades 2013
Inscritos – 100
Largaram – 88
Completaram – 81

 

40 Comrades seguidas!
Nato Amaral, que completou este ano 11 Comrades, desta vez com muito calor e umidade, postou no Facebook a seguinte notícia:
Alan Robb é uma das lendas da Comrades. Detentor de 4 vitórias (sendo a primeira delas aos 22 anos) e dono de uma quebra de recorde (na época, em 5h29), neste ano, aos 59 anos de idade, ele completou a sua 40ª Comrades consecutiva. Na atualidade, Alan Robb é um dos pouquíssimos candidatos a conseguir a marca de ser o primeiro ser humano (se é que dá para chamar assim) a completar 50 Comrades (há poucos atletas com mais de 40 Comrades na ativa, sendo um deles com 45 medalhas).
Com relação à corrida deste ano, que todos são unânimes em dizer que foi cruel, Alan deu o seguinte depoimento: "Foi a prova mais difícil que eu já fiz em toda a minha vida, não apenas as Comrades, mas qualquer prova".
Portanto, depois de ler isso e também o emocionante relato do Adriano Bastos, só tenho uma coisa a dizer a todos os brasileiros que completaram a Comrades 2013: vocês são sobreviventes! Parabéns!

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