Sabe o ditado popular "Sonhar não custa nada"? Pois há sonhos que quase são "taxados". Estamos falando de provas em que a inscrição é tão cara que só de imaginar corrê-las, a sensação é de estar pagando algo. Você pode correr em desertos por 4 mil dólares, além das passagens aéreas. Ou enfrentar temperaturas abaixo de zero, vento, frio e o risco de hiportemia por 10.500 euros na Antártica – valor que daria para comprar um carro zero-quilômetro com tranquilidade ou correr praticamente as seis principais maratonas do mundo. E nesse custo não está incluso o voo até o extremo sul do planeta. A maioria dessas provas do grupo das "mais caras do mundo" são de ultramaratonas, porém, há corridas no asfalto também bem "salgadas" e outras em que a inscrição não é tão difícil de pagar, porém a viagem torna-se o obstáculo maior.
Para 2013, as inscrições da Antartica Ice Marathon Race (www.icemarathon.com) já foram preenchidas. Em 2014, a prova será entre os dias 19 e 23 de novembro (o clima influencia). O valor da inscrição é de 10.500 euros, que inclui voos a partir de Punta Arenas, no Chile, para a Antártica, alojamento e refeições, inscrição, camisetas, medalhas e fotos. Pode-se correr/caminhar 42 km ou 100 km. O brasileiro Bernardo Fonseca já venceu tanto a maratona quanto a ultra no gelo. Mas há facilidade no pagamento: você pode dividir em três vezes (no ato, até 31 de dezembro de 2013 e até 30 de junho de 2014) no cartão de crédito (o importante é ter um cartão com esse limite…). Se pagar à vista, conforme informações no site, há um desconto de 10%.
O ultramaratonista Fábio Rodrigo Machado, de Brasília, fez uma lista com algumas das provas mais caras da atualidade, a maioria, no exterior. Entre elas, a 4Deserts (www.4deserts.com), que tem etapas no Deserto do Atacama (Chile), Gobi March (China), Sahara Race (Egito) e The Last Desert (Antártica). O valor médio da inscrição para cada uma delas é de US$ 3.600. "Tem ainda a Sables, no Marrocos (www.marathondessablesbrasil.com.br), cuja distância total fica entre 230 e 250 km, sendo o maior desafio correr/caminhar no deserto por dias seguidos. O valor da inscrição é de 2.850 euros", diz Machado.
Anderson Dutra Cerceau, do Rio de Janeiro, fez a Sahara Race, que integra o desafio dos quatro desertos. Mas tem as outras em mente. "Paguei 3.500 dólares para correr no Egito. O que normalmente está incluído: hotel na chegada e na saída, com refeições e um jantar legal de premiação, tendas durante os dias de competição (normalmente sete dias), água racionada basicamente para beber, água quente para comida em alguns casos. Na Sables, não tem água quente, a organização fornece o gás e você tem de se virar com um fogareiro. Há equipe médica, muitos veículos de apoio e segurança armada, transporte até o local da prova, pontos de check-in, a cada 10 km mais ou menos água e médicos e uma bela latrina fedorenta, mas bem melhor do que um banheiro químico", explica.
Cerceau prepara-se agora para fazer a Ultra do Grand Canyon (http://g2gultra.com/), de 167 milhas (238 km), com inscrição a 3.200 dólares, de 22 a 28 de setembro deste ano. "Nessa prova, eles oferecem ainda, além de tudo o que citei, o eletrolítico e o transfer de Las Vegas para o deserto (200 milhas). Ou seja, é bem carinho, mas a infraestrutura é impressionante", afirma. Segundo o ultramaratonista, em alguns lugares, há tendas com internet, mas o valor é pago à parte.
Outra que integra o grupo das "mais caras" e difíceis do mundo é a Badwater (www.badwater.com), que tem o lema de "The challenge of the champions" (O desafio dos campeões). São 135 milhas (217 km), do Vale da Morte até o Monte Whitney, na Califórnia. Os atletas começam a correr na menor elevação do Hemisfério Ocidental (85 m abaixo do nível do mar), enquanto a chegada ocorre numa altitude de 2.530 m. O percurso corta três cadeias de montanhas num total de 3.962 m de ascensão vertical com 1.433 m de descida. "Você pode pegar calor de até 60°C e baixa umidade. A inscrição custa 995 dólares, porém, como é necessário ter uma equipe de apoio, esses custos são elevados substancialmente. Estima-se que o valor total chegue a R$ 25 mil", afirma Machado.
AQUI TAMBÉM – No Brasil, duas das provas que podem ser citadas também nessa lista são a BR-135 (www.brazil135.com.br) e a Jungle Marathon (www.junglemarathon.com). "Na BR-135, na Serra da Mantiqueira (SP-MG), com distância de 217 km entre trilhas e estradas de terra, os desafios são a altimetria, o calor e a umidade. O valor da inscrição é de aproximadamente R$ 1.100,00 para o solo (varia em função da ordem de inscrição, que gerará o número de peito). Há ainda revezamento. Como é necessário ter uma equipe de apoio, os gastos aumentam bastante. O total é de mais ou menos R$ 5 mil, contando a inscrição", diz Machado.
Já a Jungle Marathon, na Floresta Amazônica, tem distâncias de 42 km, 120 km ou 242 km, em selva fechada. O valor para participar da prova, internacional, é de 500 euros. Entre os desafios, correr carregando os próprios mantimentos. Englobam-se, ainda, além do custo da inscrição, todos os valores para chegar até o local da corrida.
VIAGENS CARAS – Fora essas provas mais longas, a maioria de ultras, também podemos incluir no grupo das mais caras outras nem tanto pelo valor da inscrição, mas pelos custos gerais. Por exemplo, a Maratona da Ilha de Páscoa, que terá mais uma etapa no dia 2 de junho, tem inscrição a 400 dólares ("barato" em relação às corridas citadas acima), mas o valor fica muito mais caro devido à viagem. "Paguei e achei muito cara. Tanto que precisei de dois meses para tomar coragem e me inscrever. Corri a meia-maratona na Ilha de Páscoa em 2009. O valor era também de 400 dólares. Foi uma prova extremamente rústica e sequer tinha chip, staff ou isotônico. Fiz as contas, com conversão do dólar para R$ 2,00, e o quilômetro da prova custou R$ 38,10 (sem incluir a viagem). Mas ainda assim, valeu a pena correr no meio dos Moais", afirmou Nathália Ritto.
Outro exemplo é a Maratona de Dubai, realizada em janeiro. A inscrição da prova custa 120 dólares, mas a passagem aérea e o hotel, principalmente, saem bem caros. Não menos do que R$ 5 mil por pessoa (sem incluir a alimentação e os passeios). O mesmo vale para a Maratona de Londres, uma das integrantes das Majors. Como a inscrição é difícil, você só consegue por meio de agências de turismo oficiais, com o pacote fechado, o que também a deixa bem cara. Na Disney, os desafios do Pateta e o recém-lançado do Dunga, também têm inscrições "salgadas". Para o Pateta, varia entre 340 e 400 dólares e para o Dunga, de 495 a 555. Como há muitas reservas de agências, as vagas acabam rapidamente e os valores passam a ficar ligados aos pacotes de viagem.
Dentro da linha off-road, outra com inscrições caras é a Patagônia Run (www.patagoriarun.com), realizada este ano em abril, na Argentina, com distâncias que variam de 10 a 100 km. O valor de participação é de até R$ 660. Essa prova está no grupo do turismo esportivo e vem sendo um sucesso entre os brasileiros. A tradicional Spatathlon, de Atenas a Esparta, na Grécia, com 246 km, é considerada a "ultra das ultras", no asfalto. "Essa considero extremamente barata, se levarmos em conta que no valor de 400 euros da inscrição está incluso o apoio, a hospedagem e toda a alimentação", completa Machado.