Notícias admin 10 de março de 2015 (0) (113)

Uma Major versão Oriente

Quando Tóquio foi oficialmente anunciada como a sexta Major, em novembro do ano passado, na Maratona de Nova York, uma prova que parecia um pouco distante para muitos corredores passou a fazer parte dos planos daqueles que desejam acumular maratonas pelo mundo afora. Uns porque pretendem selar o currículo com todas as Majors no passaporte de maratonista, outros porque passaram a ver nessa versão oriental dos 42 km uma oportunidade única de estar em contato com uma cultura milenar.
São 24 horas de voo, com uma parada para descanso ou apenas troca de aeronave, nos Estados Unidos. Ainda que pese a diferença de fuso de 12 horas, os corredores que lá estiveram este ano são unânimes em dizer que a viagem é sim cansativa, mas compensa, e muito.
A capital do Japão tem vários atrativos, como o Palácio Imperial, os templos Meiji e Sensoji, seus belos parques e museus, que traduzem toda a história e cultura da cidade. E sua maratona, como não poderia deixar de ser, oferece aos 35 mil participantes uma excelente vista da cidade e, a exemplo da Maratona de Nova York e outras, sua população sai às ruas para aplaudir a passagem dos corredores.
A 7ª edição, realizada no dia 24 de fevereiro, contou com a presença 36 mil participantes e foi vencida pelo queniano Dennis Kimetto (recorde da prova, com 2:06:5) e pela etíope Aberu Kebede (2:25:34).

BRASILEIROS – A prova contou com a presença de vários brasileiros. Para o pernambucano Ivanildo Passos, seu principal objetivo de correr em Tóquio era a oportunidade de conhecer a cultura oriental. Sobre o evento em si, ele só tem elogios. Apesar de conseguir entrar no ritmo de prova apenas no km 6, em função da multidão, o corredor considerou a largada tranquila. "Os postos de abastecimento eram bem sinalizados, banheiros químicos durante o percurso, que é plano, com apenas duas leves subidas entre os km 35 e 41", conta Ivanildo, que destaca ainda a grande presença do público ao longo do trajeto.
O mineiro Romeu Bonella Sepulcri, que vive em Vitória, ES, também escolheu Tóquio pela oportunidade de conhecer o Japão. E o fato de o evento ser do outro lado do mundo não foi nenhum empecilho. "Pelo contrário, foi o motivador da escolha", diz ele, que salienta, entre outras coisas, a educação e organização do povo japonês. Em relação à prova, Romeu destaca a excelente organização, mas faz questão de frisar "o grande número de corredores e a ansiedade para beber logo na primeira mesa, o que atrapalhava um pouco".
Experiente em provas internacionais, com participações em maratonas não comuns à maioria, como Marrocos, Israel, Estocolmo, Midnight Sun, Big Five, Deserto do Atacama, Eclipse Solar, Jamaica, entre outras, o carioca Nilson Pereira Mendes não pensou duas vezes para colocar Tóquio no seu extenso currículo. "É a sexta Major", enfatiza o corredor. "Os pontos turísticos por onde passa a prova são lindos e históricos. A largada foi tranquila, apesar dos 36 mil corredores. Entrei no ritmo após muitos quilômetros, devido também ao frio, em torno de 3 graus. Os pontos de abastecimento eram muito bem sinalizados. Havia banheiro a cada 2 km e você não via ninguém fazendo as necessidades fora de lugar, apesar da fila enorme. Havia também muitas bandas e dançarinos no percurso."

MUITO TURISMO – O casal Luiz Cândido Severino e Maria Matos Correia, de Brasília, também adorou a prova japonesa. "Nosso sonho é correr maratonas ao redor do mundo. Fizemos Chicago em 2012. Quando soubemos que a Maratona de Tóquio se juntaria ao circuito das Majors, vimos uma oportunidade de completar mais uma", conta Maria, que acredita ter conseguido unir muito bem o prazer de correr com o turismo. "Conhecemos muita coisa em Tóquio. A cidade impressiona pela limpeza, modernidade e educação do povo. De atrações turísticas, fomos ao Tsukiji Market, o maior mercado de peixes e frutos do mar do mundo. Lá saboreamos peixe fresco e outras coisas que sinceramente nós não sabemos. O pessoal do restaurante só falava japonês, então confiamos nos sushimens. Aliás, adoramos a culinária japonesa."
Apesar do pouco tempo para conhecer tudo o que cidade oferece aos turistas, Luiz acredita que deu para fazer muita coisa e ver as principais atrações. "Subimos na torre Tokyo Sky Tree, que é a maior torre do mundo, com 634 metros. Lá de cima a cidade parece uma maquete. Fomos ao Templo Senso-ji, o mais velho e um dos mais importantes templos budistas de Tóquio. Queríamos ver uma luta de sumô, mas o período das lutas não coincide com o da maratona."
Sobre a maratona, o casal também só tem elogios. "A largada da prova é tranquila. Os corredores são divididos em currais (A, B, C, D etc.), de acordo com o tempo estimado para a conclusão da prova. Os fiscais fizeram um controle rígido em relação ao curral designado para cada atleta", lembra Maria, que diz ser difícil citar algum ponto negativo na prova. "O ponto baixo talvez sejam os dois trechos de vai e vem. Juntos, eles representaram mais da metade da prova, limitando as opções de bairros e pontos turísticos. O pelotão de elite passou ao nosso lado no km 20, mas estávamos no km 10 ainda. Deve ser a mesma sensação desanimadora de levar uma volta em uma corrida de automobilismo."
Luiz lembra ainda detalhes do percurso, que é plano, mas tem duas pontes arqueadas mais para o final, o que pode ser um pouco desafiador. "Nem é tanto pela extensão, mas pela inclinação e pelo fato de serem próximas à chegada", explica Luiz, que citou a aclimatação como a maior dificuldade de correr em Tóquio. "A temperatura muito baixa e o fuso de 12 horas em relação ao horário de Brasília dificultaram bastante. Por não estarmos adaptados, sentimos cansaço e desgaste além do que estamos acostumados. No meio da prova já tínhamos consciência de que seria difícil bater recordes pessoais e que o desafio seria completar a maratona."

 

Completando as 6 Majors

"Que o povo japonês é disciplinado, todos sabemos. E que é bem organizado, sabemos mais ainda. Mas o grau de organização dessa maratona me espantou profundamente. E ressalto que já corri inúmeras maratonas ao redor do mundo, inclusive as cinco maiores do mundo, às quais a de Tóquio se juntou este ano para formar o seleto clube das seis maiores. Esse espanto é justificado logo na ida à exposição. A organização enviou antecipadamente via Correios as informações necessárias para se chegar de metrô ao Tokyo Big Sight Exposition Center. A entrega do kit foi tão rápida no sábado que nem pareceu que nesta maratona participariam 36 mil corredores. Admirável a eficiência e educação dos voluntários na exposição. Assim, o que se percebia era uma multidão dentro de uma enorme exposição onde tudo funcionava sem percalços.
Esta minha reação de deslumbramento continuou no dia seguinte, na largada. Com 50 caminhões funcionando como guarda-volumes, a tensão inicial se dissipou como num passe de mágica. Em pouco tempo, já estava bem instalado na baia correspondente. Apesar do frio, sentia-me confortável no meio da massa. Muitos fantasiados. Havia um fantasiado de Jesus que arrastava uma cruz enorme e fingia fazer um esforço gigantesco. Outros, de Samurai, Papa… Então, toda aquela região de prédios belíssimos da administração governamental no bairro de Shinjuku estava em festa. Antes de o canhão disparar o tiro, o hino japonês foi tocado e uma chuva de confetes caiu e abrilhantou a largada.
O primeiro km faço suavemente, sem congestionamento. Dizem os organizadores que este ano o percurso melhorou mais ainda: ficou mais plano, com menos curvas e longas retas. Em frente ao Palácio Imperial, já beirando o km 10, muitos corredores param alguns segundos para fotografar. É grande o incentivo do público e dos milhares de voluntários, distribuindo alimentos e hidratantes com dedicação e alegria. Claro, toda maratona tem seus prós e contras. Entretanto, até este ponto vi apenas os prós. Penso nisso quando sinto necessidade de ir ao banheiro. Logo acho um sanitário, limpíssimo!
Corro em ritmo abaixo do meu limite. Afinal, esta maratona merece ser apreciada em seus mínimos detalhes e talvez não haja a possibilidade de voltar um dia. Na chegada, apesar da multidão, tudo funciona rápido, a não ser a lentidão em direção às duas estações do metrô disponíveis. Talvez esse seja o único ‘contra' desta maratona que ficará reservada num canto especial em minha memória, para sempre."
(Ney Cayres, assinante de Salvador)

Box 2
Para quem quiser correr em 2014
Os que desejarem fazer a Maratona de Tóquio no ano que vem precisam ficar atentos às formas de inscrição. A prova é bem concorrida e por isso mesmo os organizadores mantêm o sistema de loteria, como em Nova York e mais recentemente em Chicago, para distribuir as inscrições tanto para os atletas locais quanto para os estrangeiros. O período destinado à inscrição na loteria é o mês de agosto (ainda não foi definida a data oficialmente para a prova de 2014) e, sendo sorteado, o corredor deverá pagar a quantia de 12.000 yens, o equivalente a 125 dólares (no caso de atletas internacionais).
Cerca de 3 mil vagas são destinadas aos corredores que querem prover fundo para os programas de caridade. Os estrangeiros podem, ainda, se inscrever pelas agências oficiais, com a obrigação de adquirir o pacote completo, com terrestre e aéreo. No Brasil, a Kamel Turismo é a que representa a prova de Tóquio. O valor de um pacote completo para este ano saiu por volta de 3.400 dólares, já incluindo inscrição, 4 noites de hotel em quarto duplo, com café da manhã, traslados, seguro-viagem, assistência da agência no hotel e kit de corrida.

Veja também

Leave a comment