Notícias admin 10 de março de 2015 (0) (227)

Two Oceans: 56 km duros e lindos

Desafiadora não somente pela sua distância principal, os 56 km, mas também pela dificuldade do percurso, cheio de sobe e desce, a Two Oceans Marathon, realizada sempre no sábado que antecede o Domingo de Páscoa, tem ganho adeptos e mostrado que a África do Sul, ou mais precisamente Cape Town (Cidade do Cabo), onde a prova é realizada, pode ser opção das mais interessantes para quem gosta de correr em lugares bonitos e ter o atrativo do turismo como o grande diferencial da viagem.
Realizada desde 1970, a competição ganhou reputação ao longo dos anos e atrai grande quantidade de estrangeiros que querem viver a experiência única de poder correr apreciando o cenário lindíssimo dos dois oceanos (Atlântico e Índico) que margeiam a África do Sul. Uma visão que só os ultramaratonistas podem apreciar no dia da prova, já que a versão mais curta do evento, de 21 km, apesar de largar e chegar no mesmo local dos 56 km, tem um circuito completamente diferente, mais por dentro da cidade e não beirando nenhum dos oceanos.
O evento, que este ano foi realizado no dia 30 de março, é uma verdadeira festa na cidade. Sua Expo abre as portas na quarta-feira e vai até sexta-feira "Santa", dia em que é realizada a International Friendship Run, ou Corrida da Amizade, de 5 km, que larga e chega no V&A Water Front, um dos principias pontos turísticos da Cape Town. Antes da largada, cada delegação é anunciada com muito entusiasmo e festa pelos organizadores. Aliás, uma das coisas mais fantásticas na prova é o grande valor que os sul-africanos dão aos participantes internacionais. Coisas simples, como tendas diferenciadas para pegar o kit de corrida, uma pulseira especial para acessar no final da prova uma tenda com comes e bebes, e que fazem a diferença.

CORTES NO CAMINHO – Atualmente a delegação brasileira é uma das maiores no evento. Segundo informações dos organizadores, eram 114 inscritos no total, mas nem todos acabaram viajando, concluindo 49 na ultra e 17 na meia. No geral da prova, foram 25 mil inscritos, sendo cerca de 10,7 mil nos 56 km e o restante nos 21 km. Quem chegar acima dos tempos definidos como limite (7h para a ultra e 3h para meia) não leva medalha.
Outra peculiaridade da prova são os pontos de corte: na ultramaratona, há pontos de corte nos km 25, 38, maratona e 46,1 km; nos 21 km, o ponto de corte é no km 18. Ou seja, é bastante similar ao que ocorre na outra ultra famosa da África do Sul, a Comrades, de 89 ou 87 km (no percurso em descida e em subida, respectivamente), dia 2 de junho, também muito procurada por brasileiros. Aliás, a Two Oceans é usada pelos sul-africanos como grande teste/treino para a Comrades.
A primeira saída no sábado (grupos A, B, C) é a da meia-maratona, a partir das 6h, com o dia ainda escuro. Um grupo sem comprovação de tempo de performance (D) larga 10 minutos depois. Os participantes dos 56 km saem às 6h30. As duas distâncias largam em Newlands e chegam no campus da Universidade de Cape Town, a apenas 2 km do ponto de largada.
A meia-maratona tem um percurso com predominância de subidas na primeira parte. Após os 10 km, os planos e as descidas são mais constantes. Já na ultra é exatamente o contrário que acontece. Na primeira metade, o percurso margeia o Índico, onde predominam planos e descidas. A segunda parte é a mais desafiadora e também a mais bonita, com grandes e intermináveis subidas, já costeando o Atlântico. E a maravilhosa Chapman's Peak Drive, 8 km de estrada no meio de montanhas, que fica a 500 metros acima do nível do mar e proporciona uma das visões mais lindas do Atlântico. Via bem sinuosa, a estrada é literalmente à beira do abismo e, no sentindo contrário ao da prova, é o caminho que leva os turistas ao Cabo da Boa Esperança.

MAIS UMA VEZ – Numa prova tão bonita, organizada e marcante quanto a Two Oceans, quem faz uma primeira vez muito provavelmente quer voltar, como foi o caso da paulista Érika Fujyama. Quando perguntada sobre suas razões, Erika não se atém simplesmente a algo específico, mas sim a um conjunto perfeito de fatores, que a levaram a mais uma vez cruzar o Atlântico para viver de novo uma experiência que ela mesma classifica como "mágica".
"Foi um mix perfeito: um percurso lindo, uma organização excelente, uma cidade fantástica e muito apoio durante a prova. As famílias vão para as ruas tomar seu café, seu chá, comer seu churrasco. E abastecem os corredores e os incentivam com palavras positivas. E os próprios atletas se ajudam. Você nunca está só", conta Érika, que diz ter se emocionado muito na sua primeira participação, em 2012, ano em que a prova foi disputada debaixo de muita chuva. "Fui ‘escoltada' por um grupo de quatro sul-africanos por 18 km. A líder deste pequeno grupo era uma veterana, com 12 Two Oceans e um ‘blue number' (número azul dado a quem completa 10 ultras). Ela nos dizia o tempo todo ‘Acredite, você vai conseguir e terminar com um grande sorriso no rosto. Cape Town é linda mesmo debaixo de chuva. Sinta a energia, sinta o poder deste lugar e vamos voar!'." A partir desse dia, Érika prometeu a si mesma que voltaria à prova em todos os anos que pudesse. "Quero também ajudar outras pessoas. Quero retribuir o que ela fez por mim."
Na Two Oceans, como na Comrades, são muito conhecidos os "ônibus", grupos comandados por marcadores de ritmo, que fazem muito bem o seu trabalho, com muita alegria e animação. O último deles (de sub 7 horas ou de sub 12 horas, em cada uma dessas provas) costuma reunir dezenas de participantes e obviamente é o mais esperado, já que por pouco vão garantir suas medalhas.
Os cortes ao longo do caminho, por mais cruéis que sejam para aqueles que não conseguem ir adiante, acabam sendo uma emoção a mais vivida na prova, principalmente para quem corre no limite das 7h. "No ano passado cheguei com 6h55 e este ano foi 6h57. Isso é que é emoção. Meu objetivo não era tempo; segui meu coração e meu treinador Branca. Foi meio na pressão, mas curti", diz Érika, que lembra que o tempo computado para corte é o bruto. A partir do tiro de largada, o cronômetro está valendo. Érika classifica o percurso como técnico, sendo metade dele relativamente plano e na outra metade, quando naturalmente o atleta está mais cansado, aparecem todas as surpresas. "Daí são subidas íngremes e descidas sem descanso até o fim. Não tem mais reta. E onde também começam os pontos de corte, a partir do km 25. Tem que ter cabeça para administrar."
Outra coisa que chama bastante atenção é o incentivo do povo local ao longo do percurso, comenta a corredora. "Eles são muito cordiais e festeiros. Há crianças com seus pais ajudando na hidratação, oferecendo comida, frutas. Tem os baladeiros, que não dormiram e ficam pelo caminho querendo dar cerveja ou vinho aos corredores. E o povo ama o Brasil. Eles veem nossa bandeira estampada e gritam ‘go Brazil, you look good'."

VOLTA PARA A MEDALHA – Mário César Sugisawa também não mediu esforços para voltar à prova. Mas seu objetivo era um pouco diferente do de Érika e mais desafiador. Ou seja, terminar algo que ficou inacabado na sua primeira participação nos 56 km, em 2010, quando terminou a prova 3 minutos acima do tempo permitido. Apesar da determinação, um sushi estragado ingerido no almoço do dia anterior à prova quase acaba com o sonho de Mário. "Na parte da tarde da sexta já comecei a sentir sintomas de infecção intestinal", conta o paranaense, que é médico. "Iniciei o tratamento com a medicação que sempre levo para essas situações, procurando aumentar a hidratação. Embora não tenha conseguido ingerir mais nenhum alimento sólido, acordei de madrugada (2h30 antes da saída do transporte que nos levaria ao local da largada) e decidi, apesar de ainda sentir desconforto abdominal, participar da prova. Minha ideia era reavaliar de tempo em tempo a possibilidade de prosseguir."
Ainda que a dificuldade de correr depois do ocorrido fosse bem difícil, Mario finalmente conseguiu cruzar a linha de chegada com o tempo de 6h52 e voltar para casa com a medalha que lhe faltava. A parte mais dura da prova para ele, e para a maioria dos participantes, são as duas subidas maiores localizadas entre os km 30 e 35, na Chapman's Peak, e depois entre os 45 e 50, na Constantia Nek.
O também paranaense Sérgio Venson fez pela primeira vez a prova e já pensa em voltar. "Foi maravilhosa. O percurso é bem desafiador, exigindo certa experiência do corredor. Após os 25 km começam as subidas, numa rodovia que circunda uma montanha belíssima. Mas é o ponto em que se exige cautela para conseguir manter um ritmo adequado para chegar no final", conta Sérgio, que terminou a prova em 6h51 e considerou os pontos de corte muito bem distribuídos e que exigem um controle do corredor até os últimos metros, o que valoriza mais ainda aqueles que chegam ao final.
A vitória nos 56 km foi dos sul-africanos David Gatebe em 3h08 e Natalia Volgina (3h38), enquanto na meia venceram Stephen Mokola (1h03) e Irvette van Blerk (1h15). Os resultados completos podem ser acessados no site www.twooceansmarathon.org.za. No ano que vem a prova acontece dia 14 de abril.

Turismo e compras

– Não pense que cruzar o Oceano Atlântico a caminho de um país no continente africano é absurdamente caro. A viagem para a África do Sul é mais em conta do que se imagina. Entre passagem aérea, hotéis bem localizados em quarto duplo, inscrição de prova, todos os traslados entre hotel e aeroporto, seguro-saúde (é obrigatório para entrar na África, assim como é também a vacina contra febre amarela) e toda a assistência de transfer de ida e volta para a Expo e a prova, e ainda extensão para um safári de dois dias no famoso Kruger Park, saiu por 3.000 dólares. Isso para uma viagem de 8 dias, conforme pacote da Kamel Turismo.

– Quando pensamos em África do Sul, logo imaginamos uma viagem longa, daquelas que duram o dia todo e você chega bem cansado ao destino. Mas o voo entre São Paulo e Joanesburgo, operado pela South African Airwais, demora apenas 8h30; depois são mais 3 horas de voo até Cape Town. Uma curiosidade em relação ao voo de volta: por causa das correntes de vento no Atlântico, o retorno demora 10h.

– Além de cartão de crédito, leve dólar para trocar pela moeda local, o rand. Há muitos lugares que não aceitam cartão, como táxi e algumas barracas de artesanato, por exemplo. Para fazer a conversão em relação ao nosso real, divida o valor em rand por 4.

– Os custos de alimentação na África do Sul são semelhantes aos do Brasil. Mas a culinária é um pouco apimentada e é bom atentar para esse detalhe, perguntando sobre os pratos.

– Se chegar a Cape Town e não souber absolutamente nada do que é possível fazer na cidade, informe-se no hotel. Os tours para Cape Point e Cabo da Boa Esperança, passando pela famosa Chapman's Peak Drive, a mesma do percurso da ultra, duram um dia inteiro e valem a pena. Você vai gastar não mais do que 1000 rands (250 reais) para um tour completo, com várias paradas, inclusive em Boulders Beach, a praia dos pinguins. Na estrada que leva ao Cabo da Boa Esperança, você corre o risco de encontrar as chamados baboons, ou babuínos, pelo caminho. A África do sul é produtora de grandes vinhos e vale fazer uma visita de degustação em uma vinícola.

– Se não estiver tempo nublado, pegue o teleférico até o topo da Table Moutain (a montanha com o topo plano ao lado da cidade). Como em Cape Town venta muito, é comum o teleférico não funcionar durante o dia inteiro. O custo para subir no teleférico é de 205 rands (50 reais).

– Se você buscar algumas informações sobre a África do Sul, fatalmente cairá em dicas sobre segurança. Procure ficar nas áreas turísticas, onde há sempre policiamento. Pegue táxi apenas em pontos oficiais ou aqueles chamados na porta do hotel.

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