21 de setembro de 2024

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Notícias admin 10 de março de 2015 (0) (75)

Muito vento na Meia del Glaciar

Instigado por uma matéria publicada na CR de maio/2012 e depois de ter encarado o desafio dos 23 km no Deserto do Atacama como estreia em provas no exterior, passei a sonhar não só com aquela prova diferente para quem treina no plano, nos "confortáveis" 40°C da Cidade Maravilhosa, como também para poder caminhar sobre umas das mais famosas geleiras do mundo – a Perito Moreno, localizada em El Calafate, na Patagônia Argentina.
Seria a 2ª edição de uma prova repleta de desafios: subidas e descidas intermináveis, frio em torno de 5°C, chuva, ameaça de neve e, como escrito em adesivos à venda em lojas de suvenires, "viento, mucho viento". Algo que foi enfatizado na palestra técnica da noite anterior à corrida: "Não subestimem o frio: lembrem-se de que vocês estão na Patagônia, perto do fim do mundo".
Mas esqueceram de avisar que o tal "viento" atacava na 2ª metade da corrida, quando fazíamos o retorno nos 10,5 km e tínhamos que "escalar" a montanha de volta (e aí deu para entender por que vários corredores optaram pela prova de 10 km…). Uma tormenta para todos, especialmente para os poucos cariocas inscritos que adoram usar casacos quando o termômetro baixa a marca insuportável de 19°C.
E por falar em calor, a receptividade dos argentinos foi incrível, como puderam conferir os brasileiros que encheram a prova, os confortáveis hotéis e os ótimos restaurantes da cidade. Boa organização, com postos de hidratação a cada 3 km, mas por corrermos na estrada asfaltada de um parque nacional muito famoso, o convívio de corredores com carros e ônibus de turismo foi um pouco confuso: ora o trânsito fluía pela direita, ora pela esquerda, e a orientação era corrermos sempre do lado da montanha. Mas, felizmente, todos os motoristas respeitaram as placas de velocidade reduzida e nenhum acidente foi registrado.
Destaque na festa de encerramento para a generosa oferta de vinho Malbec, os bonitos troféus e a equipe Gama, de Santos, de longe a mais numerosa e animada (deve ser influência do Atlântico…). Dupla vitória brasileira, nos 10 km e 21 km, o que promete levar mais brasucas para a edição de 2014.
E aqui vale um registro: os organizadores da prova criaram um circuito de corridas de 21 km nas principais regiões turísticas do país (Bariloche, Parque do Iguazu e vinícolas de Mendoza), aparentemente com apoio oficial, criando inclusive o logo RUN ARGENTINA. Tudo isso com muita divulgação: vídeo, adesivo e patrocínio de uma fábrica de meias de compressão (incluída no kit da corrida).
Agora, um alerta: por ser uma região de natureza "bruta", as opções de passeios "radicais" são bem variadas. Mas vá com calma, quem sabe esticando a viagem para deixar trekkings, rapel, cavalgadas, via ferrata e tirolesas para depois da corrida – por pouco o uso dos "grampones" na geleira não deixa o meu dedão do pé inutilizado para a corrida, um susto e tanto.
Resumindo, o sonho era tão grande (10.600 km voando + 21,097 km correndo) que nem um "pequeno" acidente doméstico, ocorrido exatos 30 dias antes da corrida, que exigiu 15 pontos na cabeça e interrompeu os meus treinos, me impediu de completar a dolorida prova. Quem sabe não foi um "sinal" para "abrir" a cabeça, deixar de ser teimoso e sair do conforto do calçadão de Copacabana para treinar mais em ladeiras?
Para quem quer conhecer um lugar único, mas sem se preocupar com tempo de prova, vale a pena levar uma pequena máquina (fiz a estreia de uma pequena e valente Muvi, que também é filmadora) e aproveitar toda a paisagem, guardando fôlego para a famosa "Curva del Suspiro", cartão-postal que serve de embalo para a chegada a alguns quilômetros montanha acima.

Renato Chaves é assinante do Rio de Janeiro.

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