Performance e Saúde admin 10 de novembro de 2014 (0) (90)

Vestimentas de compressão ajudam ou atrapalham?

Os primeiros corredores a utilizarem as meias de compressão precisaram ser corajosos. Além da coragem, era necessário paciência para aparecer num treino em grupo com as tais meias: paciência para tentar se explicar a cada nova piada. Se até uns anos atrás eles causavam estranheza com aquelas meias que subiam até a altura dos joelhos, hoje já passam despercebidos, e talvez você seja um deles.
Apesar das apostas de que as vestimentas de compressão eram apenas mais uma onda passageira (como as pulseiras do equilíbrio, dilatadores nasais, etc.), as meias de compressão não apenas conquistaram sua fatia de mercado como o expandiram. Depois das meias esportivas de compressão, hoje já é possível adquirir roupas com variados graus de compressão para praticamente todas as partes do corpo, cada qual com seus supostos benefícios.
As roupas de compressão apresentam argumentos de venda fortes: melhora da circulação sanguínea, diminuição da dor pós-exercício e aumento da performance. Além dos argumentos de venda dos fabricantes, os usuários também eram fervorosas ferramentas de marketing, talvez pela necessidade de se defender das piadas dos colegas. Para completar as receitas de sucesso, as primeiras pesquisas a serem divulgadas sobre o uso de meias de compressão apresentavam resultados indicando que mesmo que as meias não fossem tudo o que prometiam, pelo menos alguns benefícios pareciam existir.
Mas o tempo passou, e a quantidade de estudos testando a efetividade das vestimentas de compressão naturalmente se acumulou com os anos. E aqueles resultados iniciais, mostrando benefícios tímidos, mas ainda assim benefícios, parecem que estão ficando cada vez mais isolados. Na última vez em que escrevi sobre as meias de compressão para a CR, em setembro de 2010, concluí o artigo dizendo que "O assunto ainda gera controvérsia, e alguns estudos ainda são incapazes de encontrar benefícios das meias de compressão (…) No entanto, o grau de evidência em favor do uso ocasional de meias de compressão parece muito mais promissor que o de diversos outros equipamentos que já surgiram no mercado". Vejamos o que mudou nestes últimos dois anos e meio.

ÚLTIMAS PESQUISAS – Um estudo analisando meias comuns e meias de diferentes graus de compressão (desde 12-15 mm Hg até 23-32 mm Hg) não constatou diferenças em um teste de 10 km em corredores treinados. A única diferença encontrada foi que com o uso de meias de baixa e moderada compressão a força muscular pré e pós-corrida foi menos afetada do que utilizando meias comuns. Em outro estudo, utilizando corredores altamente treinados, foram comparados os efeitos de utilizar vestimentas normais, meias de compressão, calças de compressão e calças + camisa de compressão. Nenhuma das vestimentas foi capaz de alterar a performance, sensação de esforço ou os índices de dor pós-exercício.
Resultados similares podem ser encontrados em diversos outros estudos realizados entre 2011 e 2013, utilizando os mais diversos protocolos de performance, como provas em trilhas, corridas submáximas e corridas de alta intensidade. A grande maioria destes também não encontrou benefícios no uso de vestimentas de compressão para a performance, apesar de alguns verificarem algumas diferenças em variáveis ligadas ao fluxo sanguíneo e transporte de oxigênio. Estas pequenas diferenças apontam na direção de alguns efeitos da compressão na melhora do retorno venoso, o principal mecanismo de funcionamento das vestimentas de compressão. Estas pequenas diferenças, no entanto, também são encontradas esporadicamente, e estão bem longe de ser um consenso.
Uma preocupação sobre o uso das vestimentas de compressão, pelo menos, parece infundada. Pesquisadores australianos investigaram se as meias prejudicam a performance em ambientes quentes, pela possibilidade de dificultarem a perda de calor. A hipótese não se confirmou, e apesar de as meias não melhorarem a performance em testes de corrida, ela também não diminuiu. E ao contrário do que os pesquisadores esperavam, a sensação de esforço em intensidades submáximas de corrida em 32° C foi até mais baixa com o uso das meias do que sem elas.
O uso de vestimentas de compressão para o auxílio na recuperação, por sua vez, não parece muito mais promissor. Apesar das evidências apontando para melhoras na percepção de dor muscular pós-exercício, resultados de marcadores fisiológicos e de performance não seguem a mesma direção. Além disso, como a mais recente revisão de estudos sobre o tema sugere, o papel do treinamento é expor o organismo a uma série de estresses, na tentativa de gerar adaptações. Como existem evidências mostrando que diminuir a magnitude e duração do processo de recuperação destes estresses também reduz a adaptação ao treinamento, existe a possibilidade de que, caso realmente façam o que se propõem a fazer, as vestimentas de compressão na verdade atuem de forma a diminuir as adaptações ao treinamento.

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