Em fevereiro tive a oportunidade de participar da minha primeira meia-maratona internacional. Viajei com a família para um compromisso profissional na Alemanha na última semana de janeiro, seguida de duas semanas de férias na Espanha. Assim que soube da viagem, procurei encaixar uma prova na programação. Optei pela meia-maratona, por acreditar que seria um desafio maior do que uma prova de 10 km e não tão desgastante quanto uma de 42 km.
O calendário alemão de meias-maratonas compreende 237 eventos, mas no período de 3 de fevereiro a 8 de dezembro. Portanto, não havia evento que coincidisse com esta etapa da viagem. Na Espanha, encontrei a Meia de Torremolinos, em sua 24ª edição. A cidade de Torremolinos, cuja população de 66 mil habitantes se multiplica na alta temporada, está localizada na chamada Costa do Sol do Mediterrâneo, a 13 km de Málaga, na Andaluzia, sul da Espanha. Torremolinos surgiu como uma pequena vila de pescadores, que cresceu com o boom do turismo no final da década de 50 e recebeu visitantes ilustres como Grace Kelly, Ava Gardner, Marlon Brando, Orson Welles e Frank Sinatra.
A inscrição para a prova custou 12 euros (cerca de 33 reais) e foi feita facilmente pela internet. A prova é organizada pela prefeitura e o kit, composto apenas pelo número de peito ou dorsal, podia ser retirado na véspera nas bem equipadas instalações da secretaria municipal de esportes ou uma hora antes do início da prova, marcada para as 9h do dia 3 de fevereiro. O chip era um código de barras afixado ao próprio número de peito. Na retirada do kit, percebi que havia coletes com diferentes tempos de conclusão da prova expostos nas paredes. Imaginei que seriam usados por marcadores de ritmo.
PREPARAÇÃO DIFERENTE – Correr no exterior era por si só uma experiência nova para mim. Mais ainda encaixando uma prova no meio da agenda de turista e em condições bem diferentes daquelas a que estou acostumado. Vinha da Alemanha debaixo de neve. Não fiz nenhum treino nas duas semanas anteriores à prova. Carregar malas e caminhar muito por catedrais, castelos e museus foram os únicos exercícios. Pernoitei em sete hotéis diferentes durante a viagem. Experimentei a culinária local: batatas e cerveja na Alemanha e tapas e sangria na Espanha. Diante deste quadro, achei que não poderia ser muito rigoroso comigo mesmo com relação ao resultado da prova. Defini que a minha estratégia seria de acompanhar o marcador de 5 min/km até o meio da prova e, se possível, partir para fazer a segunda etapa mais rápido do que na primeira.
Do hotel pude andar tranquilamente e com bastante antecedência até o local da prova. Deixei o agasalho no guarda-volumes e comecei a aquecer para suportar a temperatura de 13 graus e o forte vento. A largada dos 1.625 atletas (recorde de inscritos) ocorreu pontualmente e sem atropelos. Percebi que teria que adotar um plano B, pois não encontrei nenhum marcador de ritmo. O trânsito estava controlado e o abastecimento era feito com garrafas plásticas nos km 5 e 10 e depois a cada 2,5 km. Estavam previstos 3 postos com frutas, que também não localizei. Não fizeram falta, pois eu preferi usar os géis de carboidratos que trouxe do Brasil.
No km 9 começa o trecho litorâneo, onde muitas pessoas acompanhavam a prova e incentivavam os atletas. Passei o km 10 com 47:37 e achei que poderia forçar para fechar em menos de 1h40. O vento forte, o trecho final em aclive e fisgadas na panturrilha direita impediram o split negativo. Porém, não impediram que eu completasse a prova exausto, mas satisfeito em 1:42:21 (1:41:30 líquido no meu cronômetro) . Provavelmente o melhor (e único) brasileiro. Na chegada, um staff passava uma leitora portátil de códigos de barra sobre o número de peito de cada concluinte e lhe entregava um impresso com o seu tempo bruto, colocação geral e por categoria. Havia farta distribuição de diferentes energéticos e pedaços de pizza.
Participaram atletas de todas as regiões da Espanha, de oito países europeus (Inglaterra, Bélgica, Finlândia, Portugal, Noruega, França, Polônia e Suíça), além do Marrocos, Argentina e Brasil. Concluíram 1.408 atletas (1.260 homens e 148 mulheres). Os vencedores foram o marroquino Raidi Larbi com 1:06:51 (novo recorde da prova) e a polonesa Olga Kalendrova com 1:16:33. O prefeito da cidade entregou os troféus aos vencedores.
Os concluintes receberam uma bela camiseta comemorativa da prova, mas não houve distribuição de medalhas nem divulgação dos tempos líquidos. Comprei um souvenir para colocar no meu quadro de medalhas. A organização da prova distribuiu prêmios para os três primeiros colocados na classificação geral, estrangeiros e corredores locais, além de premiar as equipes mais numerosas e as faixas etárias de cinco em cinco anos. Havia também quatro pontos de corte, em que os atletas retardatários eram eliminados e coletados por veículos da organização.
O percurso deste ano sofreu alterações em relação aos anos anteriores. A prova teve a sua largada nas ruas centrais da cidade e percorreu 4 praias do Mar Mediterrâneo, para terminar no mesmo ponto em que começou. É uma prova difícil pela sua altimetria, com constantes subidas e descidas e um desnível acumulado de 249 metros. A edição deste ano foi ainda mais dura por causa do forte vento que castigou os atletas durante grande parte do percurso. O site do evento é www2.torremolinos.es.
Stefan Zink é assinante de Niterói, há 11 anos.