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Releitura Redação 21 de junho de 2019 (0) (286)

7 pecados que o corredor não pode cometer

Notícias do Corpo – Luiz Carlos da Moraes – Fevereiro 2008

 

Quando eu e muitos de nossos leitores éramos pequeninos, ouvíamos falar naqueles tradicionais pecados capitais catalogados pela Igreja Católica na Idade Média e atualmente adaptados e mencionados como erros e/ou desvios de conduta em diversos segmentos da sociedade, e que são: orgulho, inveja, ira, preguiça, avareza, gula e luxúria.

Na verdade, o verdadeiro sentido dos pecados é que, quando os cometemos a gente acaba pagando por isso. Na corrida não é diferente e a ela também pode ser aplicado. No caso, quando os cometemos o resultado pode ser desde problemas sociais até contusões ou lesões. Vamos a eles:

 

Orgulho – Não basta ser uma pessoa famosa, ter dinheiro suficiente para comprar os melhores tênis ou equipamentos de corrida de primeira linha, contratar os melhores treinadores etc. Só isso não leva ao pódio. É preciso ter nascido com talento natural, ser humilde o suficiente para se relacionar com os outros corredores, trocar idéias, ajudar os companheiros de corrida para somar esforços e vencer os desafios que os treinamentos e certas provas oferecem. Também não adianta menosprezar os outros quando subir ao pódio ou conseguir um grande resultado. Numa competição você vai bem, em outra não.

Inveja – Esse pecado no pedestrianismo não vai muito longe. Sentir inveja de um colega só porque venceu essa ou aquela corrida, ou conseguiu uma boa marca, não é muito comum entre corredores. De qualquer forma, quando um desses aparece é fácil de ser reconhecido. Geralmente se refere aos outros com desdém, tenta denegrir a imagem com justificativas do tipo: deve estar tomando “bomba”. O invejoso geralmente é do tipo que não chega a lugar nenhum, simplesmente porque não treina e não se relaciona bem com os outros. O corredor bem sucedido não é para ser invejado e sim ser tomado como referência.

Ira – Preciso destruir o meu concorrente. “Tomara que ele se machuque e eu possa ganhar”. Que pensamento mais grosseiro, não? Um corredor se voltar contra o outro ou torcer contra é uma das atitudes mais baixas que alguém pode ter. Quem vive preocupado com o treinamento do adversário esquece de explorar o próprio potencial. Ainda bem que ao longo dos meus mais de vinte anos de corrida vi muito pouco disso. A ira é um sentimento raro entre corredores. O mais comum é se associar, copiando e aperfeiçoando o treinamento executado pelo outro.

Preguiça – Geralmente o fracassado é preguiçoso e negligente. Vive fazendo planos que nunca saem da imaginação, dizendo que vai fazer isso e aquilo. É um sonhador e vive tentando enganar a si mesmo: que agora vai treinar com “um cara”, como se o “cara” fosse a solução de todos os problemas, mágico ou ser de outro planeta. Quem tem sucesso tem plano de ação, treina duro, sofre e compartilha esse sofrimento com os colegas. Sucesso não significa apenas vencer ou se sair bem em provas. Para muitos basta apenas bater recordes pessoais que já está muito bom. E está mesmo. Recorde pessoal significa evolução e superação. O bom da corrida é que ela por si mesma ensina o caminho da humildade porque ninguém vence eternamente. Haja vista os quenianos que são considerados os melhores do mundo e vez por outra perdem para os brasileiros.

Avareza – Cobiça, ambição exagerada de possuir alguma coisa a qualquer custo acaba custando caro. Não basta simplesmente ser um grande vencedor. Responsabilidade social implica em fazer doações à comunidade carente, ajudar a quem precisa e promover o crescimento profissional de pessoas menos favorecidas. Além dessa atitude fazer bem ao coração, o corredor fica bem visto por todos à sua volta.

Gula – A gente lembra logo de excesso de comida. Como estamos falando de corrida, vamos abordar os excessos cometidos tendo como conseqüência a involução e o fracasso nas competições. É como se o corredor tivesse gula de correr, o que não é difícil de vermos isso no nosso meio e que apresenta algumas características:

1) Se recusam a fazer qualquer outra atividade complementar ou substituir a corrida quando estão contundidos.

2) Priorizam a corrida sobre qualquer compromisso cotidiano. Primeiro a corrida!

3) Toleram e suportam mais as dores musculares e por isso treinam mesmo sem condições.

4) Quando por motivo de força maior são obrigados a parar de correr, mesmo que por poucos dias, demonstram irritação, depressão, ansiedade etc.

5) Experimentam um alívio imediato ao retornar à rotina de treinamento.

6) Apesar do problema, têm consciência de que são viciados.

7) Querem correr sempre forte, não respeitando o repouso passivo ou ativo.

8) “Batem de frente” com familiares não adeptos à corrida,  especialmente aqueles que costumam questionar ou acusá-los de “exagerado”.

9) Só pensam “naquilo”… Na corrida!

10) Alguns seguem dietas para se manter magros, sempre achando que qualquer grama extra na balança pode prejudicar o desempenho.

11) Colocam sempre a culpa no tempo, chuva, muito calor, vento contra etc, para justificar esporádicas performances ruins. Da mesma forma os percursos com muita ladeira, paralelepípedo, muito buraco na pista etc. Parece até que esses obstáculos se apresentam só para ele.

“Puxa vida! Quando não corro sinto que está faltando alguma coisa!” – “Não consigo ficar um dia sem correr!” –“Meus amigos dizem que sou maluco!”. Frases desse tipo são, de certa forma, comuns entre corredores “gulosos” e viciados na corrida.

Luxúria – Significa, na forma mais pesada, corrupção, libertinagem etc, que todos nós conhecemos bem o significado por conta de alguns dos nossos políticos. Entretanto, no nosso caso se relaciona com a falta de comprometimento com o treinamento ou com os colegas, ostentação de coisas fúteis ou contar vantagem “sem pé nem cabeça”. Quantos colegas conhecemos que vivem dizendo terem conseguido um resultado sensacional numa corrida lá em “Deus me livre” que ninguém conhece?

 

Prós e contras da corrida

 

Não resta dúvida que fazer exercício físico, seja ele qual for, é benéfico à saúde. Porém, o excesso pode acarretar diversos problemas, tanto físicos como psíquicos. No caso da corrida é uma atividade altamente motivadora e viciante pela quantidade de endorfinas que libera no corpo.

Na “era Cooper”, dos anos 70 do século passado, surgiram várias provas e maratonas no Brasil e no mundo, e muitas pessoas descobriram o prazer e o que significava o grande “barato da corrida”. Mas estudos posteriores tentaram qualificar os limites entre o bom e o mau. Ou seja, a partir de quando a corrida passa a fazer mal e ser um pecado para o corpo e/ou para a cabeça.

Estudiosos classificaram como “dependência positiva” (Positive Addiction) os fatores ligados aos benefícios físicos e psicológicos especialmente a alta-estima gerada pela corrida. Já outros fizeram uso do termo Negative Addiction considerando os transtornos que afetam a vida de quem comete o pecado de correr em excesso.

Algumas pesquisas falam até em dependência da corrida, similar a qualquer outro desvio ligado a corpo, tais como a anorexia nervosa, a vigorexia e a compulsão pela comida.

Quando comparados homens e mulheres na questão da dependência ou nesses pecados, embora na prática, estatisticamente elas se machuquem menos e tolerem melhor a abstinência, as mulheres sofrem uma pressão social muito maior de reprovação, ainda resultado da sociedade machista que vivemos.

Amigos corredores. Não pensem que esse artigo tenha a intenção de desestimular a corrida ou que eu seja contra a atividade. Como tudo na vida, ela deve ser praticada para proporcionar prazer, amizade e convívio social saudável que são, na verdade, as características principais da corrida.

De certa forma passei por alguns momentos e também cometi alguns desses pecados. Não suportava ficar um dia sem correr e ficava aborrecido quando aparecia um compromisso que me tirava da rotina de treinamento, demonstrando egoísmo, que poderia ser classificado como mais um pecado esportivo.

A corrida é tão espetacular que serve de base para qualquer outra modalidade esportiva quando se deseja desenvolver resistência. É tão espetacular que no meio do povão de short e camiseta todos são iguais perante os quilômetros que faltam para a chegada. Seja pobre ou rico, engenheiro ou gari, branco ou negro, feio ou bonito, de qualquer religião. Como qualquer outra atividade, a corrida não é completa por si só, mas deve ser praticada com bom senso.

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