Blog do Corredor Notícias Tomaz Lourenço 23 de abril de 2019 (0) (154)

Críticas e sugestões aos organizadores, mas também aos corredores

Por Tomaz Lourenço | tomaz@novosite.contrarelogio.com.br

Passados meus primeiros anos de corredor e de editor da CR, em que levava as provas muito a sério, notadamente as maratonas (completadas sempre abaixo de 3h30), comecei a participar sem tanta preocupação com o relógio, mesmo porque ao correr forte acabava chegando bastante esgotado, sem condições de fazer bem meu trabalho de divulgação da revista, venda de exemplares e assinaturas, junto com minha esposa Cecília.

Assim, era comum “atender” corredores durante o percurso, tirando dúvidas, conversando sobre temas diversos e até os estimulando a assinar a CR, logo após a chegada. Mas mantinha minha personalidade um pouco lusitana (sou filho de portugueses) de falar o que achava certo, sem meias palavras, inclusive em absoluta coerência com a postura de editor de uma publicação que tinha vindo para colocar certa ordem no caos reinante em quase todas nossas corridas de rua.

Escrevi esta crônica em 10 de fevereiro, dia da morte do jornalista Ricardo Boechat, com o qual tinha grande identificação, por suas posições sempre críticas, lúcidas e de indignação frente às barbaridades que acontecem no Brasil e no mundo. De certa forma procurava seguir nesse caminho em relação ao que via de errado nas provas pelo país, o que não era pouca coisa na primeira década da CR.

Paralelamente às críticas e sugestões que fazia aos organizadores, a revista também procurava cutucar os corredores, para que não aceitassem passivamente as falhas e omissões verificadas nos eventos que participavam, enviando cartas à redação (ainda não havia Internet), denunciando esses descalabros.

MITOS E FANTASIAS. Mas havia igualmente algumas manias ou crenças, relacionadas às corridas, que ia conhecendo aos poucos. A mais curiosa era encontrar corredores com um matinho qualquer no calção, que só fui descobrir a razão quando um novo colaborador da CR, Luiz Carlos de Moraes, mandou um dos seus primeiros artigos para a revista. Nele, Moraes explicava que se creditava a esse raminho o poder de evitar as famosas dores de lado, decorrentes do excesso de esforço, daí já colocarem no short antes da largada.

Na realidade, tudo deve ter começado quando alguns corredores, ao sofrerem daquelas dores, paravam, procuravam um mato qualquer e o colocavam na cintura; “milagrosamente” tudo voltava ao normal, obviamente não pela ação do raminho, mas pela pausa na busca do santo remédio.

Outro “medicamento” muito usado lá nos anos 90 era o chamado ´óleo elétrico´, que ao ser usado em massagem nas pernas, as deixava… elétricas; nem era preciso treinar. Um casal mineiro muito simpático foi durante anos o principal fornecedor dos vidrinhos, que faziam enorme sucesso especialmente entre maratonistas, a ponto de alguns anteverem um total fracasso nos 42 km, caso não passassem o tal unguento antes da largada.

Ainda não haviam chegado aos corredores algumas recomendações que na década seguinte passariam a ser consideradas verdades absolutas, como a de que é necessário alongar antes de correr e a de que se deve beber água antes de ter sede, trazidas em parte pela proliferação de treinadores, duas bobagens que a CR desmitificou, mas que são assuntos para uma outra crônica.

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