Por Tomaz Lourenço | tomaz@novosite.contrarelogio.com.br
Quando decidi que iria começar a correr, por não ter podido viajar para a praia em janeiro de 1990, descobri que me faltava o principal instrumento: os tênis! Nada conhecendo sobre o assunto, entrei numa loja e optei por um Adidas, que já coloquei nos pés e saí caminhando.
Achei um pouco estranho porque parecia que o calçado “empurrava” a pisada para a frente, mas que depois descobri ser um efeito dos tênis daquela época, com um calcanhar alto, para amortizar a pisada durante a corrida. Não tenho grandes lembranças dele, mas acredito que tenha cumprido bem o seu papel.
Depois de algum tempo, já me sentido quase um “atleta”, resolvi que precisava de um tênis correspondente a esse novo status, e comprei um Nike, nada barato, igualmente com uma sola/entressola bastante alta. Gostei demais do seu conforto, mas passados 2 ou 3 meses de uso bem restrito, surgiu um furo na parte interna do calcanhar de um dos pés.
Achei um absurdo tal defeito em um tênis relativamente novo e caro, que inclusive impedia de usá-lo, porque machucava o calcanhar. Fui atrás dos meus direitos e contatei a Alpargatas, então a distribuidora da Nike no Brasil. Me pediram para levar o produto ao escritório e concordaram com minha reclamação, me entregando então outro par igual, como compensação.
Se não bastasse esse profissionalismo pouco usual naqueles tempos em que os direitos do consumidor ainda estavam engatinhando, a Nike me consultou se tinha interesse em ser “testador de tênis” da marca, usando modelos recém lançados ou em vias de lançamento, fazendo depois um relatório e ficando com o calçado. Exultei, mesmo porque estava começando a aumentar minhas quilometragens, com vistas à minha segunda maratona, em Blumenau 1993, quando iria buscar o sub 3h.
COM MARIAH NOS PÉS. Tinha lá estreado em 1992 e obtido 3:04:30, com a ajuda da treinadora Silvana Cole, nos dois meses que antecederam a prova. Agora estávamos no começo de 93 e o treinamento de base em andamento, com muito morro. Recebi para avaliação um tênis de competição da Nike, o modelo Mariah, que era sensacional, baixinho e muito leve, que ainda não tinha chegado ao Brasil e, naturalmente, o modelo foi motivo de cobiça dos colegas de equipe.
Eu o usava nos treinos em pista, uma vez por semana, quando aconteciam os 20 tiros de 400 metros, para menos de 1 minuto e 30 segundos. Mas ele também foi meu companheiro em uma prova de 10 km na Praia Grande (foto, ainda de barba), completada pouco abaixo dos 40 minutos, como apronto final para os 42 km catarinenses no último domingo de julho. Lá o Mariah me ajudaria a alcançar a meta de sub 3h, se não fosse a “tragédia do ônibus”, relatada na 3ª história desta série.
Passada essa fase pré-revista, nunca mais comprei tênis, pois recebia, como editor, as novidades das principais marcas, que se tornaram os principais anunciantes da CR, após o terceiro ano, juntamente com os organizadores de provas. Não é demais lembrar que a Contra-Relógio atuou sozinha no mercado por quase 10 anos, porque ninguém se aventurou a lançar uma publicação, enquanto o mercado de corrida não cresceu o suficiente e ganhou novo público, de maior renda, dois resultados da atuação da CR.