Blog do Corredor Tomaz Lourenço 28 de fevereiro de 2019 (1) (153)

Primeiro mal-estar, mas também o primeiro troféu, ambos em 1990

Por Tomaz Lourenço | tomaz@novosite.contrarelogio.com.br

Após muitos anos de ciclismo amador-competitivo, me baldeei de vez para as corridas de rua, em 1990. Minha primeira competição foi uma “Corrida contra o fumo”, na USP, o que tinha tudo a ver com a minha situação, já que estava largando o cigarro naturalmente, diga-se de passagem, como decorrência do meu novo esporte. Era uma prova curta e não me marcou, porque nada lembro sobre ela.

A corrida não só foi me fazendo parar de fumar, como me fez perder peso. Depois de duas décadas pesando em torno de 75 kg, comecei a constatar que os treinos “transpirantes” de corrida (ao contrário dos de ciclismo) faziam com que a balança cada vez apontasse menos. Então, em poucos meses já pesava menos de 70 kg, em uma época que surgia a AIDS e, por essa razão, muitas vezes tinha que explicar a colegas de trabalho ou familiares, que estava tudo bem comigo, apenas tinha começado a correr.

Animado com essa evolução, soube não sei como que iria acontecer mais uma edição da Minimaratona da Gazeta Esportiva, no fim de tarde de um sábado, com saída e chegada em frente ao prédio desse jornal na avenida Paulista (onde termina a São Silvestre). Seria minha segunda prova e já de 21 km, o que não chegava a considerar grande desafio, em função da longa bagagem ciclística que tinha.

Fui para a largada e lá chegando perguntei a alguns corredores onde era o banheiro. Me olharam assustados, e sorrindo indicavam árvores por perto ou locais mais ermos para o devido serviço. Mas insisti, porque não podia imaginar que aqueles (talvez) mais de mil participantes não contassem com esse suporte. Consegui chegar a um (exato, apenas um!) banheiro no subsolo do prédio, onde naturalmente se postava uma imensa fila. Acho que começou aí minha irritação e fixação por esse tema, apenas reforçadas em outras ocasiões semelhantes, que aconteceriam nos anos seguintes.

Me posicionei perto da linha de saída e então constatei uma situação grotesca, mas que só a mim chamava a atenção. Os corredores se abaixavam e urinavam no chão, formando várias poças! Não por acaso, naquela época não chegava a 5% o número de mulheres nas corridas, com absoluta razão, na medida em que eram eventos nojentos.

Em relação a essa meia-maratona, corri dando o meu melhor, como faziam praticamente todos os corredores naqueles anos, mas nem lembro em que tempo completei, mesmo porque não havia relógio na chegada, nem se sabia posteriormente a marca alcançada. Fui para casa, tomei banho e… comecei a passar mal. Não entendia o que estava acontecendo, qual a razão para o forte enjoo. Descobri depois que era o corpo reclamando do esforço realizado, fato que aconteceu outra dezena de vezes, geralmente após maratonas rápidas.

PRIMEIRO TROFÉU. Ainda em 1990 soube pela minha esposa que aconteceria a 28ª Volta da USP, uma das raras provas longevas do calendário nacional, e decidi participar. Ao me inscrever, me deram a opção de ficar na categoria USP (funcionários, alunos, professores), na medida em que era marido de professora, e aceitei. Correria os 10 km na faixa “mais de 40 anos”.

Larguei para um percurso absolutamente plano nos primeiros 4 km, depois uma forte subida de 500 metros, seguida de uma descida semelhante, para novamente tudo plano até a chegada, dentro do velódromo universitário. No final da primeira reta de 2 km, encostou um corredor da minha idade, que eu não conhecia, que com ironia me perguntou: “Onde você vai com tanta pressa?” Nem sabia o que responder e ele também nem esperou a resposta, porque foi embora.

Só o encontrei depois, quando me chamaram ao pódio para receber o troféu de 4º lugar (foto). Ele tinha sido o campeão da categoria, o que depois se tornou um fato corriqueiro em relação a esse grande corredor e assinante da CR, Álvaro Teno, estupidamente atropelado e morto, quando treinava na mesma USP, em 2014.

As outras duas provas que corri aconteceriam apenas em 1992, portanto nada em 1991, por falta de opção e de informação. Foram os 10 Km da Praia Grande, como apronto final para a Maratona de Blumenau.

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One Comment on “Primeiro mal-estar, mas também o primeiro troféu, ambos em 1990

  1. É a melhor revista de corrida, mais séria, mais interessante, legal, simplesmente AMO!

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