Notícias admin 12 de outubro de 2014 (0) (115)

Comrades chega à sua 89ª edição!

A edição deste ano da Comrades, na África do Sul, realizada dia 2 de junho, contou com mais de 150 brasileiros inscritos, o que significou a 4ª representação estrangeira no evento. Alguns sequer viajaram para lá e, entre os que foram, a maioria completou os 89 km do trajeto entre Pietermaritzbug e Durban, no litoral. Exatos 101 brasileiros finalizaram o percurso "em descida", que é invertido a cada ano.
Dessa forma, a 90ª Comrades em 2015 será "em subida", com 87 km; na prática há pouca diferença, em termos de dificuldade, como se pode ver nos recordes da prova, cujos tempos são quase iguais nos dois sentidos. Dos 18 mil inscritos (a absoluta maioria sul-africanos), 15.062 corredores largaram e 11.983 chegaram ao final (9.556 homens e 2.427 mulheres) dentro do tempo-limite de 12 horas.
Individualmente, o melhor brasileiro foi mais uma vez Claudinei Cristiano Bulka, de Curitiba, que finalizou a Comrades em 6:57:34 na sua quarta participação – a segunda consecutiva. Adriano Bastos, presença constante em pódios no país e que acreditava ficar entre os primeiros, foi mal novamente e chegou com 8h23, o 10º brasileiro.
O grande vencedor foi o sul-africano Bongmusa Mthembu, com 5:28:34 (3:41 min/km). Já a inglesa Eleanor Greenwood, que havia sido a segunda colocada em 2012, garantiu o primeiro lugar entre as mulheres, em 6:18:15 (4:15 min/km), superando as gêmeas russas que há alguns anos são sempre as campeãs.
A Comrades é realizada anualmente na África do Sul, com o tempo-limite rigoroso de 12 horas, em qualquer que seja o sentido, para cima ou para baixo. No trajeto existem diversos pontos de corte, e os que chegam ao final acima de 12 horas nem medalha recebem. Com exceção do ano passado, quando a disputa ocorreu sob forte calor, geralmente a temperatura é fria/amena, por volta dos 10 graus na largada, às 5h, e chegada em torno dos 25 graus. Mais de 80% dos que largam conseguem completar, a maioria entre 11 e 12 horas.
A seguir, dois relatos de participantes deste ano, um fazendo sua 10ª Comrades e ganhando o almejado Número Verde, e outro repetindo a façanha do ano passado, desta vez acompanhado da mulher.

Uma vez não é o bastante

O que leva uma pessoa "normal" a se submeter a uma corrida extremamente sofrida e longa? E pior, repetir o mesmo desafio um ano depois? Minha resposta para a segunda pergunta é fácil: "Porque minha esposa quis".
Ano passado, participei da Comrades pela primeira vez. Minha esposa Andréa acompanhou a aventura desde o começo. A dúvida em abraçar esse projeto, os cinco meses de preparação e sacrifícios, os longos treinos que chegaram a 65 km, as dores e tudo mais que essa prova exige de quem ousa desafiá-la.
Pois bem, tudo deu certo e completei o trajeto. A primeira pessoa com quem falei na área de recuperação foi com minha esposa e minhas palavras foram: "Nunca mais repito essa idiotice!". A resposta dela foi seca e direta: "Ano que vem vamos voltar porque eu quero correr". E assim minha promessa não durou dez segundos e ali, praticamente na linha de chegada, começou minha Back to Back.
E quando você volta, mais experiente e com menos medo (não tem como não ter medo da Comrades), o nervosismo dá lugar a um desejo de curtir mais aquele momento, de interagir mais com o público, e então some a dúvida do que vai ter depois daquele morro (vai ter outro morro, e depois outro, e assim vai até o final) e simplesmente vamos correndo e aproveitando cada quilômetro, cada "Go, Brazil!".
A inversão dos sentidos de um ano para outro também ajuda a manter a prova interessante. É outro desafio que exige outra preparação. No meu caso, dei mais ênfase aos treinos de velocidade, pois sabia que seria possível manter um ritmo mais forte nas descidas, enquanto no ano passado investi nos treinos de força, correndo morro acima.
Também já sabia que não poderia contar apenas com o gel, que teria de estar preparado para ingerir "comida de verdade", ou seja, banana, laranja, batata, biscoito e chocolate. Isso também ajuda a ter um desempenho mais consistente e menos extenuante.
Mas algumas coisas não mudam: a emoção da largada, a energia das pessoas, a vibração do estádio onde está a linha de chegada, o choro após a prova e, claro, a jura de nunca mais voltar (terminei em 8:00:13). A deste ano já durou mais do que a última, mas não aposto 1 Rand (a moeda da África do Sul) que vou cumprir a promessa feita.
Andrea completou os 89 km de forma brilhante (10:33:38) e me disse, quando nos encontramos: "Nunca mais eu volto". Vamos ver, afinal, ano que vem será a 90ª edição e acho que não podemos perder essa oportunidade de fazer parte da história da Comrades…

(Francisco Ottoni, assinante de Belo Horizonte)

90ª Comrades em 2015

Participar da ultra sul-africana não é nada complicado. Basta se inscrever pelo site www.comrades.com e colocar um tempo conseguido em maratona recente, que será utilizado como referência para o posicionamento nas baias de largada. Não é necessário comprovar nada. Depois é treinar muito a partir de janeiro, fazendo longos e mais longos, sugerindo-se que se chegue a um longão de 70 km, no mínimo, para que o sofrimento seja menor pelas estradas asfaltadas, desde Durban até Pietermaritzbug, totalizando 87 km, com predominância de subidas.
Em 31 de maio de 2015 será a 90ª edição e muito provavelmente a prova terá mais de 20 mil participantes, entre eles com certeza muitos brasileiros, que passaram a sonhar com a Comrades a partir da reportagem da Contra-Relógio, em 2007, quando o editor Tomaz Lourenço lá esteve para comemorar seus 60 anos. E gostou tanto que voltou no ano seguinte, para se tornar um "comradeiro de verdade", como dizem na África do Sul, ou seja, fazendo a prova em seus dois sentidos e recebendo a medalha extra "back to back".

Enfim, o Green Number

Quando meu treinador Décio me pediu para escrever sobre minha experiência de me tornar um Green Number na Comrades 2014 e contar sobre o feito para a CR, primeiramente pensei em escrever sobre a prova e seus encantos. Porém, falar sobre ela, já tão bem descrita anteriormente em outras edições por Nato Amaral (1º Green Number brasileiro) e por Tomaz Lourenço (editor da revista que correu a Comrades em 2007 e 2008), seria repetitivo, pois, atualmente existe uma grande expressão desta corrida aqui no Brasil. Este ano foram 153 inscritos, a quarta maior delegação estrangeira, bem diferente dos 6 corredores brasileiros em 2003, ano em que iniciei minha longa viagem em busca do Green Number.
Voltando ao enredo deste desafio e ao relato desses 10 anos de aventura, resolvi não falar dos 10.000 km de treinos, das 93 horas correndo em todas as edições da prova, das dores, das bolhas, das fisioterapias, das unhas perdidas e das privações alimentares, etílicas (nem tanto!) e principalmente familiares (minha esposa, merecidamente, ganhou uma placa em sua homenagem no chamado Wall of Honour, que fica no percurso).
Em minha reflexão destes 10 anos de Comrades, tenho me perguntado: o que mais me marcou nesta jornada? Teria sido a grandiosa sensação de herói da chegada, que, aliás, foi um dos motivos dos meus retornos a esta competição? Sim, mas é bem mais do que isso.
Seria, então, o clima de camaradagem entre os corredores, o espírito positivo e alegre que paira no ambiente da prova, ajudado pelo apoio dos sul-africanos espalhados por quase todo o percurso, exaltando calorosamente os estrangeiros? Ou, então, a inacreditável oportunidade de se ter conversas amigáveis e sinceras entre nós, corredores, sobre nossas ansiedades e preocupações com as big five (cinco grandes subidas do itinerário), sem o cansativo papo de "qual é o seu tempo?" ou "em quanto você fará?". Nesta prova, existe um clima de mais humildade e a conversa é sobre o sonho de somente terminar, o que é algo raro entre nós corredores.
Aliás, outra boa lembrança dessa corrida é a de ela ser uma das únicas disputas em que os últimos, fora os primeiros colocados, é claro, são os mais celebrados. Na última hora do tempo-limite, entre 11 e 12 horas, o estádio da chegada (em Durban) se enche de alegria e apoio aos corredores que finalizam exaustos. Há muito incentivo para os atletas passarem a linha de chegada antes do seu fechamento, pontualmente com 12 horas de competição, sem exceções (muitos corredores ficam a poucos metros da chegada, tristes, mas muito aplaudidos!).
Apesar de todas estas lembranças maravilhosas, o que mais teria me tocado e o que ficará de frutos por muito mais de uma década? A amizade gerada pela prova e a união e dedicação do meu grupo de amigos e familiares ficará eternamente como a maior lembrança deste feito.
Obrigado, camaradas, mas este Green Number (10762) tem muitos donos: Sílvia, Décio, Paulinho, Zé Luiz, Dezem, Adriano, Cabelo, Mané Miranda, Rodrigo, Reginal Neto, Branca, Manuel, Zé Aparecido, Elzo, Sofia, Pedro, Celso, Maria Izabel, Ester, Márcia, Andressa, Valéria, Giuliano e Nara. E também aos patrocinadores Manetoni e De Carvalho Garcia.
Fica aqui um agradecimento especial ao meu treinador e amigo, Décio Ribeiro Santos Jr, que me treinou todos esses anos, iniciou comigo a primeira prova em 2003 e neste ano voltou para completá-la comigo, tendo preparado um vídeo surpresa com mensagens dos meus amigos e da minha família antes da prova. Foi muito comovente!

(André Arruda, assinante de Campinas)

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