21 de setembro de 2024

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Notícias admin 12 de outubro de 2014 (0) (223)

A chave é ser constante, independente da situação

Chega a ser antagônico. Estar apto para algo surpresa, que ninguém pode prever. Sexto sentido ou bola de cristal não fazem parte do "kit da vida" das pessoas, pelo menos das que a gente tem conhecimento. Mas é possível, sim, estar pronto para algo inesperado. Se não é possível antecipá-lo, o negócio é aceitá-lo e proceder da melhor maneira possível.
Quando falamos em ser constantes na corrida, logo vem à nossa cabeça a constância no dia a dia dos treinos, na alimentação, no ritmo, manter-se na mesma velocidade enquanto o corpo clama o oposto. Mas ter essa constância e solidez diante de uma situação inusitada é algo que exige muito mais do corpo, e principalmente da mente.
A corrida de montanha é um verdadeiro laboratório sobre esse assunto. Por mais que sejamos macacos velhos nos quesitos estudar a altimetria, checar o percurso, se informar sobre os postos de hidratação, clima, solo e relevo da região, a natureza tem um poder enorme sobre nós. Tentar contornar esse domínio da mãe terra pode ser custoso para o corredor, mas é o caminho.
Estar preparado para o que der e vier, o famoso pau para toda obra, pode ser o perfil que melhor se enquadre nesse tipo de situação. Se você não tem esse espírito como item de série, tranquilize-se, porque isso pode ser "treinado", da mesma forma que a corrida.

MUDANÇAS DE PLANOS. No momento em que a situação foge da normalidade, o objetivo pode mudar e passa a ser simplesmente o de terminar a competição, sem sofrimento exagerado. Importante não concluir com aquele pensamento que qualquer corredor um dia já teve ao final de uma competição muito dura: "Eu nunca mais faço uma prova destas" (mesmo que este sentimento desapareça nos 5 minutos seguintes).
Para que esta situação seja amenizada, o importante é cadenciar o ritmo. A primeira opção é caminhar nas subidas. Muitas vezes caminhando somos mais rápidos ou eficientes do que correndo. Quando a subida é muito íngreme, com mais de 8% de inclinação, essa pode ser a melhor saída. A caminhada gera uma sensação mais confortável, porém não espere ficar exaurido para começar a andar, pois esse "refresco" já não terá tanto efeito caso você o inicie em esgotamento físico.
Outra boa opção é parar e apreciar a paisagem, sempre bonitas e surpreendentes quando estamos perto dos picos das montanhas. Pare e respire. Isso também lhe dará uma sensação melhor. Se for possível, converse com outro corredor, um curto bate-papo pode motivar e mudar toda a história. Conversar e caminhar ou correr faz com que ajustemos automaticamente nossa corrida ou caminhada a um ritmo confortável.
Para corredores bem experientes, a percepção de esforço, que também é treinável, pode ser a chave de uma boa corrida quando se enfrenta diversidades na prova. Um atleta que conhece seus limites pode ter um maior controle do custo do seu esforço, e dessa forma será possível dosar o ritmo e vencer essas dificuldades. Qualquer que seja sua decisão, você provavelmente terá que reajustar seus objetivos e estes reajustes podem amenizar suas frustrações.

FACA NO DENTE. Depois de cumprir o que foi relacionado acima, o que já é meio caminho corrido ou andado, carregar em sua mente o sentimento do objeto cortante entre as arcadas dentárias vai te tornar mais forte mentalmente.
Isso já se inicia com a tomada de decisão de correr na trilha. Você tem que querer isso de verdade, pois o mato vai coçar as pernas, a lama irá inundar os tênis, você vai tropeçar, escorregar, cair e várias outras situações podem acontecer nessa caixinha de surpresa que é o trail running. O que era uma subida pode se tornar duas, o que era uma descida tranquila se transforma em uma descida insana, e a água da mochila seca, a prova nunca acaba, a perna trava, e vem a mais clássica e inoportuna reflexão: Que raios eu estou fazendo aqui?
Essa é a hora que os dentes devem se cerrar mais ainda ao redor da faca e você se lembrar do porquê chegou até esse ponto. Se quisesse tranquilidade, poderia estar correndo uma prova na cidade, com mais comodidade. Mas não, você escolheu passar perrengue.
Para cultivar cada vez mais esse espírito, seja alternativo na sua preparação. Treine em dias de chuva, de frio, de sol escaldante, saia da zona de conforto, seja aventureiro. Mude o percurso, sempre atento à diversidade da montanha, portanto diversifique seu piso, suas subidas e descidas.
Nunca saberemos o que nos espera, não só na corrida, mas em tudo. Apesar de qualquer problema, o mais importante é finalizar o que nos propomos a fazer, mesmo sendo diferente do que havíamos planejado. Talvez as suas aventuras na montanha, no final das contas, contribuam para que você seja constante e esteja realmente preparado para o inesperado mais importante: os altos e baixos da vida.

Duas dicas fundamentais

– Para um bom desempenho em corridas de montanha, o treino em terrenos bem diversificados é extremamente importante; afinal, precisamos estar adaptados para poder improvisar em tudo, mas principalmente no ritmo, pois o que essas provas dificilmente permitem é um ritmo constate.

– Use a tecnologia a seu favor. Tênis específico para trilhas, GPS, mochilas de hidratação, suplementação auxiliam muito nas provas em meio à natureza. Por mais que você tenha se informado, na hora "H" a altimetria pode ser pior do que foi apresentada, o terreno mais acidentado do que o esperado, a lama deixada pela chuva da noite anterior mais escorregadia. Esses fatores podem fazer uma prova dobrar em seu tempo estimado; portanto, seja precavido.

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