Sem categoria admin 12 de outubro de 2014 (0) (180)

Treinar duas vezes por dia é para amadores?

Quando um corredor quer melhorar seu rendimento, começa a pensar no que fazer com seus treinos para atingir esse objetivo. Será que correr duas vezes por dia ajudaria? Atletas quenianos de alto rendimento costumam passar por períodos de treinamento muito intensos, chamados por eles de "ciclos intensivos", que duram geralmente três semanas. Durante essa fase, percorrem de 180 a 200 km por semana, correndo até três vezes por dia. A ideia é sobrecarregar o corpo que, dessa forma, é forçado a se adaptar.
A prática também é defendida por técnicos americanos famosos, como o fisiologista do esporte Steve Magness, treinador de atletismo na Universidade de Houston e ex-assistente de Alberto Salazar no Nike Oregon Project. Foi implantada quase que por acaso, com seus atletas universitários, que em épocas de prova reclamavam de cansaço por causa dos estudos. Magness passou a dividir, temporariamente, alguns treinos em dois períodos, e obteve bons resultados. Segundo defende em seu site, Science of Running, além de ajudar a encaixar a planilha na agenda, a jornada duplo obriga o corpo a desenvolver uma estratégia diferente de recuperação.
Pelos estudos feitos por Magness, divulgados no site, a tática pode ser usada tanto por corredores mais experientes que desejam melhorar suas marcas – acrescentar uma corrida curta e intensa nos dias de treino de qualidade – quanto por aqueles que desejam "ir mais longe", como um trote de 30 a 45 minutos, para aumentar volume, no fim de um dia que começou com intervalados ou outro de qualidade. Para estes últimos, o treinador americano frisa que o longão semanal não deve ser deixado de lado, pois é fundamental para construir força e resistência essenciais para as maiores distâncias.
O QUE DIZEM POR AQUI. No Brasil, para atletas amadores, o treino duplo normalmente não é indicado pela maioria dos técnicos. Mas já se admite, em alguns casos, que a estratégia pode ser uma boa opção se os devidos cuidados forem tomados. Autor de vários livros na área de Educação Física e preparação desportiva – o mais recente foi o lançamento da 3ª edição de Treinamento de Corrida de Rua: uma abordagem fisiológica e metodológica – versão revisada e atualizada -, Alexandre Lopes Evangelista acredita na prática, mas defende que não deva ser usada por qualquer corredor.
"Inteligentemente, a adição de treinos duplos em um programa pode ajudar a promover a aptidão, mesmo sem aumentar a quilometragem semanal. O mais importante é determinar qual é o propósito do treino duplo, ou seja, é preciso um objetivo claro que justifique o aumento da carga, como a participação em provas mais longas, como uma maratona ou uma ultra."
Evangelista também é taxativo quanto a essa condição para implementar a preparação dupla na planilha de um corredor amador: o corredor precisa ter uma boa base na corrida e um sistema muscular e o esquelético condicionado para suportar essa mudança. O erro, ou desvantagem, ao lançar mão das sessões duplas em corredores mal preparados, devido ao excesso de esforço, pode aparecer em forma de desânimo e desmotivação, que podem atrapalhar a sequência dos exercícios e impedir o alcance do objetivo.
"Treino duplo é vantajoso para corredores com volume alto de quilometragem por semana, a partir de 180 km, o que é surreal para quem treina para uma meia, por exemplo. Por isso, volto a frisar que a prática possa ser adotada por maratonistas e ultramaratonistas. Quem treina para meia-maratona ou 10 km pode manter uma rotina de três a cinco sessões por semana e se valer da prática de outras modalidades para aumentar resistência, desde que inclua fortalecimento muscular e respeite o descanso semanal", disse Alexandre Evangelista.
Uma metodologia semelhante é seguida por Christiano Markes, preparador físico e sócio diretor da Markes Running, que também acha desnecessária a jornada dupla para corredores em busca de provas de até 21 km. Assim como Evangelista, Markes aposta na "dobradinha" para quem se prepara para enfrentar maratonas ou ultras, embora modifique um pouco a metodologia: "Esses treinos devem ser divididos em dois dias, na verdade, como um microciclo de choque, para aumentar o volume semanal na planilha do atleta".
Segundo o preparador, esse tipo de treino dá opções que podem ser adaptadas de acordo com o período de preparação e a condição em que se encontra o atleta. Normalmente, ao ser adicionada à planilha, a segunda corrida diária deve ser realizada somente uma vez por semana, ter um volume menor e acontecer no dia que antecede o descanso. Um longão de 50, por exemplo, pode ser dividido em dois dias, tais como: 15 e 35 km, 20 e 30 km, 25 e 25 km, 30 e 20 km ou 35 e 15 km.

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