Quem já não se arrependeu de uma decisão ou atitude, por ocasião de uma corrida? Então, conhecer essas experiências vai ajudar muita gente a não repeti-las. Se quiser também dar seu depoimento, mande email para nós, com uma foto.
Fruta indigesta
“Na prática da corrida sempre há preocupação com alimentação, sobretudo a do dia anterior a uma prova ou mesmo um treino. Há uma máxima nesta questão: ‘Não teste alimentos novos e estratégias nutricionais em provas. Faça isso nos treinos’. Comigo não é diferente, principalmente porque tenho ‘chamadas’ frequentes da natureza (destempero gastrointestinal, dizendo assim). Então, procuro ter alguns cuidados antes de treinos ou provas. Mas houve uma sexta-feira que… eu deveria cuidar mais ainda da hidratação e alimentação para estar zerada para o longão de 24 km no sábado, um treino importante antes da maratona. Acordei bem mais cedo para resolver o ‘departamento’ gastrointestinal. Ritual feito com sucesso. Tralhas separaras, parti para o campus da ESALQ, em Piracicaba, para correr. Foi minha sorte porque lá o banheiro é de fácil acesso. No km 5, cólica intestinal. Dou um tiro para chegar ao banheiro. E foi assim de km em km, até o km 10. Treino abortado. Pensei várias vezes: ‘O que foi que comi? Será que é uma enterovirose?’ Não parecia ser intoxicação, ou vírus. Não tinha mal-estar. Aí que lembrei: a pitaya! Sexta à tarde havia comido pela primeira vez essa fruta, que acabou com um treino importantíssimo no ciclo de preparação para uma maratona. A partir daí, concluí que algumas coisas nem em treino podem ser testadas. Até uma fruta pode estragar tudo. Nunca sabemos como será a digestibilidade daquele alimento. Quais efeitos provocam e qual a quantidade adequada para consumo sem ‘efeitos colaterais’. Mas tudo é aprendizado. Pitaya hoje em dia somente com muita parcimônia e jamais antes do longão.”
Cris Iacomussi, Americana, SP, @crisrunner
Provas seguidas
“No ano passado, minha prova alvo era a Uphill Marathon. Após esses 42 km, ainda tinha nos planos ir para os 75 km da Bertioga-Maresias. Para sustentar o volume entre as duas competições, fui participando de corridas pelo caminho, como treino. Mas não eram quaisquer provas. Além de meias no asfalto, inventei de fazer o Desafio das Serras (20 km + 20 km em dias seguidos) e ainda o Desafio 28 Praias Costa Norte (42 km na categoria solo). Foi uma seguida da outra, em finais de semana consecutivos. Hoje me pergunto: ‘Qual a necessidade disso?’ Se não bastasse o cansaço pelo Desafio das Serras, ainda estava de TPM quando fui para a 28 Praias, o que me deixou totalmente sem força e potência. Minhas pernas simplesmente não respondiam. ‘Apanhei’ pelas praias de Ubatuba. Sofri demais em um terreno que estava bem mais técnico por conta das chuvas, além de penar nas partes com corda, em que meu ombro instável saía do lugar. Essa foi a única vez em 6 anos que parei no meio pensando seriamente em desistir da prova. Concluí, mas não recomendo a ninguém fazer essas loucuras. Com o tempo e as experiências vividas, vamos ficando abusados. Mas respeitar o corpo é fundamental.”
Karina Teixeira, São Paulo, SP, @corredoradavidareal
Em cima da hora
“Comecei a correr muito nova, há 30 anos, e com 21 anos de idade já participava da primeira maratona. Nestes anos de corrida, já errei muita coisa. Fui fazer a Maratona de Paris em 1996, que seria minha segunda maratona, mas a primeira internacional. O voo atrasou e, no sábado à tarde, ainda estava numa conexão no aeroporto de Bruxelas. Que aflição! Que desespero! Cheguei na véspera da maratona e havia pedido para uma amiga querida pegar o meu kit (na época era permitido). Desembarquei em Paris sábado à noite para correr domingo de manhã. Conheci a cidade literalmente correndo. Depois que passou a prova fiquei muito chateada e pensando por que não me programei para chegar com antecedência, até porque o mais gostoso desses eventos é poder participar da confraternização pré-prova. É um momento de conhecer pessoas, fazer amigos e curtir. Mesmo depois do ocorrido, cometi um erro parecido 17 anos depois, chegando no dia, sem dormir, para correr uma ultra. Hoje em dia procuro descansar o máximo que posso para evitar estresse físico e emocional de chegar muito em cima da hora. Mas, mesmo com meu longo histórico de corrida, confesso que ainda cometo erros, como caminhar por horas e horas no shopping na véspera. É a tal da história: ‘vivendo e (não) aprendendo’.
Juliana Mansano da Silva, São Paulo, SP, @julianamansanodasilva
FANTASIA E REALIDADE
“Fui para minha segunda maratona, exatamente 6 meses depois da primeira, cheia de expectativas e achando que já era muito experiente. Larguei com uma amiga que ia para sua estreia e estava muito apreensiva. Só que ela corre muito mais rápido do que eu. Na empolgação da adrenalina da largada, fui acompanhando um pace surreal para mim. Pensava: ‘Se conseguir manter essa velocidade com ela me puxando vai ser maravilhoso, além de ter companhia durante a prova todinha’. Só que não… no km 8, meu bom senso falou mais alto e voltei para meu ritmo, mas a conta veio no km 23. A partir daí tive que alternar corrida e caminhada até o final. Fechei a segunda maratona 13 minutos mais lenta que a primeira. Meu conselho? Não fuja do planejado. Você treinou tantos meses para esse grande dia. Não coloque tudo a perder. Guarde a ‘sobra’ para o final, que com certeza irá precisar.”
Karina Helfenstein, São Paulo, SP, @karina_helfenstein
Futebol na véspera
“Cada maratona, uma história, mas acho que o maior erro que já cometi, nas 20 vezes que corri essa distância, não foi durante a prova, mas antes. Em 2009, viajei para a Maratona de Buenos Aires, e fiz tudo certinho, treinei bem, cheguei confiante. Na véspera, fiquei sabendo que haveria um jogo da Argentina, no Monumental de Nuñes, última rodada pelas Eliminatórias. Se perdesse, ela estava fora do Mundial. O jogo era no fim de tarde e, nas minhas contas, daria tempo de voltar tranquilo para o hotel e arrumar as coisas para a maratona. O que eu não contava era com uma tempestade que caiu no segundo tempo do jogo. As ruas no entorno do estádio ficaram alagadas. Terminado o jogo, meu transfer não conseguia chegar para me levar de volta ao hotel. O tênis que eu estava usaria no dia seguinte. Resumindo, cheguei ao hotel lá pelas 23 horas. Até arrumar alguma coisa para comer e aprontar os itens da prova, já passava da meia-noite quando consegui deitar. Pensando que acordaria antes das 5 horas, é o pré-prova que não recomento a ninguém. E o tênis? Quase queimei o secador do hotel tentando melhorar a situação dele. A lição que ficou foi ‘cuidado com as atividades na tarde anterior a uma corrida importante. Por mais inofensivas que pareçam, podem colocar tudo a perder.”
Rodrigo Previatti, São Paulo, SP, @runpreviatti