Notícias admin 12 de outubro de 2014 (0) (148)

Meia de Nice: para correr forte

Várias dúvidas martelaram minha cabeça quando saí do hotel e senti o vento gelado, a chuva fina e notei dez graus no termômetro. Que roupa usar na prova, blusa impermeável? Camiseta mais quente? E se esquentasse? Assim começou o meu domingo 27 de abril, dia da 23ª Meia-Maratona de Nice (França).
Nice é daquelas cidades que conquistam os visitantes desde o primeiro momento. É considerada a capital da Riviera Francesa, tem cerca de 350 mil habitantes e o segundo aeroporto mais movimentado do país. Também é o segundo destino turístico da França, só perdendo para Paris. Não é barata para os turistas, mas os preços, em alguns lugares e serviços, muitas vezes podem ser comparados aos de São Paulo. O aeroporto fica a apenas 6 km do centro e saindo dele a gente tem o primeiro contato com o mar azul turquesa do Mediterrâneo e os prédios antigos, porém cuidadosamente conservados, da avenida mais conhecida da cidade.
E foi nessa avenida, a Promenade des Anglais, a largada da Meia, às nove e meia da manhã. A chuva parou, e decidi correr com uma blusa de manga comprida embaixo da camiseta oficial da prova. Acertei! Junto com a disputa dos 21 km, também ocorreu uma de 10 km, o que tornou a saída mais alegre. Os concorrentes largaram em baias distintas, cada uma em um lado da avenida, separadas por grades altas que isolavam os corredores. Fiscais rigorosos também impediam a mudança de lugar e só no fim do primeiro quilômetro os dois grupos se uniram numa pista só.

LARGADA SILENCIOSA. A partida foi estranha, sem tiro, nem apito ou buzina. Comecei a correr porque os da frente correram. Os corredores seguiram pela charmosa avenida beira-mar por quase um quilômetro. Passamos em frente ao hotel Negresco, um prédio belíssimo no estilo Belle Époque e dobramos na Boulevard Gambetta, em direção à estação de trens. É uma avenida com árvores dos dois lados, mas estava quase deserta de público. Demos a volta pela estação e rumamos para o porto. Ali é uma delícia para os olhos: correr olhando centenas de lanchas e iates gigantescos, numa cena que normalmente a gente só vê no cinema. Depois alcançamos o ponto de partida, onde terminou a disputa pelos 10 km, e continuamos pela praia até o aeroporto, que fica na outra ponta da Promenade. Para completar os 21 km, retornamos pelo sentido contrário.
Os atletas da ponta fizeram uma chegada sensacional. Três quenianos disputaram, passada a passada, até o fim. Vitória de Kenedy Kipyeko (1:01:31), seguido por Charles Ogari (1:01:32) e Isaac Birir (1:01:34). O recorde da competição (59:57) é de 2012. A campeã foi a queniana Janet Kisa, com 1:11:01. A meia teve 3.344 concluintes, enquanto nos 10 km foram 2.269. Em relação à minha prova, paguei o preço por treinos irregulares e uma série de problemas nas semanas anteriores. Fechei em 2:09:29. Meu desafio de correr em menos de duas horas os 21 km continua…
Nice é uma cidade linda, o circuito é plano e a pista perfeita. Corrida típica para fazer bom tempo. O que não foi suficiente para esconder alguns problemas. A entrega dos kits foi numa feira pobre, com cerca de 15 barracas, a maioria oferecendo inscrições para outras disputas. A hidratação também deixou a desejar – apenas quatro postos, nos quilômetros 6, 10, 15 e 18; distribuição confusa, com pouca gente para encher os copos, o que obrigou os corredores a abrir garrafas de dois litros de água.
Mas é preciso registrar os acertos da organização: largadas separadas por grades para cada prova; chip colado no verso do número do peito, sem devolução; postos de hidratação com água, laranja em gomos e Coca-Cola. Para estimular os atletas amadores, foram oferecidos prêmios de 100 euros para os que fizessem a meia em menos de 1h09. Onze conseguiram.

* Carlos Tramontina
é jornalista da TV Globo São Paulo

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