Notícias admin 12 de março de 2013 (0) (95)

São Silvestre quebra a barreira dos 20 mil

A organização da São Silvestre passou semanas falando em 25 mil corredores, inclusive no dia da corrida. O número de concluintes não foi tão grande assim, mas na 88ª edição, pela primeira vez, a principal e mais famosa prova brasileira quebrou a barreira dos 20 mil, com 20.716 completando os 15 km, segundo dados disponibilizados no site oficial (www.saosilvestre.com.br). Foram 16.418 homens e 4.298 mulheres. Houve ainda 98 concluintes nas categorias especiais. Somando todos os números, chegamos a 20.630. Mas, pelo grande índice de "pipocas" presentes na corrida (muitos com números de peito de edições anteriores), é provável que o total seja mesmo em torno dos 25 mil.

Apesar das críticas ao valor de R$ 120 da inscrição e da confusão da largada, que segue sem qualquer separação por ritmo e uma bagunça total (com corredores levando mais de 20 minutos para passar pelo tapete de cronometragem na largada), a São Silvestre continua crescendo, aos poucos. Tinham sido 18.042 concluintes em 2010 e 19.157 em 2011. Este ano teve ainda o agravante de centenas de corredores derrubando ou pulando as grades na parte central da Paulista, tornando a saída ainda mais lenta e confusa, sem contar o risco de quedas.

Pela primeira vez nos 88 anos de história, a São Silvestre foi realizada pela manhã, com largada às 9h para o público em geral. A chegada também voltou para a Avenida Paulista, depois da experiência de terminar no Ibirapuera, em 2011. Ao final da corrida, Júlio Teodoro, diretor-geral da prova, disse que o horário deverá ser mantido neste ano.

"Se depender da Fundação Cásper Líbero, vamos manter o período da manhã. O horário agradou e todos gostaram. Todos os atletas terminam a corrida por volta das 12h30 e, a partir das 15 horas, o espaço já está liberado para o público da festa de Réveillon", afirmou. Ele disse ainda que o objetivo da Fundação, realizadora da prova ao lado da Rede Globo, é de liberar 30 mil inscrições em 2013.

AFRICANOS DO BRASIL. Mesmo sem contar com atletas da elite internacional, o domínio foi todo dos africanos, residentes temporariamente no país. Nas dez posições no pódio (cinco no masculino e cinco no feminino), o único "intruso" foi o brasileiro Giovani dos Santos, quarto entre os homens com 44:50. Tatiele de Carvalho, a melhor brasileira, terminou na sexta posição, em 54:10. Os vencedores foram Edwin Kipsang (44:04) e Maurine Kipchumba (51:42), ambos do Quênia. O calor foi um adversário para todos, amadores ou profissionais – a prova começou com 22°C e terminou com 27°C, segundo dados da organização.

Entre os homens, os brasileiros partiram para a dianteira no primeiro quilômetro da prova, mas em pouco tempo o grupo de africanos neutralizou qualquer reação. O ritmo forte foi mantido do começo ao fim, puxado principalmente por Mark Korir, Joseph Aperumoi e o próprio Edwin Kipsang. "Foi um percurso muito difícil, com muitas subidas, o que não é meu forte. Mas eu tinha um bom ritmo e consegui vir forte, abrindo um pouco no final da prova. Estou muito feliz", disse Kipsang, de 24 anos.

Giovani dos Santos comemorou a quarta posição e o fato de ser o melhor brasileiro na São Silvestre. "Esperava que a temperatura estivesse mais quente e talvez isso me permitisse um melhor resultado. Mas estou feliz e agora é comemorar e já voltar a trabalhar para em 2013 buscar a vitória."

No feminino, logo após a largada, as brasileiras até impuseram um bom ritmo. Marily dos Santos e Larissa Quintão puxaram o pelotão, mas perto do km 4, os africanas encostaram e a partir daí a liderança ficou o tempo todo com as estrangeiras. Na subida da Brigadeiro, Maurine, que já liderava, pôde até diminuir o ritmo. "Não achava que fosse vencer, mas percebi logo no começo que estava me sentindo bem e fiz meu ritmo", disse a campeã.

Tatiele de Carvalho, por outro lado, festejou muito, mesmo fora do pódio. "Minha meta desde a largada era ser a primeira brasileira na disputa. Fico feliz por ter conseguido isso. Queria ter chegado ao pódio, pena que não deu, mas posso realmente comemorar. É uma emoção especial, pois estou há quatro anos tentando isso (ser a melhor brasileira) e o resultado veio. Não é para qualquer uma chegar à frente de outras atletas fortes, como a Marily e a Zeferina Baldaia", disse ela, que não teve direito à hospedagem concedida pela organização, apesar de seu currículo razoável.

 

CORRIDA CONTINUA UMA FESTA E COM FALHAS

A São Silvestre a cada ano segue como a prova mais brasileira, com representantes de todos os cantos do país. Fantasias das mais diferentes e tamanhos possíveis (até o Incrível Hulk esteve presente) misturam-se a estreantes em corridas e nos 15 km, caminhantes, gente fora de forma que só lembra do esporte no dia 31 de dezembro… um público totalmente heterogêneo que se mistura e convive com falhas de organização.

A largada segue uma bagunça total, sem separação de ritmo e, nesta edição, teve um agravante a mais: o fluxo seria como sempre pelo lado direito da Avenida Paulista, no sentido Consolação. Porém, as grades laterais deixaram vários espaços e muita gente posicionou-se no lado esquerdo próximo ao pórtico. Ao soar a buzina, houve uma invasão da pista esquerda para a da direita. A lentidão foi total. Quem estava mais atrás no lado correto, levou até 30 minutos para cruzar o tapete de largada.

No primeiro dia da entrega dos kits, houve ainda longas filas, com tempo médio de espera superior a 2 horas, mas nos outros correu tudo bem. No dia da corrida, a hidratação deixou a desejar, já que houve duas placas de "postos de hidratação" sem água durante o percurso. Com poucas mesas nos quatro postos de água (não resfriada) montados durante os 15 km, em cada um era preciso parar, esperar um pouco e caminhar para pegar as garrafinhas. Na chegada também, devido ao funil estreito montado, houve demora para retirar a medalha de conclusão – por sinal, muito bonita.

Mesmo assim, a festa é enorme e contagiante. Por diversos motivos. Adriano Santana Santos, de São Paulo, festejou a vida na São Silvestre. Em janeiro, ele passava pelo nefrologista com diagnóstico de fazer hemodiálise, que não foi necessária devido ao transplante de rim, doado pelo irmão Handerson. No dia 31, correu a São Silvestre. "Quem enfrenta uma situação como a que eu vivi, deve ver que o problema não é o fim e que pode voltar a treinar numa boa. Nada de desanimar", afirmou.

Caio Mandolesi, de Jaraguá do Sul (SC), preparou-se durante 15 meses para os 15 km da São Silvestre. Todo o processo pode ser acompanhado no site www.15m15k.tumblr.com. "A amizade, o companheirismo e a festa mandam na São Silvestre. Existem os chatos que furam a fila na largada, os que não sabem jogar a garrafa de água fora e os que ficam andando ou correndo em ritmo muito lento no meio da rua, ao invés de ir para as laterais. Mas em nenhuma corrida que já participei o sentimento de que éramos todos uma só equipe, correndo juntos, foi tão forte", disse Caio. "Cruzei a linha de chegada espremido entre centenas de pessoas e só parei de correr porque todos andavam nessa parte, como se tivessem passado os portões do paraíso. Eu estava realizado, agradecido, suado, cansado, feliz. Caminhei mais um pouco e comecei a chorar, meio contido, meio escondido pelo boné."

Eugene Pierrobon, do Rio de Janeiro (RJ), foi outro que realizou um sonho e uma promessa antiga ao completar a São Silvestre. "Minha prova foi difícil, porque no último mês matei mais treino do que deveria, e a briga contra o joelho e a cabeça foi complicada. Para quem treina no Rio, as subidas não são fáceis. Depois do km 10, pensei em desistir, cheguei a caminhar por uns 300 metros, mas coloquei a cabeça em ordem, pensei nos amigos na chegada, na festa, na minha superação", afirmou. "Me arrastei, mas quando finalmente virei na Paulista, não me contive. Os últimos metros foram de lágrimas, de completa alegria. Cruzei a linha de chegada e caminhei lentamente para pegar a minha medalha. Queria congelar o tempo. Queria sentir o sabor daquela pequena conquista."

 

CADEIRANTE MORRE APÓS ACIDENTE

O fato trágico da 88ª edição da São Silvestre foi a morte do cadeirante Israel Cruz Jackson de Barros, de 40 anos, que perdeu o controle da cadeira de rodas e sofreu uma colisão contra um muro, próximo ao Estádio do Pacaembu, após a descida da Rua Major Natanael, logo no início da prova.

De acordo com comunicado oficial da organização, Israel chegou a ser levado consciente às 7h35 para a Santa Casa de São Paulo, mas morreu às 8h50. Os custos do transporte do corpo para Belém e do enterro foram pagos pelos organizadores da São Silvestre, segundo nota divulgada.

As causas da morte e do acidente estão sendo apuradas pela Polícia Civil de São Paulo e tanto o relatório da perícia quanto do Instituto Médico-Legal (IML) têm previsão de conclusão e divulgação para o período entre fevereiro e março.

Entre os cadeirantes, Jaciel Antonio Paulino foi o tetracampeão na São Silvestre. O segundo colocado foi Fernando Aranha Rocha, enquanto Carlos Neves de Souza completou o pódio.

 

TATIELE: DAS PISTAS PARA AS RUAS

Especialista em corridas de pista, dos 3.000 m aos 10.000 m, Tatiele Roberta de Carvalho, de 23 anos, natural de Poços de Caldas (MG), vem fazendo a transição com sucesso para as provas de rua, como comprova a 6ª posição na São Silvestre de 2012 e 1ª brasileira. No ano passado, a atleta já tinha terminado em 4º lugar nos 10 km da Tribuna, em Santos (33:37), e ainda foi a 3ª na etapa de São Paulo do Circuito Caixa (com 34:40 nos 10 km). Em 2011, chegou em 4º lugar na Volta da Pampulha, prova da qual teve de abrir mão no ano passado na preparação para a São Silvestre.

O contato com o atletismo começou quando Tatiele trabalhava na Guarda Mirim de Poços de Caldas. Também jogava futebol e pesava 15 kg a mais do que hoje. "Fui descoberta no parque municipal de minha cidade, quando meu técnico (e hoje marido, Agnaldo Alexandre) estava com seu grupo de atletas fazendo um trabalho de base. Ele me observou e perguntou se eu praticava atletismo. Disse que sim, mas de forma amadora. Conversamos e ele afirmou que eu tinha talento. Então, pedi que ele me treinasse e estamos juntos até hoje", afirmou Tatiele em seu perfil na página da Nike, uma de suas patrocinadoras.

Em 2010, vieram os primeiros resultados, como o ouro nos 5.000 m nos Jogos Sul-Americanos Sub-23 de Medellín (Colômbia) e o 1º lugar nos 1.500 m do Troféu Brasil de Atletismo. De lá para cá, a atleta vem evoluindo tanto nas pistas quanto nas ruas. Entre suas principais conquistas na carreira estão os títulos brasileiros sub 23 nos 5.000 m e 10.000 m. Além do ouro nos 3.000 m no Campeonato Ibero-Americano da Venezuela (9:20.07) e da Copa Brasil de Cross-Country nos 8 km no ano passado, em Rio Claro – no Sul-Americano, ajudou o Brasil a levar o título no geral no feminino.

Na temporada de 2012, Tatiele terminou na 1ª posição no ranking brasileiro da CBAt dos 3.000 m (9:20.07), em 9º lugar nos 1.500 m (4:31.70), em 3ª nos 5.000 m (16:32.98) e em 4ª nos 10.000 m (34:28.31). No Troféu Brasil de Atletismo do ano passado, foi 3ª colocada nos 5.000 m (16:32.98) e 4ª nos 10.000 m (34:57.94).

No dia 5 de janeiro, após festejar muito o fato de ser a melhor brasileira na São Silvestre, casou-se com o técnico Agnaldo Alexandre. A dupla treina em Limeira, SP. Entre os objetivos para este ano estão o Mundial de Meia-Maratona da Polônia e o Campeonato Mundial de Atletismo de Moscou, na Rússia. Sem contar a São Silvestre, em dezembro, quando espera estar no pódio e se manter como a melhor brasileira. Entre os sonhos futuros, além do sucesso na carreira, está a compra de uma casa para a mãe.

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