Performance e Saúde admin 10 de outubro de 2012 (0) (162)

Do ritmo estável para o progressivo

Os atletas de alto rendimento, os recordistas mundiais e medalhistas olímpicos seguem uma dura rotina de treinamentos, muitos deles desde os 10-12 anos de idade. Para se alcançar as glórias dos vencedores mais destacados, a preparação esportiva é determinada por rigorosos controles em relação aos meios e métodos de treinamento. Quanto mais se avança nos resultados, quanto mais o corpo responde às tarefas da preparação esportiva, mais elevadas se tornam as exigências.

Um dos segredos desse caminho é o "potencial de treinamento", ou seja, a eficiência dos meios e métodos de treinamento esportivo no alcance de novos patamares da condição atlética. Isso significa que cada recurso apresenta características que devem ser utilizadas em momentos específicos e especiais da preparação para que se obtenham resultados consistentes. Dessa forma, a eficácia da preparação é o resultado da aplicação coerente de cada aspecto do treinamento no momento certo.

Na prática, representa dizer que na escalada do atleta em direção às suas melhores marcas, ele deve recorrer a meios e métodos específicos apenas quando os recursos mais gerais da preparação já estiverem sido esgotados ou, pelo menos, já terem sido aplicados exaustivamente nos momentos iniciais e intermediários do seu treinamento.

O potencial de treinamento, portanto, é fator determinante do sucesso e da longevidade no esporte, pois ele indica o quanto o atleta conquistou, em termos de resultados, utilizando-se de recursos gerais, específicos ou especiais da preparação.

 

TRÊS RESPOSTAS. Já pelo quesito "treinabilidade", isto é, a resposta do organismo aos estímulos do treinamento físico, o atleta que apresenta melhores condições para alcançar o topo da colina é aquele que:

(1) Sem nenhum treinamento específico ou especial já consegue fazer marcas expressivas;

(2) Obtém uma "base" consistente de treinamento (ajustes dos índices fisiológicos às exigências da modalidade) por meio de uma preparação geral;

(3) Apenas após a consolidação da "base", utiliza-se de meios e métodos de preparação cada vez mais específicos e especiais.

De modo geral, o atleta com mais recursos orgânicos naturais é aquele que alcança boas marcas apenas com a utilização de meios e métodos de menor potencial de treinamento, pois a sua treinabilidade é alta, ou seja, a sua resposta fisiológica aos estímulos é mais rápida que a dos demais. Tal atleta, após a consolidação de uma base geral de preparação, ao utilizar-se dos recursos específicos e especiais da preparação, é capaz de obter marcas de elevada exigência competitiva.

Pelo "potencial de treinamento" e pela "treinabilidade", o treinador é capaz de elaborar uma programação mais eficiente para cada corredor. Vejamos a seguinte comparação entre as variáveis no caso do método contínuo de corrida:

 

MÉTODO CONTÍNUO

a) Estável: o corredor realiza o exercício em um ritmo estável, ou seja, não há variações significativas em relação ao esforço físico empreendido.

b) Variável: o treino é realizado com variações de ritmo e intensidade, que podem ser programadas pelo treinador ou ficar a critério do atleta o momento das trocas de ritmo.

c) Progressivo: o corredor inicia em um ritmo confortável e, conforme o avançar do percurso, vai aumentando a intensidade do esforço até o final da tarefa.

Considerando essas três variações do método contínuo, podemos dizer que o potencial de treinamento de cada uma delas vai do menor alcance (ritmo estável) para o maior (ritmo progressivo). Os resultados que se obtêm com cada um, portanto, são diferentes.

Assim, na preparação de um corredor, a primeira variável a ser utilizada é o ritmo estável, passando posteriormente ao variável e, por fim, em momentos mais próximos da competição, utilizar-se do ritmo progressivo. Daí a necessidade do planejamento do rendimento, que nada mais é do que a distribuição, ao longo da preparação, dos recursos do treinamento.

Com base nessa evolução, os corredores amadores podem obter seus recordes pessoais com uma programação que atenda a tais exigências da preparação esportiva. Ou seja, no decorrer do seu plano de rendimento, os recursos metodológicos utilizados devem partir do "mais fácil" para o "mais difícil" – do estável para o progressivo.

Os recursos de menor alcance, entretanto, não devem ser deixados de lado em nenhum momento da preparação, pois, além de serem eles os responsáveis pela conquista da base geral do condicionamento, também servem aos propósitos da recuperação orgânica nos momentos de maior intensidade da preparação.

Já os intermediários, que aqui estão representados pelo ritmo variável, entram como complemento de grande utilidade em todas as etapas da preparação, pois condicionam o organismo às exigências de uma maior intensidade de esforço e manutenção da velocidade.

No caso da variável "progressiva" do método contínuo, por sua extrema exigência orgânica e dadas as circunstâncias em que o mesmo deve ser empreendido, tal recurso apenas será utilizado nos momentos finais da preparação, pois será o fator diferencial do treinamento, isto é, ele reproduz aquilo que o corredor deverá fazer na competição.

De um modo geral, a proposta de um treinamento pautado nessa lógica apresentaria o seguinte quadro referencial.

Apesar de apresentarem as respostas mais eficientes em relação ao alcance dos resultados competitivos, os meios específicos, como o ritmo progressivo, não devem ser utilizados com demasiada frequência.

Explica-se: sua elevada exigência de execução pode comprometer os recursos naturais do organismo, esgotando o potencial do atleta em pouco tempo e abreviando a sua competitividade. Os riscos de lesões aqui são altos. Há inúmeros exemplos de atletas que aparecem "arrebentando" e, repentinamente, desaparecem do cenário.

A sequência coerente, a moderação e a paciência são os principais elementos que garantem aos corredores de fundo não apenas a obtenção de grandes marcas, mas também uma carreira mais extensa e saudável. 

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