Sem categoria admin 3 de setembro de 2012 (3) (232)

Sub 40 sabor chocolate

Correr os 10 km abaixo de 40 minutos não é uma tarefa fácil. Longe disso. Para as mulheres, então, as dificuldades potencializam-se. A Tribuna 10 km de Santos, considerada a prova de rua mais rápida do Brasil, teve 5.196 concluintes femininas nesta temporada e somente 31 foram sub 40, incluindo a elite (portanto, 0,6% das mulheres). Entre os homens, dos 8.768 concluintes, 288 foram sub 40 (3,29%).

No Desafio CAIXA-CR 10 km, a festa de Nathalia Réa é ainda mais especial. Ela bateu na trave na própria Tribuna (40:08) e chegou ao sonhado sub 40 no dia 25 de junho, na segunda etapa da Track&Field Villa-Lobos, em São Paulo – 39:41. Após comemorar, a primeira coisa que fez foi comer um chocolate. Desde fevereiro, tinha feito uma promessa: só colocar o doce na boca depois de ser sub 40.

"Na verdade, a luta começou no ano passado, quando acabou o Desafio SP-Rio (em outubro de 2011). Naquela época, eu decidi que queria fazer 10 km em 40 minutos. Estava correndo para uns 43 minutos mais ou menos. Minha última prova oficial da distância tinha sido nos 10 km da maratona de SP de 2011, com 45:15", disse Nathalia. "O Desafio Sub 40 lançado pela revista veio na hora exata, encaixou certinho no meu treinamento. Fiquei muito motivada, mas achava que estava distante de conseguir. De qualquer maneira, sabia que iria tentar até conseguir. Sou muito competitiva, mas a competição não é com as outras meninas, é com o relógio."

Nathalia conversou com o treinador (Vanderlei Severiano, o popular Branca), que periodizou o treinamento, mas antes mandou um aviso: vai doer. "E doeu mesmo. No meu período de base, cheguei a correr sete dias por semana. Faço dois dias de fortalecimento muscular também. Não tinha descanso. Os treinos eram pesados e foram acrescentadas rodagens leves também nos dias de fortalecimento muscular. Fiquei muito cansada. Morria de medo de olhar as minhas planilhas porque eram assustadoras. Minha prova-alvo do ano era os 10 km da Tribuna de Santos", recordou.

De acordo com a corredora, a ansiedade era grande para a prova santista, porém, por mais que cumprisse os treinos da melhor forma possível, algo dizia que ainda não era a hora. "Eu sabia que não tinha uma margem de segurança para conquistar o sub 40 naquele dia e realmente… Fiz 40:08. Bati na trave. Corri muito bem, não fiquei frustrada, pois tinha me esforçado e feito o meu melhor. E foi uma evolução e tanto. Fiquei orgulhosa e feliz. Ao mesmo tempo, resolvi relaxar, e até acredito que perdi um pouquinho da minha motivação naquela hora", afirmou Nathalia, que decidiu mudar a estratégia. "Resolvi não me cobrar tanto, apesar de querer muito o sub 40. Entendi que viria naturalmente. Continuaria me esforçando nos treinos, mas sem aquela cobrança estressante de uma ‘prova-alvo do ano'. A tensão atrapalha demais. Os dias se seguiram, dei uma relaxada com a alimentação, até perdi uns treininhos, fiz outros muito fortes e bons…", disse.

Nathalia lembra que os amadores como ela dividem o tempo com o trabalho (é dentista), incluindo a especialização em vias de finalização, monografia para escrever, consultório, reforma da clínica… "Resolvi fazer a Track&Field Villa-Lobos. Queria curtir a minha família, o passeio e a prova também. Estava me sentindo feliz antes da largada. Nessas horas, a adrenalina é sempre alta, mas consegui segurar a ansiedade e até fiz split negativo. Comecei a 4:02 de ritmo e terminei em 3:40. O Dario (Garcia, seu noivo) correu comigo e foi muito bom. Uma das melhores sensações do mundo foi quando faltando 300 m ele me disse: ‘Vai que dá, amor' Eu pensei: ‘Quero comer chocolate'. Tinha feito uma promessa: enquanto não fizesse o sub 40, não poderia comer chocolate. Estava desde fevereiro sem comer um bombonzinho sequer. Às vezes, sonhava que estava comendo. E no sonho eu ainda pensava: não podia ter comido."

Segundo Nathalia, o Desafio foi um grande aprendizado, tanto na corrida quanto na vida pessoal. Ela aproveitou para mandar um recado às outras mulheres inscritas no sub 40 e no sub 50. "Muitas vezes, a gente se pega dizendo: ‘Não vou conseguir isto.' Mas por que não? Eu costumo dizer que na vida são muitos momentos de luta para poucos de glória; tudo depende do objetivo. Você quer muito? Então você pode. Qualquer coisa! Não é fácil. Não mesmo. Dói. Tem dias em que você não quer ir para a pista, o treinamento para performance às vezes deixa de ter o prazer diário para ter um prazer imenso, inexplicável, na linha de chegada", afirmou.

E como foi esse momento ao cruzar o tapete de chegada? "Chorei muito, porque lutei demais por esse sub 40, até hoje ainda não acredito que consegui. Chega um momento em que quem leva a gente é a cabeça, não as pernas. Tem que brigar de verdade, com toda força e vontade, que o resultado vem. Não pode desanimar. Minha próxima meta é 10 km para 38 minutos. A Contra-Relógio bem que poderia lançar mais um desafio para eu não perder o pique, gostei muito disso", disse Nathalia.

 

AMAZONAS. Quem também pode usar com orgulho a camisa sub 40 é Admir Gomes de Moraes, de Manaus. "Após meses de treinamentos puxados, correndo em média 15 km todos os dias, finalmente consegui a minha maior meta deste ano: 39:27 na 9ª Corrida PM Manacapuru, em 17 de junho. Dia de calor típico do Amazonas, beirando 40°C e umidade de 90%", relembrou. "Depois de passar os primeiros 5 km em uma média de 3:45 por km, percebi que tinha chegado o dia. Nos 5 km finais o suor escorria pelo rosto e fazia arder os olhos. Faltando 2 km para o final, pensei que não poderia morrer na praia, quer dizer, na floresta, e tinha de dar tudo para manter o ritmo de finalizar abaixo dos 40 minutos", disse Moraes. "Lembrei então das provas anteriores deste ano, quando me faltaram apenas alguns segundos (na Track&Field Manaus fiz 40:20, por exemplo), e parecia que a chegada não se aproximava nunca, até que o ouvi o som da banda de música da cidade e olhando meu cronômetro percebi que tinha conseguido. Foi um momento muito especial."

A etapa do Circuito Caixa de Belo Horizonte foi palco do sub 40 de Lafaiete Valadares dos Santos, de Contagem – 38:01 diante da esposa, Lúcia, e da filha, Isabela, que o aguardavam na linha de chegada. "De quebra subi no lugar mais alto do pódio na faixa etária, recebendo uma linda medalha. Tive um bom desempenho, pois na noite anterior tinha participado de uma prova de 3 km na cidade de Conselheiro Lafaiete, onde integro a equipe Acorlaf", disse Santos. "Com este êxito, agora vou buscar novos desafios. Tenho certeza que se não fosse assinante da melhor revista de corrida do Brasil, dificilmente estaria sempre tentando superar limites, tanto na vida esportiva como na vida pessoal ou profissional. No esporte temos vários exemplos de superações e na corrida há uma solidariedade diferenciada das outras modalidades. Valeu Contra-Relógio."

 

MOTIVAÇÃO.  Os relatos de outros corredores participantes do Desafio serviram de motivação para Orlando Rossini, de São Paulo, tomar coragem e buscar o sub 40 ainda em 2012. Ele se inscreveu no mês de julho. "Tinha feito este planejamento para o ano que vem, mas farei o possível para atingir meu objetivo este ano. Mudei os planos motivado pelos depoimentos daqueles que atingiram suas metas no Desafio CAIXA-CR. Meu melhor tempo nos 10 km foi este ano na Tribuna de Santos, 42:44. Sei que terei muito trabalho, mas desafio fácil não tem graça."

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3 Comments on “Sub 40 sabor chocolate

  1. Muito massa o relato da Nathalia Réa.
    Por enquanto eu tô na fase do “batendo da trave” mas no próximo domingo
    CORRIDA RÚSTICA DAS INDÚSTRIAS 2012 – Etapa Renault eu também espero chegar lá…

  2. Consegui o tempo mas não levei.
    Para meu azar a corrida tinha 10.4 e não era aferida.
    Passei os 10k com 39:39 mas não levei.
    Fica para outra oficial.
    A minha saga está mais cruel.
    Uma fiz 40:09 (na trave)10k Maratona Ctba
    Renault bati o tempo mas só vi por causa do relógio GPS.
    Quem mandou pegar uma que nao era aferida pela CBTa, agora precisarei ainda de mais uma…
    Mas não fico chateado porque pretendo ir mais além e tal qual a Réa também ja quero o sub-38 😀

  3. Ano passado esse sub 40 me deixou chateado mas é aquela história de não estar pronto e ter paciencia.
    Esse ano bati fácil no Circuito das Estações Adidas Curitiba Outono que até nem quis postar mas pensando melhor acho que estava devendo:
    http://o2porminuto.com.br/prova/confira/evento/3934#resultado
    38:29
    Agora vou rumo ao sub-35. Espero que a Nathalia Réa que fez o relato inspirador também chegue lá.
    ps: Em compensação ao sub40, esse ano veio o sub-3 certinho em POA juntamente com outros que postaram aqui no site.
    abs a todos os corredores.

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