20 de setembro de 2024

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Notícias admin 3 de setembro de 2012 (1) (171)

Maratona do Rio passa a ser a maior do Brasil

Na retirada dos kits de prova, o que mais se ouvia dos participantes vindos de todos os cantos do Brasil e alguns outros do mundo eram muxoxos para reclamar do veranico que se instalou no Rio de Janeiro bem às vésperas de uma das provas mais esperadas no calendário de corridas de rua. Foram duas semanas inteiras com uma massa de ar quente passando férias na Cidade Maravilhosa, elevando a temperatura – havia dias em que a sensação térmica já batia a casa dos 30 graus por volta das nove da manhã – e a umidade relativa do ar, que ficou em torno dos 87% nesse período.

Mas os deuses da corrida mandaram uma frente fria na madrugada do evento, que baixou mais de dez graus a temperatura da cidade para receber a Maratona do Rio, no dia 8 de julho. O resultado foi um clima perfeito para correr: tempo fechado, com uma média de 18ºC, e umidade do ar na medida, em torno dos 66%, apesar das pancadas de chuva e rajadas de vento em alguns trechos dos 42 km da orla carioca, que em nada tiraram o charme da que é considerada a maratona mais bonita do país. Os participantes só não contavam com pequenos vacilos da organização.

Na Olympikus Family Run, devido a um equívoco do motoqueiro que escoltava o pelotão de elite, de acordo com a justificativa dos organizadores, a prova, inicialmente de 6 km, acabou tendo seu percurso encurtado para 5 km. Houve relatos de problemas, de trânsito e sinalização, para se chegar ao ponto de largada da meia-maratona, na Praia do Pepê, na Barra da Tijuca. "Um amigo de Belém acabou correndo 23 km. Com o trânsito tumultuado, ele desceu 2 km antes e foi correndo até a largada, que já tinha acontecido", disse Ronaldo Alves, que completou os primeiros 42 km de sua vida.

Em total de concluintes, a Maratona do Rio é a maior do Brasil em 2012, com 2.901 corredores (2.355 homens e 546 mulheres). No ano passado, tinham sido 2.740 concluintes. Mesmo assim, o número é praticamente a metade dos 42 km de Buenos Aires, que teve cerca de 5.500 concluintes na edição de 2011, entre eles 644 brasileiros, o recorde de participação no exterior! A Maratona de São Paulo 2012 contabilizou 2.342 concluintes, contra 1.248 em Porto Alegre.

Na Meia-Maratona, o Rio somou 5.902 concluintes (3.665 homens e 2.237 mulheres), contra 5,5 mil no ano passado; já na Family Run, 3.319 corredores (1.519 homens e 1.800 mulheres), contra 2,5 mil em 2012. Juntando as três provas (42 km, 21 km e 6 km), foram 12.122 concluintes no Rio de Janeiro, contra 10.070 na Maratona de São Paulo, também considerando as três distâncias (10, 25 e 42 km).

Apesar de correr há cinco anos, Ronaldo confidencia que sempre achou a turma que corre longas distâncias meio maluca. A opinião foi mudando depois da estreia nos 21 km, no ano passado, na Maratona do Rio. Ficou com vontade de voltar e fazer o percurso oficial. Cumpriu a promessa e achou a experiência indescritível, apesar de não ter se preparado exatamente para isso nos últimos meses. "Vinha treinando para o Ironman dia 25 de agosto em Penha-SC. O máximo que corri nesse período foi 15 km, isso depois de pedalar uns 70 km. É um treino forte, mas não se compara aos treinos para maratona. Por isso, o clima ajudou, e muito. Corro com 36 graus no norte, aí correr com esse frio foi uma delícia. Só não fui melhor porque não estava treinando para maratona, fui meio que na raça mesmo. Mas essa será minha prova em 2013, com certeza!", disse o belenense.

Também estreante nas maratonas, Fabiano Paixão é conhecido como "corredor do contrário" entre os amigos das pistas de treino. Dificilmente resiste a uma cervejada, não dispensa a capinha de gordura da picanha e não faz musculação. O paulista, que corre há apenas três anos, escolheu o Rio de Janeiro para estrear nos 42 km. Mesmo com a aversão a algumas regras estabelecidas no meio da corrida, Fabiano deu mostras de ter planejado muito bem a sua primeira maratona. Sua estratégia era fazer os primeiros 21 km mais rápidos, mas como o sol não veio, manteve o mesmo ritmo e se deu bem.

 

PÚBLICO ANIMADO. Grandes provas como a Maratona do Rio comumente atraem o interesse do público, gente que nem é adepta ao esporte, mas que se debruça, em vários trechos, nas grades que protegem e delimitam a pista de corrida por curiosidade ou por pura admiração. Perto da placa dos 42 km, uma figura animadíssima atraía os olhares de vários dos maratonistas que davam suas passadas finais no Aterro do Flamengo. Dona Manuela Brito de Almeida, 63 anos, gritava palavras de incentivo, batia palmas e pulava – nem aí para o vento gelado e a chuva fina de molhar os ossos, que caía quase que ininterruptamente.

"Vim aqui porque não tinha o que fazer em casa. A neta de uma vizinha correu os 6 km e estava acompanhando minha amiga. Mas este clima é de muita emoção, contagiante demais. Elas já foram para casa e eu fiquei. Quero dar força até o último corredor passar por aqui. Essas pessoas são verdadeiros guerreiros, merecem nossa total consideração, nosso apoio", disse dona Manuela, que lamentou não ter mais tanta disposição e saúde para tentar o feito.

Marcos de Oliveira esperava, debaixo de chuva, pelos companheiros de treinos que faziam sua estreia na maratona e deu total razão à dona Manuela. Correndo há apenas oito meses, Marcos já conseguiu completar sua primeira prova de 10 km ali mesmo, no Aterro, e espera um dia poder passar pela emoção de concluir os 42.195 metros tão almejados por aqueles que são mordidos pelo bichinho da corrida: "É bonito demais ver as pessoas passando por aqui concentradas, algumas com expressão de dor, outras parecendo que não acreditam no que fizeram. Mais 195 metros e homens saltam feito bailarinas e mulheres urram como se fossem guerreiros espartanos no campo de batalha. É uma superação que não tem distinção de sexo, idade, raça, nem explicação".

 

RECORDES QUENIANOS. Na elite, o dia foi de africanos quebrarem recordes de brasileiros. No masculino, caiu o recorde de 2003, que pertencia a Alex Januário de Mendonça (2:16:39), e no feminino foi baixado o tempo de Marizete dos Santos (2:39:09), fixado em 2008. O queniano Willy Kimutai, que no ano passado chegou atrás de um brasileiro, ficando em segundo lugar, completou a maratona em 2:15:01, e sua compatriota, Thabita Kibet, cruzou a linha de chegada em 2:34:41.

Os melhores brasileiros nos 42 km foram Marcos Antônio Pereira, segundo lugar, com tempo de 2:17:07, e a baiana Graciele Santana, a terceira, com 2:42:21. "O tempo me ajudou a surpreender os adversários. Cheguei ao Rio na sexta e estava torcendo para chover. Deu certo. Foi uma prova difícil, com muito vento, e bom nível de competidores. Só consegui ultrapassar o africano que estava em segundo faltando uns 600 metros da chegada, e o primeiro já tinha aberto muito, não deu", disse o pernambucano Marcos Antônio Pereira, vencedor da Maratona do Rio em 2009.

Na Meia-Maratona, vencedores quenianos no masculino, Kimosop Kiprono com (1:04.00), e no feminino, Consolata Cherotich (1:16.23). O brasileiro Gilmar Lopes cruzou a linha de chegada em 1:06:32, ficando na terceira colocação entre os homens. A melhor colocação brasileira na distância foi obtida pela veterana Márcia Narloch, medalha de ouro e prata nas maratonas do Pan-Americano de 2003 e de 2007, respectivamente. Os resultados completos podem ser acessados no site www.maratonadorio.com.br

 

TEMPO LÍQUIDO: AINDA BEM!

Naturalmente que a Maratona do Rio já atrai pela opção de se correr em um dos lugares mais lindos do planeta. Muitos participantes se inscrevem imaginando correr no cartão-postal e como ator num palco deslumbrante se vê cruzando a reta de chegada ou quebrando suas marcas pessoais. Outros, talvez menos treinados, quando os músculos e pulmões começaram a sentir o cansaço, escolheram a paisagem da orla carioca como sensação acalentadora que garantiu a chegada até o final da prova.

Independentemente da opção, durante a corrida logo perceberão que um fator importante vem somar: a receptividade do público carioca em sua alegria contagiante que tem feito a diferença e garantido o retorno de grande maioria dos corredores, dessa vez convencidos também pela simpatia. Fui à procura desse público diverso e assim me hospedei num hostel, no bairro do Catete. Os quartos são simples para 5 a 10 pessoas, mas com lan house, cozinha e até uma galeria de arte. Fiz a reserva com muita antecedência e foi bom porque estava lotado! E a grande maioria era de corredores brasileiros e muitos estrangeiros que iriam participar das corridas na Maratona do Rio.

Tenho o hábito de antes da competição dormir cedo, mas, por causa do entra e sai no quarto, exigir o silêncio para dormir antes das 22 horas em um hostel é quase impossível. De qualquer maneira como a maioria era corredor, logo o silêncio imperava facilitando o descanso para acordar inteiro às 4 horas, importante, principalmente para os que iriam fazer a meia, com largada marcada para as 6h40, enquanto a maratona sairia às 7h30.

Depois de um café reforçado, uma interessante visão ao colocar o pé na rua. Grupos de corredores vinham de todos os lados e se encaminhavam rapidamente para o ponto de encontro dos ônibus que os levariam às respectivas largadas. Na leve garoa e ainda na penumbra da madrugada, esfregavam as mãos e seguiam suas filas para nos ônibus. Parti num dos últimos coletivos, sem qualquer atropelo. O que não esperávamos é que um congestionamento nos atrasasse, chegando à linha de largada 15 minutos após o tiro de partida da meia. Passei pelo tapete do chip e com muita paciência fui ultrapassando corredores, para só depois do km 12 conseguir encaixar um ritmo constante. Graças ao tempo líquido considerado, fiquei na 65ª posição geral, com 1h28. (Vicent Sobrinho)

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One Comment on “Maratona do Rio passa a ser a maior do Brasil

  1. Nenhum recorde masculino foi batido na Maratona do Rio de 2012. Ele continua sendo 2:13:52 de André Luiz Ramos na Maratona do Rio de 1998. Favor corrigirem a informação.

    ————

    O percurso em que o André fez para estabelecer o recorde da prova mudou em 2003. Portanto, recorde do percurso vale.

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