Os treinadores dispõem de uma vasta literatura sobre a planificação para a competição. Inúmeras teorias buscam soluções para a melhora contínua do rendimento atlético, desde as clássicas até as contemporâneas. Destacam-se, dentre os renomados da teoria geral do treino esportivo, Matveev, Verkhoshansky, Forteza, Aroseiv e Kalinin, Bompa, Navarro, Tschiene e outros.
De Matveev, considerado o precursor da planificação esportiva nos anos de 1950/60, as outras propostas se sucederam, seja no sentido de incrementar o tradicional ou romper com as suas bases e oferecer novas possibilidades. Na linha da ruptura com a tradição, Verkhoshansky, em 1985, apresentou uma nova teoria: o treinamento em bloco. A proposta, inovadora em seus conceitos e metodologia, era direcionada aos atletas de alto rendimento de modalidades que exigiam força e potência.
De um modo geral, a proposta de Verkhoshansky era dividir a preparação em duas fases ou blocos distintos, porém, interconexos: o primeiro, destinado ao condicionamento físico, principalmente o aumento da força e potência muscular; o segundo, para o aprimoramento técnico e tático. A principal característica desse tipo de planificação é a concentração de cargas específicas de força e potência, buscando, por meio da acumulação, a posterior melhora da técnica e da velocidade em um nível mais elevado.
Mas o objetivo, aqui, não é contar história e tampouco explicar em minúcias as teorias que permeiam o treinamento de alto rendimento atlético. Assim, ao falarmos de treinamento em bloco, estaremos apenas tomando emprestado de Verkhoshansky o nome e a essência que, ajustados à realidade que pretendemos mostrar, poderá ser um interessante método de preparação para os corredores que participam de provas entre 10 e 42 km.
Na concepção que adotaremos, o treinamento em bloco será aplicado durante a semana de preparação da seguinte maneira:
1) uma etapa de INTENSIDADE, com aplicação de cargas que exigirão uma velocidade de execução acima do ritmo médio de competição;
2) uma etapa de QUILOMETRAGEM, com cargas cuja velocidade de execução será abaixo do ritmo médio de prova. Entre cada etapa haverá período de descanso e / ou regeneração.
Em cada etapa, portanto, as cargas de treinos serão específicas, buscando a acumulação de estímulos concentrados, cujo objetivo é a melhora posterior da capacidade orgânica e do rendimento atlético.
ETAPA DE QUILOMETRAGEM: Os treinos visam acumular a quilometragem necessária para o desenvolvimento da resistência de base. Serão realizados dois treinos de rodagens, em ritmo confortável / moderado, cujas distâncias serão de acordo com a competição planejada.
ETAPA DE INTENSIDADE: Destinado ao desenvolvimento da tolerância ao esforço. No primeiro dia de treinamento o corredor fará trabalhos de fartleks com acelerações progressivas. No dia seguinte, a tarefa se volta para o treino contínuo intensivo (rodagens), sempre considerando a distância da prova que se pretende disputar.
REGENERATIVO OU DESCANSO ENTRE OS BLOCOS. Entre os dois blocos de preparação, o corredor fará treinos de caráter regenerativo ou diverso, como a musculação, a natação, bicicleta, outros. Tais atividades devem servir, em primeiro lugar, ao propósito da recuperação orgânica e, eventualmente, para o desenvolvimento de outras qualidades (força, resistência muscular etc). O corredor pode optar, também, pelo descanso nos três dias sem corrida.
A proposta de treinamento em blocos que apresentamos, longe de uma inovação ou invenção que solucionará todos os problemas da preparação esportiva, é uma oportunidade para os corredores experimentarem algo não apenas diferente, mas que possa contribuir para o processo de desenvolvimento do condicionamento físico e rendimento atlético.
Não podemos esquecer que os modelos de preparação consagrados pela ciência do treinamento esportivo não nasceram em laboratórios, frutos exclusivos da racionalidade, mas sim da labuta cotidiana de treinadores e atletas que, em algum momento de suas vidas, rompendo com as regras estabelecidas, optaram pela ousadia e a criatividade para buscar novos patamares do conhecimento e das realizações.
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Com a mudança do cenário esportivo mundial, algumas críticas começaram a surgir em relação ao modelo de periodização do cientista russo Doutor Leev Pavlovtchi Matveev proposto na década de 50 (fundamentado na Síndrome Geral da Adaptação). A principal delas apontava que o modelo de Matveev foi criado tendo em vista os Jogos Olímpicos como o único objetivo, por isso só permitia um “peak” por temporada. A partir dessa necessidade de muitos “peaks” em mesma temporada surgem novos modelos de periodização. Provavelmente, o maior crítico do modelo clássico de Matveev seja o também russo Doutor Yuri Vitale Verkhoshanski, criador do Modelo de Periodização por Bloco. Segundo Verkhoshanski nos últimos 20 a 25 anos, a base desportiva sofreu mais mudanças que nos 80 anos anteriores. isso leva à alteração de metodologia do treinamento desportivo técnico, regras, regulamentos e condições para realização de competições, acelerando o rítmo de resultados e permitindo a solução de muitos problemas técnicos e metodológicos de preparação dos desportistas em um nível de alto rendimento.