20 de setembro de 2024

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Notícias admin 9 de agosto de 2012 (0) (80)

Primeiro troféu na França e recorde pessoal na Holanda

Resolvemos, eu e minha esposa, fazer uma viagem turística, sem pensar em corridas de rua, mas após escolher as cidades europeias não resisti e passei a buscar na internet provas cujas datas coincidiam com minha estadia na Europa em maio. E através do site http://marathons.ahotu.com achei a corrida de montanha e aventura de 23 km "Les Arcades de l'Aqueduc", dia 13, na cidade de Milly-la-Forêt, na França, e a Maratona de Leiden, dia 20, na Holanda.

Aliás, esse site da Ahotu Marathons, apresenta um calendário fantástico sobre provas em diversos países. Comecei pesquisando por distância da corrida, depois afunilei ainda mais a pesquisa por países e finalmente por datas e cidades. Sem essa informação valiosa eu jamais saberia dessas provas. Através do uso do Google Tradutor troquei emails com os organizadores franceses e holandeses, depois obtive meu atestado médico com meu cardiologista e consegui efetuar a inscrição em ambas, combinando o pagamento no dia da corrida.

A prova na França poderia ter sido tranquila, não tivesse eu resolvido ir ao show do Metallica no dia anterior, no Stade de France. Depois de pular a noite toda, ficar com os pés doendo e dormir apenas 3 horas, cheguei em Milly-la-Forêt numa manhã fria, com temperatura de 7 graus. Milly-la-Forêt é uma cidade pequena, charmosa, ao estilo Campos do Jordão, mas sem os turistas, e localiza-se perto de Fontainebleau, a 30 minutos de carro de Paris. Foi lá que viveu e morreu Jean Cocteau (diretor de cinema, poeta, escritor, pintor, dramaturgo, ator e escultor… ufa!).

A corrida teve sua largada às 9h30. Saímos da cidade e atravessamos uma espécie de estrada para adentrarmos na floresta, um lugar espetacular que é reserva ambiental e biológica, e que também é um grande parque.

 

MERCI E BONJOUR. A prova dentro da floresta foi inteiramente em trilhas e com medo de me perder eu sempre tentava colar nos demais atletas, o que me fez correr um pouco acima do meu ritmo. Mas para ser bem sincero isso foi uma estupidez, pois durante a corrida inteira havia várias senhoras a nos apontar qual local a seguir. De minha parte, eu gastava as duas únicas palavras que sabia em francês: Merci! Bonjour!

Foi então que alguma coisa começou a dar errado comigo. Eu havia corrido a Maratona das Praias, em Bertioga, na semana anterior, mas me sentia muito bem, sem qualquer dor. Mas então passei a sentir um cansaço estranho, diminui o ritmo e até caminhei um pouco, dando passagem aos corredores que vinham atrás, pois estava num trecho de trilha onde corríamos em fila indiana.

Fiz um esforço muito grande para completar os 23 km e quando cruzei a linha de chegada não conseguia parar de tomar água. Minha sede era fora do normal. O organizador me cumprimentou e pediu para aguardar um pouco, pois me dariam uma lembrança da prova. Alguns minutos depois me chamaram ao pódio e acabei recebendo o primeiro troféu de minha carreira de atleta amador. Um mimo e tanto! Fiquei realmente surpreso e feliz.

Saí dali em direção a Paris muito cansado e achei por bem não ficar pensando na Maratona de Leiden, pois meu estado físico era deplorável. Ao chegar ao hotel tive diarreia, depois percebi que estava desidratado e naquela noite acordei para vomitar. Ou seja, tudo que o corredor não precisa…

A semana foi difícil para que eu me recuperasse, mas não deixei de caminhar à beça e fazer todos os passeios agendados, além de outros mais, não apenas em Paris, como em Versailles, Bruxelas, Bruges, Antuérpia, Haia e também Amsterdã. No sábado minha esposa ainda tentou me dissuadir de correr a maratona, e combinei com ela que iria até Leiden (estávamos em Amsterdã), e se me sentisse mal faria apenas a meia.

Eu já havia visitado a Holanda em 1997 e dormido na casa de um amigo em Haarlem, uma cidade antiga que fica no meio do caminho entre Amsterdã e Leiden, motivo pelo qual não tive muitas dúvidas geográficas, embora tenha me informado antes sobre a facilidade de ir de trem. Leiden é a cidade natal do pintor Rembrandt, além de ter abrigado uma das primeiras universidades da Europa e um centro de estudos há quatro séculos. É por isso conhecida como a Cidade do Saber.

 

NA IGREJA, INSCRIÇÃO E KIT. A maratona só teria início às 10h30, o que me permitiu tomar um café em Amsterdã, para somente depois me dirigir para a estação de trem, numa viagem de aproximadamente 40 minutos até Leiden. Uma vez na estação, nem me dei ao trabalho de perguntar onde era a evento e segui uma imensidão de corredores que evidentemente se dirigiam até o local da retirada do kit, dentro de uma igreja, onde fiz a inscrição, me troquei e aguardei em lugar quente para só depois me dirigir à largada.

A largada se deu ao som da música "Simply de Best", da Tina Turner. Imediatamente me lembrei do Ayrton Senna e me emocionei, sem contar que também adoro a Tina. Imagine só começar uma corrida com essa música! Melhor largada impossível.

Larguei mais forte do que imaginava, pois não sabia que a grande maioria dos corredores correria somente a meia. Tampouco sabia que teria que dar duas voltas iguais. Imaginava que em determinado ponto os corredores da meia iriam para um lado e os maratonistas para outro. Ledo engano, mas o percurso era muito bonito e não achei ruim passar duas vezes pelos mesmos locais.

Durante todo o trajeto contei uma meia dúzia de bandas tocando para os corredores. E dá-lhe Rock n' Roll! Quando eu passava fazia aquele sinal de roqueiro com as mãos e os integrantes da banda sorriam. A primeira parte da corrida foi em uma das avenidas de Leiden, interditada para a corrida. Dali fomos para um enorme parque, cruzando antes por uma fazenda.

Passei pelos 11 km com 1 hora de corrida e embora me sentisse bem achei que estava exagerando; afinal, não ia correr uma meia. Deliberadamente dei uma diminuída, mas quando percebi já estava novamente num ritmo alucinante para meus padrões. Quando cheguei perto da linha chegada dos 21 km, em 2 horas, havia uma multidão no centro de Leiden.

Foi aí que percebi que os maratonistas eram a minoria da minoria, pois a partir dali somente alguns corredores continuaram na prova. Como agora éramos poucos, chamei a atenção com a bandeira do Brasil estampada na frente e atrás da camiseta da Equipe Baleias. Numa determinada rua em que a família estava na porta, um rapaz gritou "Brasil?", e passou a cantarolar o que supostamente seria a melodia de Aquarela do Brasil. Em uma outra janela uma moça nos aplaudia e quando passei ela correu para casa gritando "Brasil! Brasil!", mas logo virei à esquerda e acho que o brasileiro que poderia morar ali não teve tempo de me ver. Em outro ponto um garotinho reconheceu a bandeira e também gritou "Brasil!"; sorri para ele e fiquei pensando que era um bom aluno de geografia.

 

SEM ANDAR NA MARATONA. Passei pelo km 35 numa corrida boa e inacreditavelmente mantendo meu ritmo. Não senti o fantasma do km 32, o que foi um ótimo sinal. Lá pelo 37 avistei um corredor todo tatuado, com um rabinho de cavalo, embora um pouco calvo, e decidi passar ele, o que só consegui no km 38. Inacreditavelmente, eu estava correndo durante toda uma maratona, feito até então nunca conseguido.

Enquanto corria, realizava umas contas para saber se conseguiria terminar abaixo de 4h, mas percebi que isso seria impossível, e que terminar correndo já me traria o melhor tempo em maratonas. Eu fazia questão de dizer "thank you" para todos aqueles que me aplaudiam quando eu passava, e isso talvez tenha me distraído e estimulado a não pensar besteiras e continuar focado na prova.

Quando passei pelo km 40 o relógio ainda não havia marcado 4h e comecei a pensar que chegaria muito antes do horário combinado com minha esposa, e que provavelmente ela perderia minha chegada. Mas o prazer de bater o recorde pessoal falava mais alto e deixei isso de lado. Atravessamos uma ponte sob um canal e agora a chegada estava bem perto.

Quando avistei a largada, comecei a ouvir um locutor dizendo os nomes dos corredores e para meu desespero ele gritava "Roéu, from Spain" e repetia, e eu pensava "de onde ele tirou isso"? Quando cheguei perto dele fui bem claro – "From Brazil!" e ele imediatamente, entre confuso e envergonhado, gritou três vezes seguidas "From Brazil! From Brasil! From Brasil!" – e somente aí minha esposa ficou em alerta e correu para tirar a foto da chegada. Essa foi a minha sexta maratona e meu recorde pessoal, com 4:09:10.

 

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