Caracterizada por uma dor súbita, intensa, associada a uma contração muscular involuntária, palpável e persistente, a temida cãibra muscular é a segunda maior causa de abandono em uma maratona, depois da fadiga, naturalmente. A cãibra pode afetar um grupo muscular, um músculo isoladamente ou apenas parte dele. Os mais frequentemente acometidos são os da panturilha, e os anteriores e posteriores da coxa. Mas também são comuns em pés, mãos e até braços.
A forte dor que a cãibra provoca é devido à grande intensidade de estímulos que os nervos descarregam sobre o músculo. A contração muscular gerada durante as cãibras é de tamanha potência, que chega a ser 20 vezes maior se comparada a uma contração muscular voluntária. As cãibras são mais frequentes em atividades intensas ou de longa duração e geralmente ocorrem após 30 km de uma maratona ou até 6 horas após o seu término.
O nível de preparo físico do corredor pode estar associado à manifestação de cãibras durante a atividade física. Isso deve ocorrer porque a musculatura menos preparada é mais suscetível à fadiga. Outras características do corredor, como idade avançada, pouca experiência em corridas, encurtamentos musculares importantes, obesidade e histórico familiar aumentam as chances de aparecimento das cãibras.
Apesar de muito frequente, as causas da cãibra decorrente da atividade esportiva ainda são desconhecidas. Várias pesquisas científicas tentaram provar as suas teorias, mas nenhuma conseguiu apresentar evidências suficientes para comprová-las. Apesar disso, alguma coisa já se considera como "verdade".
A fadiga muscular é apontada como uma das grandes causas de cãibra. Acredita-se que o cansaço excessivo da musculatura pode provocar uma alteração importante no mecanismo neurológico que controla a sua contração. Como consequência, diminui a capacidade de comando dos nervos em coordenar a contração e o relaxamento muscular.
Na maioria das vezes, as cãibras acontecem na posição mais encurtada do músculo. Portanto, acredita-se que o encurtamento muscular também contribui para a sua manifestação e, associada à fadiga muscular, aumentaria as chances da cãibra ocorrer. Talvez esta situação seja justificada pela diminuição importante do suprimento de oxigênio nos músculos, causada pela diminuição da circulação sanguínea no local.
NADA A VER COM POTÁSSIO. A contração muscular acontece graças a estímulos elétricos disparados pelos nervos; estes estímulos, portanto, dependem de uma carga elétrica. Minerais como: cálcio, magnésio, potássio e sódio, estão na forma de íons, isto é, possuem cargas e são responsáveis pela propagação do impulso nervoso e da correta resposta de contração muscular.
Durante a transpiração excessiva, há grande perda destes minerais, especialmente o sódio. Essa queda exagerada de íons causa um desequilíbrio elétrico e o nervo fica hiperexcitado, isto é, o nervo envia impulsos elétricos constantes e desordenados para os músculos, provocando uma contração contínua.
Durante muito tempo as cãibras relacionadas ao exercício eram associadas à carência de cálcio e principalmente de potássio no corpo. Essa teoria já não é mais aceita, pois as perdas de potássio e cálcio pelo suor são muito baixas. Além disso, são facilmente repostos na dieta; uma pequenina quantidade destes minerais já é suficiente para as suas funções no organismo. Ao contrário do potássio, a perda de sódio pelo suor é muito maior. Por isso uma grande perda deste mineral é apontada como causa mais provável de cãibras musculares relacionadas ao exercício.
Mas nenhuma destas condições é causa isolada das cãibras. Hoje, a teoria mais aceita é de que elas são resultado de uma série de fatores combinados, os quais alteram a dinâmica do controle da contração de relaxamento muscular. Assim, a conclusão da maior parte dos estudos científicos e a opinião da maioria dos especialistas é que a cãibra é consequência de uma série de fatores, mais frequentemente, da fórmula:
DESIDRATAÇÃO + FADIGA MUSCULAR + PERDA DE ELETRÓLITOS = CÃIBRAS
COMO PREVENIR. A dificuldade de provar com certeza a causa da cãibra muscular e a variedade de fatores que podem contribuir para a sua manifestação dificultam a escolha de um tratamento correto, e principalmente, de uma prevenção adequada. Havia a antiga tradição de administrar sódio para evitar cãibras. Os médicos forneciam bebidas salgadas para operários que trabalhavam em fornos industriais e minas de carvão como prevenção.
Talvez esta prática tenha influenciado a conduta de repor minerais como precaução, durante atividades intensas e de longa duração. Muitos estudos nesta área testaram água salgada e picles para evitar cãibras durante maratonas, sem resultados significativos. É importante ressaltar que a perda de eletrólitos pelo suor varia muito de pessoa para pessoa.
Além disso, antes de repor um nutriente, deve-se ter certeza da falta deste; o excesso de sódio, principalmente durante atividade física, pode ser perigoso, causar aumento da pressão arterial, sobrecarga em rins e inchaços. É indicado e mais seguro para o atleta ingerir quantidade adequada de água, isto é, apenas o necessário para manter o organismo hidratado. Dessa forma, é possível diminuir as perdas de líquido pelo suor e manter as quantidades de minerais em equilíbrio.
ACONTECEU. O QUE FAZER?
– No momento da cãibra, é indicado parar imediatamente a atividade. Faça massagens rápidas, não muito superficiais (devem atingir o músculo, mas sem causar dor) com intensidade moderada para relaxar a área afetada e ativar a circulação sanguínea local.
– Tente alongar lentamente o músculo; mantenha a posição por cerca de 30 segundos e vá aumentando a intensidade do alongamento, conforme a intensidade da contração muscular for cessando.
– Iniciar o alongamento com muita força pode piorar a cãibra, pois como um reflexo, os nervos mandam um sinal de "proteção" ao músculo, aumentando a força de contração.
– Caso a cãibra seja nas pernas, se possível alongue com os pés no chão, pois ao tocar a planta dos pés no solo, um "sinal" é enviado para os nervos que diminuem os seus impulsos.
– Outra opção é a compressa quente local, que além de diminuir a dor, atenua a cãibra rapidamente, já que relaxa a musculatura e dilata os vasos sanguíneos, aumentando a circulação local e, consequentemente, a oferta de oxigênio para os músculos.
– A aplicação de gelo também se mostrou eficaz. Pode ser feita tanto por meio de compressas frias, como passando gelo várias vezes sobre a região muscular acometida (mas não exagere, para não queimar a pele com o gelo). A sua ação se dá porque, em baixas temperaturas, os impulsos nervosos têm velocidade diminuída, assim, a musculatura relaxa por ser menos estimulada pelos nervos.