Esportivamente, ao logo das décadas, o Brasil vive de poucos e raros ídolos. E, na maioria das vezes, o País não sabe aproveitar o bom momento desses atletas de ponta.
Foi assim na época de Gustavo Kuerten. Número 1 do tênis, Guga bateu os maiores do mundo, foi campeão do Masters há dez anos vencendo Pete Sampras na semifinal e André Agassi na final. Algo inédito. O tempo passou, a modalidade não se desenvolveu.
Na corrida de rua, não é diferente. É claro que, sem comparações, Marilson Gomes dos Santos, nosso melhor maratonista, é quem consegue chegar próximo dos africanos. Hoje, ao lado do americano Ryan Hall, está no grupo dos melhores não africanos. Mudou de categoria após as 2:06:34 de domingo, em Londres, que lhe garantiu o quarto lugar na tradicional prova inglesa. E, para quem gosta de torcer o nariz, é bicampeão da Maratona de Nova York.
Mas, nesse nível, só temos Marilson. Sem entrar na discussão do biotipo, das características físicas, veja o exemplo do Quênia. Em duas semanas, só grandes resultados em maratonas. Isso no masculino, porque o feminino é tema de outra discussão…
Em Roterdã, vitória de Wilson Chebet (2:05:27), com Vicent Kipruto em segundo (2:05:33).
Em Paris, primeiro lugar de Benjamin Kiptoo (2:06:31), com Bernard Kipyego na segunda posição (2:07:16).
Em Milão, título de Solomon Saibei (2:10:38).
Em Londres, pódio todo queniano. Recorde da prova para Emmanuel Mutai (2:04:40), seguido por Martin Lel e Patrick Makau (ambos com 2:05:45).
Nesta segunda-feira, em Boston, para fechar com chave de ouro, as duas melhores (e absurdas) marcas da história nos 42 km: Geoffrey Mutay (incríveis 2:03:02) e Moses Mosop (não menos surpreendente 2:03:06).
Com exceção de Milão, que foi um tempo fraco, nove atletas diferentes do Quênia com resultados de primeiro nível.
O momento é agora. O Brasil tem de saber aproveitar esse crescimento da corrida de rua. Cativar e atrair os patrocinadores, investir na base, na estrutura, em escolinhas, nos colégios e nas universidades, públicas e particulares. O governo precisa criar incentivos. Temos 180 milhões de habitantes e um potencial incrível, mas precisamos de mais Marilsons.
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Caro André, é nossa função manter os nossos ídolos e mitos, e respeitá-los mesmo depois de aposentados mantê-los no meio esportivo para que possam passar a experiência aos que surgem. Mas, no Brasil, onde campeões do mundo de futebol morrem a míngua em hospitais. O que esperar dos ídolos do atletismo, o primo pobre do esporte? Eu me sinto na obrigação de ir atrás dos ícones das duas últimas décadas, porque está escasso nossa galeria de ídolos, ao encontrá-los é uma emoção que tento passar para nossos leitores que se surpreendem e questionam. Como um corredor acumulou 2000 troféus? Como um recordista brasileiro de maratona antes de completar 30 anos já tinha 4 formações universitárias? Quem foi o brasileiro que ao vencer uma São Silvestre após 34 anos de hegemonia estrangeira iniciou um ano e uma nova era na história das corridas de rua? E quem é o campeão da São Silvestre que teve que dar vários autógrafos ao ser reconhecido no meio da missa? E quem é a mulher que venceu a São Silvestre mancando ? Como você percebe são todos brasileiros com muita história para contar e nos ensinar. Então vamos semear novos ídolos apresentando aos corredores quem são os nossos ídolos. Abraços e continuemos correndo e fazendo nossa parte!
É isso mesmo, Vincent, você tem toda razão, não podemos esquecer de nossos ídolos e aprensentá-los para quem não conhece. Ao mesmo tempo, precisamos de uma política do esporte, de planejamento, de pensamento a longo prazo para que a corrida no Brasil não sobreviva somente desses talentos que superam as adversidades para vencer, lutando contra tudo e contra todos. Com o tamanho e a população de nosso país, tínhamos tudo para ser uma potência esportiva, mas você sabe bem que estamos a milhares de quilômetros de distância. Minha esperança é que, um dia, os atletas sejam tratados com respeito e recebam as condições necessárias para se desenvolver, criando mais e mais “Marilsons”. Grande abraço.
EM UM PAÍS ONDE O QUE PREDOMINA É O FUTEBOL, ÚNICO E SOMENTE,
DEVEMOS APLAUDIR ESSES CRAQUES, POBRES, QUE FAZEM UM ESFORÇO TREMENDO PARA CONQUISTAR ALGO NA VIDA.
MARILSON QUEBROU SEU RECORDE PESSOAL, E SEM DÚVIDA É O MELHOR SUL-AMERICANO NA MARATONA. FICOU EM 4º NA MARATONA. ALGUÉM VIU EM ALGUM NOTICIÁRIO ESSA CONQUISTA?
ALÉM DE MUDANÇAS NA POLÌTICA ATUAL, TEM QUE SER CULTURAL. VALORIZAR TODOS OS BRASILEIROS QUE SOBRESSAEM DOS DEMAIS.
CASO INTERESSANTE É DO DEAN KARNAZES, QUE ESTÁ CRUZANDO O PAÍS (EUA) EM 75 DIAS. LÁ ELE É UM ÍDOLO NACIONAL.
HOJE O CARLOS DIAS FAZ O MESMO. MAS O LEMOS EM SEUS RELATOS É APENAS DIFULDADES. TANTO EM PATROCÍNIO COMO RECONHECIMENTO.
POR QUE?
NUM PAÍS ONDE O QUE É IMPORTA É A VITÓRIA, ESTAMOS BEM LONGE DE VER (PELO MENOS NA MINHA VIDA) O RECONHECIMENTO QUE TANTO QUEREMOS.
Abraço a todos.
André,
Infelizmente a realidade não é esta. Você relata o crescimento das corridas de rua, entretanto, o aumento do número de praticantes jovens é muito pequeno. Pior, o número de atletas que competem está cada vez menor, basta olhar os resultados…
Explico: o crescimento das corridas é antes de tudo um fenômeno social, não necessariamente esportivo. Ele se dá através de pessoas que encaram a corrida como atividade meio. Um meio para buscar saúde, prazer, fazer amigos etc…
Entretanto o número de pessoas (atletas) que encaram o esporte como atividade fim, ou seja, como um fim em si mesmo, a competição, não aumentou.
Daí que o foco das corridas no Brasil, salvo raras exceções, não é competitivo, portanto, não contribuem para o aumento de atletas.
Estes atletas estão a margem deste fenômeno, continuam treinando nas poucas equipes (de ponta) que existem no país, quase sempre defendendo pela manhã o almoço e o jantar daquele dia.
Não quero dizer com isso, que não seja importante o aumento do número de praticantes, longe disso, mas essa massa de novos corredores é na maioria formada por ex-sedentários buscando melhoria da qualidade de vida.
E não se esqueça, estamos num país de faz-de-conta, onde organizadores denominam pelotão Quenia, aqueles com tempo inferior a 45:00 em 10km. Isto no Kenya – de verdade- soaria como piada.
Grande Abraço hermanito e companheiro de treino,
Cesinha
http://www.cesinhanascorridas.com/
Cesinha, você tem razão nos seus comentários. E, veja, no texto, citei o crescimento da corrida de rua no Brasil, como o todo, não falei nenhuma em número de pessoas. E realmente, minha posição, é que este é o momento do esporte para cativar e atrair os patrocinadores, investir na base, na estrutura, em escolinhas, nos colégios e nas universidades, públicas e particulares. O governo precisa criar incentivos para atrair patrocinadores e formarmos mais Marilsons. É um movimento que passa por todos os envolvidos. Abraço.