Blog do Corredor Notícias André Savazoni 10 de outubro de 2011 (6) (106)

Homens do Quênia colonizam o mundo das maratonas

Pela Conferência de Berlim de 1885, o Quênia ficou sob responsabilidade do Reino Unido, que confiou as terras em regime de monopólio à Companhia Imperial da África Oriental Britânica. Em 1887, a companhia comercial assegurou o arrendamento da faixa costeira. Após décadas de disputas internas e externas no território, sempre baseadas no controle das terras, o Quênia tornou-se independente apenas em dezembro de 1963, tornando-se uma república no ano seguinte. Pela divisão geográfica, há sete províncias e uma área no país.

Hoje, depois de 126 anos de ser “entregue” aos britânicos, os quenianos espalham-se pelo mundo e vão conquistando pódios e mais pódios nas provas de fundo do atletismo, principalmente na maratona. No masculino, a “colonização” neste ano é impressionante. Os homens do Quênia ganharam todas, isso mesmo, todas as principais maratonas. Além de uma outra quantidade de provas médias. Em todos os continentes. Com resultados mais do que impressionantes.

Atualmente, o grupo dos “colonizadores” quenianos é liderado por um trio que tem tudo para ser ouro, prata e bronze na Olimpíada de Londres, em 2012: Patrick Makau (recordista mundial com 2:03:38), Geoffrey Mutai e Moses Mosop, donos dos incríveis 2:03:02 e 2:03:06, respectivamente. E temos ainda Emmanuel Mutai, Martin Lel e cia.

Como os europeus fizeram nos séculos passados, dividindo os países aficanos (mais distante as “vítimas” fomos nós, latinoamericanos), hoje os quenianos separam-se pelo mundo. Escolhem onde cada um vai vencer. A elite da elite vai para as Majors. A elite B, para ser coelhos, buscar pódios nas provas grandes e médias. Um outro grupo, vem para o Brasil, por exemplo, para ganhar experiência e dinheiro. E assim, vão ganhando tudo!

Os números abaixo, comprovam a supremacia, todos oficiais de maratonas deste ano.

Roterdã – 1º) Wilson Chebet, 2:05:27; 2º) Vincent Kipruto, 2:05:33.

Milão – 1º) Solomon Sibei, 2:10:38.

Paris – 1º) Benjamim Kiptoo, 2:06:31 e 2º) Bernard Kipyego, 2:07:16.

Londres – 1º) Emmanuel Mutai, 2:04:40; 2º) Martin Lel, 2:05:45 e 3º) Patrick Makau, 2:05:45.

Boston – 1º) Geoffrey Mutai, 2:03:02 e 2º) Moses Mosop, 2:03:06.

Mundial de Daegu – 1º) Abel Kirui, 2:07:38 (bicampeão) e 2º) Vincent Kipruto (2:10:06).

Berlim – 1º) Patrick Makau, 2:03:38 (recorde mundial); 2º) Stephen Chemlany, 207:55 e 3º) Edwin Kimaiyo (2:09:50).

Chicago – 1º) Moses Mosop, 2:05:37; 2º) Wesley Korir, 2:06:15 e 3º) Bernard Kipyego, 2:06:29.

Isso sem contar provas “menores”, com vitórias e pódios quenianos em São Paulo, Buenos Aires, Padova… Na minha pesquisa, só achei uma vitória etíope no masculino em Tóquio em 2011! E, sinceramente, essa “colonização” queniana, pelo que os atletas vêm correndo, não tem prazo para terminar. Só para aumentar. As próximas vítimas? Amsterdã, no próximo domingo, e Nova York, dia 6 de novembro.

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6 Comments on “Homens do Quênia colonizam o mundo das maratonas

  1. Eu tenho a solução para acabar com o domínio queniano: basta exportar a expertise esportiva de alto desempenho do Brasil. Em pouco tempo nossos dirigentes e agregados estarão fazendo com o material humano queniano o mesmo que fazem com o brasileiro.

    E você sabe que esta gente não incomoda com tradição. Se tiver que mudar horário ou trajeto de prova, deixa com eles.

  2. Legal André!

    To gostando de ver, corrida também é cultura, você contou a parte final da história do Quênia, para complementar vou contar a parte inicial:

    Os restos antropológicos encontrados perto do lago Turkana indicam que existiram antepassados do homem, hominídeos primitivos, nessa área há 2.600.000 anos. O assentamento das atuais etnias africanas data do século X. Antes do ano mil, clãs de povos nilóticos, denominados hima, invadiram a África oriental; eram povos pastores com um núcleo aristocrático que desenvolveram reinos poderosos. As invasões do povo banto, depois do século XIV, forçaram o deslocamento dos nilóticos até Uganda e Tanzânia. Os povos bantos, entre os quais a tribo dos kikuyu, estabeleceram-se no interior, organizando-se em clãs, e constituíram reinos. No século XVII, chegou o povo pastoril masai, vindo do norte, que entrou em choque com o povo banto. Fixados no norte, perto da Somália, os masai, no século XIX, foram deslocados pelo povo agrícola kikuyu.
    Os documentos históricos mais antigos sobre a região mostram que, pelo menos desde o século VIII da era cristã, os árabes se estabeleceram no litoral e dominaram o comércio com o sul da Arábia. Foram estabelecidas várias cidades-estado Zenj, dominadas pelo sultanato de Omã e Muscat. Os portugueses tentaram monopolizar o comércio do Oceano Índico e, entre os séculos XV e XVII, apesar da resistência, o domínio árabe foi substituído pelo dos lusos, que conquistaram Mombaça em 1505.

    Mapa do Quênia.
    Depois de holandeses e ingleses lhes arrebatarem o comércio no século XVII, os estados Zenj recuperaram sua independência. Estabelecidos na ilha de Zanzibar, os árabes do sultão de Omã retomaram o controle das cidades-estado zona costeira e floresceu o comércio de escravos que, a partir de Zanzibar e Mombasa, se estendeu para o interior. Por volta de 1840, a Inglaterra iniciou o comércio costeiro no Quênia. Em 1873, os britânicos aboliram o comércio de escravos dos árabes. Em 1886, os britânicos, a pretexto de acabar com a pirataria, apoderaram-se de toda a região.
    Os primeiros europeus a explorarem o interior do território queniano foram os alemães Johann Ludwig Krapf e Johannes Rebmann, missionários que se estabeleceram em Rabai, no território da tribo manyika, em 1848. Na Conferência de Berlim de 1885, onde se delimitaram as áreas de influência das potências européias, porém, a região foi entregue ao Reino Unido, que a confiou em regime de monopólio à Companhia Imperial da África Oriental Britânica. Em 1887 a companhia comercial assegurou o arrendamento da faixa costeira, cedida pelo sultão de Zanzibar.
    O Protetorado Britânico Africano Oriental foi criado em 1896, quando milhares de indianos foram trazidos para trabalhar na construção de uma ferrovia entre o porto de Mombaça e as férteis terras do lago Vitória, concluída em 1902, e para as tarefas que os africanos se mostravam resistentes a executar. Os colonos gozaram de relativa autonomia, com um conselho legislativo formado em 1907.
    Em 1920, o Reino Unido reafirmou seu domínio e transformou o protetorado em colônia britânica do Quênia, uma dependência da Oficina Colonial Britânica. Nesta época, uma grande área das “Terras Altas Brancas” havia sido reservada para colonização, enquanto “reservas nativas” eram criadas para separar as duas comunidades. Durante a década de 20, houve considerável imigração proveniente da Grã-Bretanha.
    Nas duas décadas que precederam a Segunda Guerra Mundial, os europeus monopolizaram as melhores terras cultiváveis, e teve início um confronto político entre britânicos e indianos, que se consideravam insuficientemente representados nos órgãos de governo da colônia. A Associação Central dos Kikuyu, fundada em 1921 e reformulada em 1925, também passou a exigir sua participação no poder. Em 1944, foi formada uma organização nacionalista, a União Africana do Quênia (KAU), que pregava a redistribuição da terra e tinha como líder Jomo Kenyatta. Em 1952, uma sociedade secreta kikuiu, ou Mau Mau, levantou-se contra o domínio colonial na denominada revolta dos Mau-Mau, quedeu origem a uma longa guerra, que se prolongou até 1960 e representou um duro golpe ao desenvolvimento econômico. A KAU foi proscrita e Kenyatta, líder da rebelião, preso. A eleição de 1961 levou os dois partidos africanos, a União Nacional Africana do Quênia (KANU) e a União Democrática Africana do Quênia, a aliarem-se no governo.
    Em dezembro de 1963, o Quênia tornou-se Estado independente, membro da Commonwealth, e constituiu-se em república no ano seguinte, sob a presidência do carismático Kenyatta (KANU), o qual foi reeleito em 1969 e 1974. O governo de Kenyatta foi moderado, pró-ocidental e progressista. Até o final da década de 1960, o Quênia era, na prática, um Estado de partido único. Um grande número de investidores estrangeiros instalou-se no país; o turismo se expandiu e tornou-se a mais importante fonte de divisas.

    Abraços!!!

  3. Entre as próximas vitimas pode incluir ai Frankfurt no final de outubro com Kipsang e Cheruyiot.

  4. Fora Marilson, quem no Brasil pode chegar perto? Enquanto a Rede Bobo transmitir as corridas em Km/h, mesma medida da F1, acho que vai demorar para aparecer outro…

    ———————–

    Alex,

    E chegar perto mesmo. Não mais do que isso. Os caras estão correndo muito.

    Concordo plenamente sobre os km/h.

    Abraço

    André Savazoni

  5. Não entendi: Então se a Globo parar de transmitir provas irão aparecer mais maratonistas ? Aliás, o que a Globo tem a ver com a descoberta de novos maratonistas ? Se for pra analisar assim, a Contra-Relógio tb teria a obrigação de descobrir novos talentos olímpicos.

    —————————

    Julio Cesar,

    Pelo que entendi no comentário do Alex, é que, de uma maneira geral, não existe essa cultura da corrida no Brasil e que a Globo, que transmite as provas, por exemplo, transmite sem se preocupar em informar, passar referências sobre ritmo em minutos por km, por exemplo O que é uma verdade. Quem acompanhou a transmissão de Chicago pela NBC Chicago pode ver que, além de valorizar o público presente (eram 1 milhão de pessoas nas ruas) havia muitos dados técnicos, ex-campeão falando, conhecimento sobre os atletas de elite participantes (Marilson foi citado várias vezes com informações sobre ele).

    Abraço

    André Savazoni

  6. Oi André,
    Mais uma pra você, a pequena, mas dificil Maratona de Bruxelas no dia 02/10 (corri a meia), com o Paul KIPROP (2:14:51) e Noah KOSGEI (2:17:02).

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