Blog do Corredor Notícias André Savazoni 9 de outubro de 2011 (10) (154)

O dia em que quebrei na Maratona de Chicago. E Marilson também

Como já previa a meteorologia, o clima não era o ideal para uma maratona. Ainda mais no Hemisfério Norte. Chicago tem essa característica. Numa prova de 10 km ou até na meia-maratona, a temperatura tem uma influência menor. Nos 42.195 m, é determinante para uma quebra de recorde. Seja mundial, da prova ou pessoal. Como disse o comentarista na NBC Chicago, o clima tem de ser o ideal para vermos um recorde mundial e neste domingo (09), não era o dia.

Tudo ia conforme o planejado até por volta do km 30. Me sentia bem, confiante. A média de 18,5°C era praticamente a mesma desde a largada. Enquanto o primeiro pelotão era constante, eu ia num ritmo tranquilo, dando meus pitacos sobre a edição deste ano e informações sobre a história da tradicional Maratona de Chicago. Marilson tinha ficado um pouco para trás dos líderes. Mas os africanos tinham acelerado. Seria uma explicação.

Porém, entre o km 30 e o 35, o pior. Marilson, com indisposição, não passou pelo penúltimo ponto de marcação antes da chegada. O sonho do recorde sul-americano e do índice antecipado para Londres-2012 estava adiado. Enquanto isso, eu, amador, também quebrei… Foi a primeira vez que quebrei numa maratona. E pelo Twitter!!! Isso mesmo. Quando a prova estava por volta do km 32/33, uma mensagem: “Você ultrapassou o limite diário. Aguarde algumas horas”. Como assim? Nem sabia que havia limite diário no Twitter. Bem no momento em que a prova esquentou? Marilson parou, Mosop disparou, Cruz Nonata entre as dez no feminino?

Continuo sem entender, mas na reta final fui sacado da Maratona de Chicago. Fui “Quebrado” pela tecnologia. Nada mais de comentários. Nada de bate-papo com os leitores. Nada de informação. Assim, seguem abaixo os comentários que gostaria de ter feito “ao vivo”, mas não consegui.

1) Marilson Gomes dos Santos quebrou. Passou mal e abandonou no km 33. Acontece, é verdade. Elite e nós, simples mortais amadores, estamos sujeitos a um dia ruim. Dia que influencia na maratona. Agora, Marilson atingiu um patamar de respeito e talento. Não pode cometer certos erros. O clima era o mesmo para todos, então, por favor, não dá para dizer que pode ter sido o isotônico quente. Um problema facilmente evitado. Esse é o tipo de erro que não pode ser cometido. O momento é de seguir com o trabalho. Mais pressionado, com uma cobrança maior, sem dúvida. Uma batalha foi perdida, não a guerra.

2)  Moses Mosop, mesmo em um dia em que o clima não ajudou e que não teve realmente disputa, mostrou ser fortíssimo candidato ao ouro olímpico em Londres. Em sua segunda maratona, vitória e recorde de Chicago, com 2:05:37. E tirou muito o pé a partir do km 35. Basta ver as passagens e o gráfico disponível no site da prova. Como ele mesmo disse nesta semana, o recorde mundial será dele. Não tenho dúvida. Só uma questão de tempo.

3)  Nas três primeiras posições de Chicago, três quenianos. A supremacia deles é cada vez mais evidente. No masculino, neste ano, Quênia venceu em Londres, Paris, Boston, Roterdã, Berlim, Chicago e o Mundial de Daegu. Citando só as maiores. Está faltando Nova York.

4) A russa Lillya Shobukhova, duplamente, fez história em Chicago. Primeiro, por ser a primeira mulher tricampeã da prova. Em três anos seguidos. Depois, por ser a segunda mulher mais rápida de todos os tempos a correr os 42 km (2:18:20), atrás apenas das duas marcas da britânica Paula Radcliffe. A disputa na Olimpíada de Londres promete e, hoje, a maior ameaça ao amplo domínio queniano vem da Rússia.

5) A brasileira Cruz Nonata foi muito bem em sua estreia. Vivendo o melhor momento da carreira, marcou 2:35:35 e teria o índice A da Iaaf para Londres, porém, a CBAt quer levar para a Olimpíada só quem tem chances de medalha!  Com a estrutura que oferecem e o apoio que os atletas têm no Brasil de uma maneira geral, não sei como podem pensar assim. Dessa forma, pela média da CBAt, precisará de 2h30 para ir a Londres. Uma palhaçada. Valorizam mais o Pan-Americano do que a Olimpíada. Tem o índice A? São três vagas para o Brasil? As três melhores deveriam ir. Mas a CBAt não pensa assim. Será que não sabem que estar numa Olimpíada é a consagração de uma vida? O ápice de uma carreira no atletismo?

6) Pelos números da NBC Chicago, 1 milhão de pessoas nas ruas acompanhando e apoiando os corredores na maratona. Será que um dia chegaremos nesse nível? Eu não verei, com certeza. Mas será que meus filhos ou netos terão esse privilégio?

É isso e, aproveito, para pedir desculpas a quem estava conversando comigo sobre a Maratona de Chicago pelo Twitter. Nem pude responder algumas perguntas nem me despedir. Quebrei!

Abraço e até a próxima.

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10 Comments on “O dia em que quebrei na Maratona de Chicago. E Marilson também

  1. André, também já fui quebrado pelo Twitter quando fazia comentários sobre uma final de Grand Slam… Acontece!! 🙂 Uma pena o que aconteceu com o Marílson.

  2. André,

    Não sabia dessa limitação. E olha que já postei muito em algumas maratonas e não tive o mesmo azar que você. ehehehe.

    Sobre o Mosop, ele é o cara a ser batido. Acredito que em breve ele será o novo recordista mundial.

    Marilson: vamos esperar o comunicado oficial.

    Eu esperava mais. Foi decepcionante. Agora é torcer para na próxima conseguir o indice.

    Cruz Nonata e CBAt: ridiculo esses indices. Com a nossa atual estrutura os atletas tem que fazer milagre. Como sempre acontece, em todas as edições de jogos olimpicos, a cobrança por medalha é enorme. Todo mundo cobra. Mas lembrar do coitado que tá treinando, “medigando” um misero patrocinio, ninguém faz.

    A torcida: sinceramente acho que nem nossos netos irão ver um milhão de pessoas assistindo uma maratona nacional.

    Somos os pais do futebol (ou já fomos, pq da raiva assistir os jogos de canarinho), pais de um esporte só.

    Enquanto não houver uma divulgação, um plano de ação nas escolas para criação de atletas em outras modalidades: atletismo, tenis, etc..

    Hoje, nenhuma criança quer ser um Guga, um Marilson.. quer ser um Ronaldo, um Neymar.. e só. Melhor para por aqui… é outro assunto, para outro momento.

    Abç

  3. Palhaçada o limite da CBAt. Sem estrutura nenhuma, o atleta tem que fazer marca de medalhista olímpico para qualificar? Não faz sentido nenhum. Era melhor levar os atletas e ir mostrando para o público em geral: olha, estamos ali, na próxima melhoramos, e vamos avançando. Com certeza traria algum resultado mais interessante no médio/longo prazo.

    —————————

    Renato,

    É bem isso que penso. O atleta “rala” por quatro anos, consegue o índice exigido pela CBAt e não pode ir para a Olimpíada porque a regra brasileira é mais rígida? Até parece, também, que se fosse adotado o índice A teríamos 300 na delegação do atletismo! Além disso, o intercâmbio, estar ao lado das “feras” do esporte, está mais do que comprovado, ajuda e muito no desenvolvimento do atleta.

    Abraço,

    André Savazoni

  4. Olá André! Parabéns pela iniciativa. “Na minha opinião”, esse negócio de sempre nos autodenominar somente país do futebol, o país do carnaval e o país do samba tem os dias contados, principalmente num mundo globalizado e informatizado que vivemos. Com iniciativas como a sua e de outras pessoas conectadas e antenadas nas novas tendências, vamos revolucionar e criar novos valores.

    Claro que a união faz a força “pois uma andorinha não faz verão”, vamos pensar e refletir que o próprio futebol começou apenas por uma pessoa que se chamava Charles Miller. Muitos não sabem, mas ele nasceu no Brasil, o pai dele era escocês e a mãe brasileira.

    Podemos dizer que o “Charles Miller da corrida” foi o jornalista e empresário Cásper Líbero que criou a Corrida da São Silvestre, e divulgou através do seu jornal a Gazeta Esportiva. Hoje, infelizmente, ele não existe mais, mas surgiram muitas revistas especializadas no assunto corrida. Podemos nos orgulhar dizendo que a Revista Contra-Relógio foi a pioneira nesse sentido e está contribuindo para que possamos dizer que já somos o país das corrida, pelo menos das de 10 km. Não vai demorar muito para também sermos o país das maratonas.

    Abraços!!!

  5. Também quase quebrei hoje em Chicago… Uma indisposição me obrigou a fazer um “pit stop” no km 30… Além disso o clima atrapalhou bastante… Depois do km 36 fui para o plano B que era terminar a prova inteiro… Muito calor que foi compensado pela ótima organização… Muita hidratação, tanto de água como de gatorade, além das refrescantes esponjas. Após cruzar a linha de chegada advinha o que tinha ? Cerveja gelada….. Nota 10 para a organização. Abraços

    ——————————-

    Robson

    Como assim, cerveja gelada? Da organização? Vendo pela internet achei a prova muito boa mesmo, ouvindo as entrevistas na NBC Chicago, mas, agora, com seu relato, gostei ainda mais.

    E com qual tempo você fechou?

    Abraço,

    André Savazoni

  6. Um pena mesmo não ter completado a maratona.

  7. Sei que sou uma voz solitária, mas, para não ser mais chato ainda, só deixo uma única frase sobre o microblog: twitter não é chat.

    Mas, voltando à Maratona, acho que o Marilson forçou muito no começo, para se manter no pelotão, o que é completamente justificável. Mas isso custou um preço muito alto. Não acho que errou. Se desse certo, estaria comemorando agora. É um risco que vale a pena passar.

    ———————–

    Fabão,

    Realmente, concordo que para buscarmos recordes, como o Marilson está atrás, temos de arriscar. Mas, neste domingo, confesso, não vi ele arriscando. O ritmo estava dentro do programado por ele e pelo técnico Adauto Domingues. A temperatura, sim, influenciou, mas, volto a dizer, a questão com os isotônicos quentes é um erro que Marilson não pode cometer mais. Ele está no primeiro escalão dos maratonistas, então, pode quebrar por inúmeros outros fatores (faz parte de uma maratona sem qualquer dúvida).

    Abraço,

    André Savazoni

  8. Ah… Desculpe, eu estou mal informado… Não estava sabendo que teve uma questão de “isotônico quente”. Vou me informar melhor. Agora faz mais sentido.
    ua

  9. André,

    Acompanhei a prova toda pela internet no link da NBC, e confesso que quando vi aquele grupo de africanos naquela toada até imaginava o final…e não deu outra.

    Sobre seu comentário #3: O jornalista J.I. Werneck também destaca isto em seu blog seu blog http://www.gazetaesportiva.net/blogs/joseinaciowerneck/2011/10/09/dominio-africano/

    Sobre o comentário #6: Também não verei, mas aposto que seus filhos e netos também não verão.

    E por último: Na proxíma cobertura que for fazer via twitter vale aquela máxima para a maratona: 32km de espera para uma corrida de 10km.

    ——————————————–

    Manoel,

    Boa, farei isso da próxima vez, aguentarei os 32 km só assistindo e, depois, farei os comentários nos 10 km finais.

    Vou ler o texto do Werneck, que está diretamente ligado ao desenvolvimento da corrida de rua no Brasil.

    Abraço,

    André Savazoni

  10. Não pegou bem essa do isotônico quente. Se for desculpa pelo mau desempenho nem precisava dar uma desculpa dessa. Se for verdade é um baita erro do atleta e do seu treinador, pois algumas simples garrafinhas térmicas teriam resolvido o problema. O que ocorreu na verdade foi que Marilson passou e meia maratona junto com o pelotão, talvez num ritmo um pouquinho mais forte do que deveria, e quebrou. Mesmo quebrando ele poderia fazer abaixo de 2:15, mas no nível dele 2:15 é uma marca tão ruim que é melhor parar e pensar em outra prova.

    ————————–

    Julio Cesar,

    Concordo com você sobre o isotônico. Agora, sinceramente, fica uma pergunta no ar: para o Marilson, 2h15 é um tempo muito ruim realmente, mas pelo nível dos outros maratonistas brasileiros, suficiente para garantir uma das três vagas destinadas ao Brasil na Olimpíada de Londres, então, não seria melhor ter feito os 2h15 que seja? Daria uma tranquilidade a mais…

    Abraço,

    André Savazoni

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