Blog do Corredor André Savazoni 5 de setembro de 2011 (13) (102)

A cada Olimpíada e Mundial de Atletismo, fico desanimado

Ao final de cada Olimpíada ou Mundial de Atletismo (o que é pior, porque ocorre a cada dois anos) fico desanimado. O Brasil só “lembra” de seu esporte quando ficamos lá atrás no quadro de medalhas. Sendo superado até por Botswana. Certas explicações são difíceis de encontrar. Por mais que se investigue, analise, caímos sempre na mesma resposta: com as condições financeiras e de estrutura que têm (com raríssimas exceções), nossos atletas e treinadores são verdadeiros heróis e os menos culpados.

Um desabafo: não consigo admitir que um país com 190 milhões de habitantes não seja capaz de montar duas equipes, uma para o Mundial e outra para o Pan-Americano (que, para a CBAt, é a competição mais importante). Com a equipe B, o Quênia ganhou cinco medalhas só na maratona, das seis em disputa. Duas de ouro, duas de prata e uma de bronze! Jamaica, então, voou nas provas de velocidade, com inúmeras conquistas. Deixando as características físicas de lado, economicamente o Brasil é muito mais forte do que as duas nações citadas. Muito mais populoso. Ou seja, teoricamente, teria melhores condições de desenvolvimento para os atletas. Teria…

A Fabiana Murer foi campeã mundial. Nosso primeiro ouro. Nunca tínhamos ouvido o Hino Nacional na competição. Não é um absurdo? Não se iluda. Por mais talento que tenha e potencial (o que já comprovou), Fabiana obteve sucesso por ter o apoio da BM&F. O mesmo que ocorre com o Marilson Gomes dos Santos. Por sinal, hoje, nas provas de pista ou nas ruas, numa competição de nível mundial, só temos o Marilson entre os melhores. E, você entendeu bem: não estou falando de brigar pelas vitórias, mas de estar no “bolo”. Vencer, sinceramente, nem o Marilson.

Elson Miranda, técnico da Fabiana, define bem a situação da campeã mundial. “Se não tiver essa engrenagem, esse trabalho em conjunto, nada funciona. Fomos para lá com apoio total da CBAt, BM&F, Federação Paulista, Comitê Olímpico… É uma gama muito grande de fatores”, afirmou o treinador. “Além disso, tem de ter pista boa, colchão, fisioterapeuta, médico, transporte, nutricionista. Hoje, toda essa equipe foi campeã do mundo.” A Fabiana pode contar com essa estrutura, mas é uma exceção. Infelizmente.

Outro fator preponderante: quem assistiu ao Mundial de Atletismo, observou o excelente estádio de Daegu, na Coreia do Sul. Com pista de primeiro mundo. Foi construído para a Copa do Mundo da Correia e Japão, em 2002. Recebeu, inclusive, a disputa do terceiro lugar. Aqui no Brasil, dos 12 estádios em construção para a Copa de 2014, nenhum tem pista de atletismo. Ou seja, são “arenas multiuso” que só servem para uma modalidade, o futebol! Se os coreanos pensassem assim, não teriam recebido a competição.

O atletismo é um esporte nobre. Não dá para separar sua história com a origem dos Jogos Olímpicos. Mas, infelizmente, aqui no Brasil, está no final da lista das prioridades. Uma pena.

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13 Comments on “A cada Olimpíada e Mundial de Atletismo, fico desanimado

  1. Ainda bem que no penúltimo parágrafo você lembrou do futebol. Aqui é a terra do monoesporte. No dia em que a Fabiana Murer foi campeã mundial, inédito para o Brasil, no Globo Esporte só falavam do cabelo do Neymar, das graças nos treinos de Palmeiras e São Paulo, do estádio do Corinthians. Deveriam ter feito um programa para ela, explicando o que é o salto com vara, a dificuldades dos treinos dela etc. Se a maior mídia do Brasil, ignora os esportes olímpicos e coletivos que não tenham 11 em campo, como poderá se mudar o foco? A criançada só fala em ser jogador de futebol por causa da grana. Não pelo esporte. Poderiam, ao menos, abraçar o esporte de forma coletiva, desde a escola. Utopia? Sim. Mas ainda acho que, se no próximo Pan (que é exclusivo da Record), as emissoras não abrirem mão do ibope para mostrar o nosso esporte como um todo, estaremos fardados a esperar 2014 e só. Porque 2016, Olímpiada… difícil.

  2. Realmente não dá pra aceitar um país com o potencial que tem o Brasil não ter um plano esportivo.
    E pior ainda, ser sede dos próximos Jogos Olímpicos e não ter sequer um Projeto Olímpico sério para formação de atletas.
    No podcast da semana passada o técnico Wanderlei de Oliveira até citou o fato do país contar com poucas pistas qualificadas de atletismo.
    E eu sou da opinião que estádio de futebol não tem mesmo de ter pista de atletismo. Cada coisa no seu lugar. Veja o exemplo do Engenhão.
    Também acho que falta uma política séria e competente para os esportes olímpicos nacionais, a ser iniciada na escola de base, e separada do futebol.
    Outra coisa, enquanto o COB estiver na mão do Nuzman, com a conivência das Confederações, este cenário tem pouca change de mudar. Ele fez muito bem para o Volei, enquanto os outros esportes ficaram à margem do desenvolvimento.
    Me parece que enquanto não surgir um movimento dos próprios atletas no sentido de mudar a forma de gerir o esporte olímpico nacional esta situação não mudará. E isto também é muito difícil de acontecer, pois como muita coisa neste país, a gente sabe que o individual acaba prevalecendo sobre o coletivo. E isto, mesmo no futebol é assim.

  3. Sobre os estádios atuais não terem mais pista de atletismo, é determinação da FIFA. Se alguém insistir e colocar uma pista de atletismo o estádio não é homologado para competições internacionais de futebol.

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    Julio Cesar
    Como escrevi no texto, o estádio de Daegu recebeu a disputa do terceiro lugar da Copa da Correia/Japão em 2002, além de jogos da primeira e segunda fases.
    Abraço,
    André Savazoni

  4. Julio Cesar, não é bem assim.
    A cartilha da Fifa “Exigências e Recomendações Técnicas para Estádios de Futebol” deixa claro, no capítulo “Estádios Multi-Funcionais”, que “tornar o campo consideravelmente maior para outro esporte ou adicionar uma pista ao seu redor pode resultar em perda para os espectadores de futebol e reduzir a emoção, o sentimento de participação e o envolvimento com o jogo”.
    Ou seja, não é tão claro específica assim.
    E mais, a final da Copa de 2006 (França x Itália) foi no estádio Olímpico de Berlim, com pista de Atletismo. Onde teve também Brasil 1 x 0 Croácia.
    Mas como disse anteriormente, eu sou contra pista de atletismo em estádio de futebol.

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    Manoel,

    Em entrevista para a gente aqui no CR no AR, a Carmem de Oliveira também defendeu a ideia de que cada esporte deve ter o seu espaço. Que as pistas de atletismo não podem e não devem brigar com o futebol. Porém, a meu ver, dos 12 projetos brasileiros (que vão virar “elefantes brancos” após a Copa em vários estados), não custaria que dois ou três tivesse pistas de atletismo. Não precisaria ser em todos, claro, mas seria importante para descentralizarmos o esporte e criarmos pontos de treinamento e desenvolvimento pelo país.
    Abraço
    André Savazoni

  5. Atletismo não precisa se fazer com pistas ultramodernas e caras. Uma pista de terra com a distância oficial já é suficiente para garimpar talentos. O que não ajuda em nada são essas dezenas de corridas todos os domingos que acabam tirando os talentos das pistas e todos vão correr na rua pra ganhar uns trocados. Um atleta não se faz só por iniciativa do governo, é preciso envolvimento de todos – escolas, governo, professores de educação física (que não estão nem aí pra isso -, clubes, empresas. Pode parecer simples, mas é mais complicado do que parece.

  6. Ultracomentário sobre as deficiências que encontramos quanto aos apoios ao atletismo no Brasil, pois muitos se pensa que a poucos dias de grandes eventos é que vamos constituir grandes campeões, esquecem que para se ter grandes vencedores nos esportes individuais leva tempo.Temos que superar aspectos sociais, biológicos, com a garra do brasileiro aliado ao conhecimento nutricional, fisioterapico, intercámbio técnico, espaço físico, como pistas e centros de treinamento, mas tudo deve partir do desenvolvimento iniciado lá na sua comunidade, na escola, onde tudo começa a ser valorizado.

  7. É triste ver que o atletismo é tão pouco incentivado, só que nesse ponto a Contra-Relógio também pisou na bola. Na edição de agosto só uma coluna do Lauter Nogueira e na de setembro não lembro de ter visto alguma coisa sobre o Troféu Brasil e o recorde feminino nos 10.000m.
    Eu sei que a linha editorial da revista é voltada para as corridas de rua, mas talvez fosse interessante se tivesse mais espaço para o atletismo no geral. A coluna do Derrick Marcus é sempre interessante.

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    Marcelo,

    Entendo os seus comentários. Realmente, a linha da revista é voltada para as corridas de rua. Agora, lembre, estamos trabalhando cada vez mais com outros meios de informação. Site, blogs e o podcast Contra-Relógio no Ar. Acompanhamos a prova da Simone no Troféu Brasil pelo Twitter, assim que acabou postamos as informações no blog da CR (com texto meu e foto da Fernanda Paradizo). Além disso, fizemos reportagens no CR no Ar sobre o Troféu Brasil e os 10.000m feminino. Abordamos bastante o assunto, inclusive com entrevistas com a Simone e o técnico dela, o Adauto, gravadas pelo Sérgio Rocha na pista logo após o recorde batido. E isso tem sido feito rotineiramente. O site e o CR no Ar também são ferramentas de informação e discussão das corridas de rua e do atletismo. Agora, no programa da semana passada e no que entrou no ar hoje, quarta-feira, 7 de setembro, temos um grande espaço para o Mundial de Atletismo.

    Um abraço,
    André Savazoni

  8. É isso aí André !
    Justamente o que penso, falou bem!
    O Brasil é uma vergonha em relação ao atletismo. Temos que valorizar e muito os patrocínios!!!
    Abraço

  9. André, está tudo bem aqui em casa. As crianças estão se preparando para dormir.
    Foi mais um dia produtivo com dois novos brinquedos para o Pedro e a Vitória.
    Só para completar os comentários acima, um País como o nosso, com o nível de políticos e administradores incompetentes, nós vamos falar em projeto olímpico, provavelmente na véspera do evento.
    É com tristeza que vou completar 60 anos, pois tudo está pior e sem perspectiva de melhorar.
    Um beijo, seu pai.

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    Estão vendo, amigos do blog, para ter a tranquilidade para correr, como estou agora em Punta del Este, só contando com apoio de duas pessoas maravilhosas, meu pai, Jaime, e minha mãe, Solange, que cuidam de minhas duas preciosidades.
    E o gostoso foi que, desde pequeno, devido ao conhecimento e paixão de meu pai, o esporte sempre fez parte de minha vida e de meus irmãos.
    Quem começou a ler o blog mais recentemente, convido a ir ao primeiro texto, de abertura, quando explico por que comecei a correr e as lembranças que tenho de estar correndo pelas areias das praias de Santos com meu pai.
    Como dá para perceber, ele conhece muito sobre nosso Brasil e a cada dia aprendo mais com ele. Realmente, pai, vamos lembrar que seremos palco de uma Olimpíada (e como o esporte pode mudar a vida das pessoas, principalmente o atletismo), apenas nos meses iniciais de 2016. Uma pena. Mais uma vez, nunca na história desse país, perdemos uma chance tão grande de implantar um projeto esportivo.

    Beijão,
    André

  10. Engraçado que o brasileiro médio adota e adora o capitalismo, mas na hora de formar atletas são socialistas, dizendo ser tudo responsabilidade do governo.

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    Julio Cesar,

    Toda responsabilidade do governo? Não, claro. Porém, o governo faz parte do Brasil. Não é “algo a parte”. Da mesma forma que não podemos colocar toda a culpa nos governamentes, não podemos tirar a culpa deles. Ou viveríamos num mundo de faz de conta. No qual muitas vezes vivemos. Ou aceitamos viver. O Ministério do Esporte pode, sim, fazer sua parte e deve ser cobrado. E muito. O Ministério da Educação pode sim fazer sua parte. As secretarias municipais de Educação e Esportes, como as estaduais, devem fazer sua parte. E, com raríssimas exceções, mas raríssimas mesmo, não o fazem. Muito pelo contrário. Nem as federações e confederações, que estão ligadas à política. Além disso, para termos leis que beneficiem a educação e o esporte, porque para mim os dois estão sempre conectados, precisamos de vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, presidente… Não é questão de socialismo ou capitalismo, é de responsabilidade e dever.

    Abraço,
    André Savazoni

  11. André, mais um dia proveitoso. Jogamos basquete no clube e a Vitória ganhou o filme novo da Barbie.
    Escrevendo em Projeto Olímpico, que vitória do nosso basquete, que assegurou a vaga para Londres.
    O trabalho sério e competente sempre dá bom resultado.
    A Vitória está do meu lado desejando boa prova para você e para a mamãe Mari.
    O Pedro está jogando basquete na cozinha.
    Uma boa prova para o dia de amanhã, um bom retorno e aproveitem o passeio.
    Jaime, Solange, Vitória e Pedro.

    eu estou com saudade beijos da Vitória.

  12. obrigado por esse texto me ajudou muito assinado : Ianny e Kleys

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