Ao final de cada Olimpíada ou Mundial de Atletismo (o que é pior, porque ocorre a cada dois anos) fico desanimado. O Brasil só “lembra” de seu esporte quando ficamos lá atrás no quadro de medalhas. Sendo superado até por Botswana. Certas explicações são difíceis de encontrar. Por mais que se investigue, analise, caímos sempre na mesma resposta: com as condições financeiras e de estrutura que têm (com raríssimas exceções), nossos atletas e treinadores são verdadeiros heróis e os menos culpados.
Um desabafo: não consigo admitir que um país com 190 milhões de habitantes não seja capaz de montar duas equipes, uma para o Mundial e outra para o Pan-Americano (que, para a CBAt, é a competição mais importante). Com a equipe B, o Quênia ganhou cinco medalhas só na maratona, das seis em disputa. Duas de ouro, duas de prata e uma de bronze! Jamaica, então, voou nas provas de velocidade, com inúmeras conquistas. Deixando as características físicas de lado, economicamente o Brasil é muito mais forte do que as duas nações citadas. Muito mais populoso. Ou seja, teoricamente, teria melhores condições de desenvolvimento para os atletas. Teria…
A Fabiana Murer foi campeã mundial. Nosso primeiro ouro. Nunca tínhamos ouvido o Hino Nacional na competição. Não é um absurdo? Não se iluda. Por mais talento que tenha e potencial (o que já comprovou), Fabiana obteve sucesso por ter o apoio da BM&F. O mesmo que ocorre com o Marilson Gomes dos Santos. Por sinal, hoje, nas provas de pista ou nas ruas, numa competição de nível mundial, só temos o Marilson entre os melhores. E, você entendeu bem: não estou falando de brigar pelas vitórias, mas de estar no “bolo”. Vencer, sinceramente, nem o Marilson.
Elson Miranda, técnico da Fabiana, define bem a situação da campeã mundial. “Se não tiver essa engrenagem, esse trabalho em conjunto, nada funciona. Fomos para lá com apoio total da CBAt, BM&F, Federação Paulista, Comitê Olímpico… É uma gama muito grande de fatores”, afirmou o treinador. “Além disso, tem de ter pista boa, colchão, fisioterapeuta, médico, transporte, nutricionista. Hoje, toda essa equipe foi campeã do mundo.” A Fabiana pode contar com essa estrutura, mas é uma exceção. Infelizmente.
Outro fator preponderante: quem assistiu ao Mundial de Atletismo, observou o excelente estádio de Daegu, na Coreia do Sul. Com pista de primeiro mundo. Foi construído para a Copa do Mundo da Correia e Japão, em 2002. Recebeu, inclusive, a disputa do terceiro lugar. Aqui no Brasil, dos 12 estádios em construção para a Copa de 2014, nenhum tem pista de atletismo. Ou seja, são “arenas multiuso” que só servem para uma modalidade, o futebol! Se os coreanos pensassem assim, não teriam recebido a competição.
O atletismo é um esporte nobre. Não dá para separar sua história com a origem dos Jogos Olímpicos. Mas, infelizmente, aqui no Brasil, está no final da lista das prioridades. Uma pena.