Performance e Saúde André Savazoni 21 de março de 2012 (20) (346)

Sofrer nos treinos para sobrar nas provas. É isso mesmo?

Há uma máxima na corrida que a cada dia está se tornando uma regra para mim: “Sofrer nos treinos para sobrar nas provas”. Os dias de qualidade, principalmente os tiros, não importando a distância – 400 m, 800 m, 1.000 m, 2 mil, 3 mil… – são fundamentais para chegarmos prontos e confiantes na prova. E feitos sempre bem acima do ritmo que correremos na competição. Não é assim mesmo?

No ano passado, quando entrevistei o Luiz Celso de Medeiros, de 61 anos, de Curitiba, com 100 maratonas no currículo, a maioria sub 3h, isso ficou muito nítido. Veja o pensamento dele (correto ao meu ver). “Os treinos de velocidade dão os parâmetros para o dia da maratona. Se corro a 3:33 por km nos tiros, sei que para fazer a maratona a 3:50 por km, como em Berlim, tenho uma folga. Na verdade, nesse ritmo na maratona estou me preservando. Então, vou forte nos treinos de velocidade e nas provas curtas”. Medeiros, porém, dá uma dica importante para quem busca melhorar os tempos: “Saber se preservar e não ir no limite.” Só para dizer, a Maratona de Berlim a que Medeiros se refere foi a de 1998, a mesma do recorde mundial de Ronaldo da Costa (2:06:05), quando fez 2:42:05, seu melhor tempo nos 42 km.

Fiz a minha melhor meia-maratona em São Paulo, com 1:26:35, e sofri muito menos do que quando corri duas para 1:29:32 (Corpore-2011) e 1:29:16 (Asics BH-2011). Eram minhas antigas marcadas. Nos dois dias, fui no meu limite. Na Meia de SP, como o alvo é a Maratona de Boston, não. Tinha mais o que gastar. Foi totalmente diferente. Sabe por quê? Estou treinando muito mais forte em 2012. E isso inclui ainda o segundo semestre do ano passado, já que as duas meias tinham sido corridas até julho.

Hoje, por exemplo, tive essa sensação de evolução. Que gera segurança e confiança. Era um treino pesado: 20 minutos de aquecimento, 10 minutos de fartlek (30 segundos bem forte e 30 fraco) e 6×1.000 m a 3:40 progressivos, com 1:15/1:30 de intervalo.

O treinamento de hoje, então, seria em um ritmo muito mais forte do que correrei a Golden Four BH no dia 1º de abril e bem abaixo do previsto para a Maratona de Boston, em 16 de abril. Usei a marcação da pista de atletismo, aferida, e não do Garmin: 3:38; 3:37; 3:37; 3:39; 3:37 e 3:33. Todos abaixo dos 3:40. No calor. Começando os tiros às 10h40 e acabando por volta de 11h10.

Não há fórmula mágica na corrida. Tem de treinar. Enquanto em outros esportes (principalmente coletivos) dá para relaxar, ser boêmio e, mesmo assim, no dia do jogo arrebentar (ainda mais porque tem outros correndo por você, como no futebol onde essas histórias repetem-se semanalmente). No atletismo não. Treinou. Tem resultado. Não treinou, não descansou direito, foi para a noite… vai pagar o preço. Então, a ideia é sofrer nos treinos para sobrar nas provas? Eu acredito que sim.

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20 Comments on “Sofrer nos treinos para sobrar nas provas. É isso mesmo?

  1. Notei que neste ano minha primeira meia de SP aconteceu exatamente isso. Fui num ritmo bem menor que de treino, praticamente passeando até o km 17 e depois me soltei, foi incrível……

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    E depois do km 17, Eduardo, já tinha enfrentado uma série de subidas, temperatura estava mais alta e ainda teve a elevação na Avenida Pacaembu. Ou seja, foram os treinos que garantiram isso. Parabéns.

    Abraço
    André

  2. Concordo plenamente. Nunca tinha treinado tanto como agora para a maratona. Qual o resultado? Corri a meia de SP para treino e acabei fazendo meu melhor tempo, sentindo-me com sobra no final. Ou seja, poderia ter forçado ainda mais. Não sei como será minha prova em Paris, mas posso dizer que já estou colhendo os frutos dessa maratona.

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    Alessandro, esses frutos você levará para o restante do ano. Depois de Paris (que dará tudo certo), terá ótimos resultados pessoais em outras distâncias.

    Abraço
    André

  3. Concordo plenamente André. Entretanto, a maratona tem um aspecto que a torna cruel e fascinante ao mesmo tempo. É uma periodização grande para um única tentativa em um dia específico. Nos 10 km, se alguma coisa não sair de acordo naquele dia, daí a 1 ou 2 semanas se consegue fazer outra prova. Na maratona alguma coisa deu errado, já era, só no daí a meses. É por isso que nela o resultado pode não vir mesmo o treinamento tendo sido perfeito.

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    Marcos, esse é o único lado cruel da maratona. O único porém na minha paixão pelos 42 km. Você resumiu bem. Maratona, por mais que treinemos o máximo, saia tudo perfeito, tem o dia. Se ele não ajudar… Se você larga com 25, 28 graus, por exemplo, já foi embora o plano A em 99% das vezes, por exemplo.

    Abraço
    André

  4. Falou tudo André.

    Não existe formula mágica para ganhar condicionamento, velocidade, ritmo, resistência.
    Se treinou direito, com certeza irá colher os frutos.

    Agora dizer que não precisa treinar, é conversa para boi dormir. Conheço meia dúzia que pensa assim.. rsrsrs.

    Sábado te vejo em Paranapiacaba.

    Abç

  5. Concordo muito. Este ano é o ano que mais estou treinando. Ainda podia treinar mais, mas já é bem mais do que era acostumado. Em três meses, corri o mesmo que corri em 6 meses do ano passado. E, nas corridas que participei até agora, fez uma enorme diferença.

    Vou fazer a Meia de Florianópolis domingo próximo e tenho quase certeza que vou melhorar meu tempo. Vai ser o teste pra comprovar que o sofrimento (ainda que possa sofrer mais) nos treinos está funcionando.

    Tudo pensando na Maratona do Rio e um sonho de correr em 3:59:59.

  6. Vale a pena treinar no calor? Será que não prejudica a pele?

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    Não é o ideal Adolfo, mas moramos em um país tropical, temos trabalho e outros afazeres, assim, muitas vezes, não há a opção. É o horário que sobra. Hoje, por exemplo, se tivesse acordado muito cedo, estaria cansado e não renderia o mesmo. E minha mulher tinha o treino de corrida dela para fazer. No meu caso, não é uma regra. O sol, porque o calor está cada ano mais forte, mesmo logo cedo. Então, temos de dançar conforme a música.

    Estou sempre de boné (mesmo de noite, com chuva, no frio….) e óculos escuros, o que ajudam bastante nos treinamentos.

    Abraço
    André

  7. Bem por aí…..

  8. Olá amigo, estou tendo esta mesma sensação sua. Meus treinos aumentaram na faixa de 60 km a semana e já estou vendo os resultados. Os treinos são o bolo e a prova a cereja que você colocará!!!. abraços

  9. Há poucas verdades no campo do treinamento esportivo como “sofrer nos treinos para sobrar nas provas”.

    A corrida talvez seja o mais justo dos esportes: ela te entrega o resultado na medida exata do teu esforço. Nem mais, nem menos. E, cá entre nós: há prazer maior que ver os tempos abaixando ou a frequência cardíaca baixando apesar do esforço aumentando? Como diz a propaganda: certas coisas na vida não tem preço.

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    Roberson, tem toda razão. Estava conversando ontem mesmo sobre esse assunto com o Sérgio Rocha. Realmente, não tem preço.

    Abraço
    André

  10. É isso mesmo….principalmente nos tiros curtos. A partir do momento que se faz tiros de 300 m a 03:30 min/km quando você corre 1000 m pra 04:00 min/km a sensação de esforço é muito menor…e ai fica fácil no dia da prova alvo manter um ritmo mais forte. Abcs!

  11. Excelente matéria caro colega André, Parabens mesmo, esta matéria veio exatamente de encontro as minhas impressões atuais sobre o meu treinamento, depois de um resultado “meia-boca” na Meia de SP, fixei este Mantra na cabeça de Sofrer nos treinamentos, ultimamente o lema é Sangue no “zoio” com a Faca nos “dente” e “bota pra sofrer” nos treinamentos. Parabens (Novamente) pela matéria!!!

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    Rs, é isso mesmo Antonio. E, na próxima meia, tenho certeza que mandará ver.

    Abraço e bons treinos
    André

  12. Oi André,
    Certa vez ouvi de uma prima triatleta o seguinte: “Você ainda não resolveu sofrer o suficiente”, referindo-se à minha dificuldade de evolução na marca dos 10 km. É isso aí.
    Abs

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    Pior, Ana, que é verdade. Os treinos são o parâmetro para tudo e, nos 10 km então, é mais sofrido ainda. Porque é velocidade pura. Não tem jeito. Se os tiros para a maratona são sofridos, para os 10 km nem se fale! rs

    Abraço e vamos treinar
    André

  13. Olá André!

    Concordo com você em gênero, número e grau.

    Este primeiro trimestre do ano foi um dos meus melhores no quesito treinamento, deu para tirar umas férias legais das 8 maratonas que fiz em 2011 (todas fotografando), minha última maratona que completei foi a de Curitiba em novembro no ano passado, de lá para cá resolvi dar um tempo ao longões e me dedicar na recuperação da velocidade, o máximo que corri foi dois treinos de 18 km no Parque do Carmo em dois domingos seguidos, e 3 vezes que corri 16 km no Cemitério de Vila Formosa, para compensar a minha fase de “treinos curtos”, me dediquei aos vários tiros em subida que fiz no Parque do Ceret, nas várias distâncias que abrangem de 100 metros até 1000 metros, e as dezenas de treinos de ritmo na pista na distância de 5000 metros, além dos tradicionais tiros de pista que também abrangem de 100 metros até 1000 metros.

    Ontem a noite (quarta-feira) por exemplo corri 5000 metros na pista de atletismo de Ceret no tempo de 22:27 e hoje (quinta-feira) de manhã fui “trotando rápido” da minha casa até o Ceret num percurso de 4 km com muitas subidas de descidas no tempo de 24:06 e já aquecido já fui para pista de atletismo correr seis tiros de 600 metros com os tempos de (2:26/2:23/2:22/2:24/2:23/2:30) e depois voltei andando para casa “para relaxar a musculatura” (mais 4 km).

    Detalhe 2 dias antes (terça-feira) corri na mesma pista 5000 metros de manhã e 5000 metros a noite com os respectivos tempos 23min22seg (manhã) e 22min03seg (noite), este último meu melhor 5000 metros do ano. Meu objetivo é o sub 19 nos 5000 metros, tempo que cheguei a fazer umas 3 vezes há 8 anos atrás.

    Para se ter uma idéia meu recorde pessoal nos 5000 metros é 18:01, e mesmo com 45 anos acredito que vou voltar a chegar perto e até bater esse recorde.

    Um grande abraço!!!

  14. tenho a mesma lógica só que em outro jargão: “treinamento difícil?! Combate fácil”
    Abraço.

  15. Na maioria esmagadora das vezes, o sofrer está intimamente ligado à dor pois se doou mais do que o comumente se doaria. Mas quantas pessoas, por desconhecimento, tentou atingir o seu limite e acabou passando dele? Quem nunca fez a sua microlesão muscular transformar em uma séria lesão muscular? E aí, o sofrimento planejado acabou dando lugar a um arrependimento não planejado. É nessa programação que devemos sempre lembrar do descanso como forma de treino e também conhecer os nossos limites.

    Escrevo estas linhas, pois já passei por uma situação lamentável, que acho que muito de seus leitores também já passaram, que foi o sentir uma pequena dor mas achando que se continuasse forçando, a dor passaria. Mas foi que o “remédio virou veneno”. Lesão -> repouso + fisioterapia = todo trabalho jogado fora. O importante, penso eu, é saber indentificar o quanto aquela dor muscular que sentimos após um esforço, é um sinal de que já passamos do limite.

    Sacrifício vale à pena? Vale, mas também saber “ouvir” o corpo quando ele pede para não forçar mais do que isto.

    André Savazoni, você é um cara determinado a se superar sempre as suas marcar anteriores de forma metódica! Parabéns! Percebo que correr e colher os frutos de seus treinos lhe dá muito prazer, não dá?

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    Colher os frutos não tem preço, Hélio. Porém, é dessa forma que você disse. Está sendo tudo muito calculado. Metodicamente mesmo. E saber ouvir o corpo é fundamental.

    Confesso que minha mulher, Mari, tem uma participação muito grande nisso. É muito ponderada, pés nos chão, então, aprendi isso com ela. Já fui mais na loucura, hoje, vou na razão. Na segurança.

    Se um dia o corpo está mais ou menos (como foi na semana passada quanto tinha um ritmo de 6 km bem forte), tiro o pé, faço o treino. Era para rodar a 3:50 por km, corpo cansado, rodei a 4:00 por km. Parece pouco, mas quem corre sabe que esses 10 segundos por km fazem uma diferença absurda.

    E não superar o limite, como você falou, é fundamental. Mas isso só vem com a experiência na corrida, com um conhecimento adquirido ano após ano.

    Abraço
    André

  16. O negócio é bem simples: saiu do conforto, correu no limite, suou pra valer, sentiu as panturrilhas queimando, o resultado será uma questão de tempo. Na corrida, assim como na vida, o esforço traz a recompensa. Acho que é por isso que tanta gente gosta da corrida. A pessoa começa dando as primeiras passadas com dificuldades, vai correndo cinco, dez, quinze, trinta, cinquenta minutos, e aí cruza a linha de chegada de uma 10k. A emoção é única. Da mesma forma é a corrida dos “amadores de elite”, as pessoas que fazem da corrida de rua um estilo de vida. Um momento de superação diário. Bem, talvez seja exagero, mas é assim que eu me sinto ao concluir beirando a exaustão um treino de velocidade. E o melhor é que o resultado com certeza aparece. André: você vai “voar” em Boston. Lembre-se: Você será o representante da CR e de todos os assinantes na mais antiga e tradicional Maratona do Mundo. Dê umas passadas por mim. Go….

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    Claudio, não é exagero algum. A sensação é essa mesmo que você descreveu. E é sensacional. Só quem passou por isso sabe do que estamos falando.

    Pode deixar, será bem representado em Boston, rs

    Abração
    André

  17. Joaquim Cruz Dizia que ele precisava sobreviver aos treinos para viver no momento da prova.
    Aprendi que um treino só vale a pena se for forte.

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    Muito bom Julio, ótimo lembrar do Joaquim Cruz, um dos melhores que tivemos. Em todos os sentidos. Pena que é mais valorizado lá nos Estados Unidos do que no Brasil. Coisas de nosso país.

    Abraço
    André

  18. Como já foi dito anteriormente, temos que treinar forte, mas utilizando a experiência pessoal para estabelecer os “limites”. Ultrapassando os limites por um período prolongado poderemos estar contribuindo para o aparecimento de lesões. Em uma planilha não devemos ter somente treinos fortes…

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    Com certeza, Sacadura. Tem dia de rodagem, regenerativo… mas os dias fortes são decisivos, rs. Agora, saber o seu limite, o dia que não está se sentindo tão bem, ah, isso é fundamental.

    Abraço
    André

  19. Conhecia isso como “sofrer nos treinos pra não sofrer nas provas”. Mas a idéia é a mesma… só não pode virar o fio, né? Afinal descanso também é treino. Só não pode ser desculpa (pra não treinar).

  20. André, ontem desisti de um treino por ñ estar me sentindo legal, sem vontade alguma de correr e com uma pequena dor no joelho direito, o joelho operado duas vezes, mas, nem foi a dor o motivo da desistência na corrida e sim a falta de vontade mesmo, fui com a Claudia, ela saiu na minha frente eu fiquei acertando o Garmin e disse a ela q logo a alcançaria. Depois de acertar o Garmin, tentei sair correndo, corri 700 metros e desisti, ai dei uma caminhada e fiquei esperando pela Claudia sem nenhum arrependimento, na noite de quinta feira tinha feito um excelente treino de 10k, mesmo com dores no mesmo joelho e PAPEI mais uma camiseta…rsrrs..Lembra do PAPAR a camiseta??
    É isso aí, se for pra me arrastar sem vontade alguma de SOFRER no treino, prefiro parar. Tinha uma frase no quartel que dizia assim: Quem suar mais, vai chorar menos…
    Grande abraço e bom fim de semana…

    Ezequiel Jr/ Santos SP

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