Quando conversamos com treinadores, a maioria ressalta a importância da periodização para uma prova-alvo, não importa a distância. Muitas vezes, “choramos” , negociamos, vamos atrás do jeitinho brasileiro. Mas realmente, estão certos. Arrisquei tudo para correr a Maratona de Porto Alegre, um mês e 17 dias após Boston. Foi e está sendo dolorido demais, mas a sensação de alcançar o objetivo, o índice para Boston-2013, não tem preço. Ou melhor, o preço a pagar senti a partir do km 28 de ontem e continua por esta segunda-feira… Está doendo tudo. Como nunca doeu.
Na corrida, não posso reclamar deste primeiro semestre. Recordes pessoais nas três distâncias: 39:37 nos 10 km (Tribuna), 1:26:35 nos 21 km (Meia de São Paulo) e, agora, 3:04:45 nos 42 km (Maratona de Porto Alegre), sem falar, é claro, dos 3h26 no calor de Boston. Essas três marcas cairão na segunda metade do ano. Com certeza.
Eu já sabia que por ter emendado duas maratonas, sem o objetivo de correr uma delas para rodagem ou simplesmente completar, as dores seriam maiores. Nos 45 dias que segui me preparando sem a devida parada depois de Boston, após treinos mais longos ou de ritmo, de noite, as pernas sempre pediam água. Ficavam doloridas. Tenho uma ótima recuperação, então, sei que não eram situações normais, daquelas dores que sempre temos ao treinar forte. Esse era o risco (calculado, diga-se) para Porto Alegre. A conta veio. Paguei o preço.
A partir do km 28, posterior de coxa e panturrilha doíam nas duas pernas. Nessa hora, vale usar o que aprendemos com treinadores e amigos. Meu técnico, Marcos Paulo Reis, sempre fala da importância de “ler a prova”. Foi o que fiz. Não poderia deixar o ritmo cair, mas, ao mesmo tempo, não poderia forçar. Lembrei da entrevista do Paulo Roberto de Almeida Paula no podcast Contra-Relógio no Ar: fazer o que dá para ser feito naquele dia. Esse é o objetivo. Segui à risca. Correr em um ritmo que me garantisse o sub 3h05 sem que as pernas “estourassem”. Deu certo.
Após comemorar muito na chegada, fui direto fazer uma massagem, relaxar as pernas travadas. Aí, as câimbras vieram. Primeiro, a pior que já tive, na panturrilha. Demorou para passar. Depois, posterior de coxa. Para terminar, na barriga. Nem sabia que dava câimbra na barriga. Pois dá! Resumindo a história: por um objetivo (no meu caso, o índice para Boston) vale arriscar e emendar duas maratonas para tempo, mas isso, de verdade, deve ser feito raramente. O risco é grande demais. Felizmente, não me machuquei. Mas poderia…
Já me perguntaram aqui no blog sobre o descanso. É fundamental. “Descanso também é treino”. Não há como fugir dessa máxima. Será o que farei nos próximos dias, porque, logo, começa a preparação para a Maratona de Buenos Aires, objetivo do segundo semestre. Parece longe, mas dia 7 de outubro está aí…
Falando da prova gaúcha, senti uma melhora em relação ao ano passado. Houve água e isotônico à vontade durante os 42 km, as largadas ocorreram no horário marcado, com separação de locais entre as diferentes distâncias e de sexo (as mulheres largaram 15 minutos antes na maratona). Ouvi reclamações sobre o transfer gratuito dos hotéis para os locais de largada. Da demora que acarretou até a algumas mulheres largarem atrasadas e homens chegarem faltando 1 minuto para o começo da prova. Comigo, foi o oposto. No ano passado, fui e voltei de táxi porque não consegui pegar as vans, pela demora. Neste ano, ida e volta em vans. O kit, apesar de não ligar para isso, também melhorou.
O percurso manteve o mesmo nível de 2011, só com mais “vaivem”, particularmente, não gosto, mas tudo certo. Uma crítica nesse ponto, as distâncias das marcações de quilômetros, variando demais. Mesmo mantendo o ritmo, pelo cronômetro, chegou a marcar 4:45 em uma passagem e 3:52 na seguinte. Isso atrapalha quem está fazendo o controle. No geral, Porto Alegre honrou a escolha como a melhor do país no 1º ranking de maratonas da Contra-Relógio. Agora, com licença, que preciso colocar as pernas para o alto. Ai…