O que eu penso quando corro? Em quilômetros

Um dos livros mais legais que já li sobre corrida (e que pode ser sobre a vida também, dependendo da interpretação) é “Do que eu falo quando eu falo de corrida”, do japonês Haruki Murakami. Fazendo em paralelo, hoje, se alguém me perguntar o que eu penso quando corro (provas ou treinos), responderei: em quilômetros. Ou melhor, na passagem de cada quilômetro.

É interessante porque, desde o início, a corrida sempre foi uma terapia. Para tirar o estresse do dia a dia. Termino sempre os treinos ou as provas com a cabeça melhor do que comecei. Já serviu para desenvolver projetos, para solucionar problemas, para pensar em pautas, para sonhar… Ultimamente, porém, na maior parte do tempo, não penso em mais nada. A não ser, quilômetros. Ou, mais precisamente, em quanto tenho de fechar cada quilômetro.

Ao mesmo tempo, a cabeça fica cheia e vazia. A melhor prova que considero ter feito até agora (pois a melhor está sempre por vir) foi a Golden Four Porto Alegre, no final de junho. Foi um recorde pessoal, mas não por isso. Pensei apenas em correr quilômetro a quilômetro. Todos abaixo de 4:00/km. Em mais nada. Concentrado e controlando. O tempo todo.

Não considero isso fácil. Pelo contrário. Muitas vezes, falho. Tendemos a divagar, pensar em outros pontos, começar a fazer contas, a nos entregar… há diversos fatores que poderia citar. Mas meu objetivo está mais do que definido: repetir o foco que estava em Porto Alegre. Prova após prova.

Nos treinos, tem sido assim. Gosto do auxílio da tecnologia, mas prefiro mais ainda a sensação de ir descobrindo um ritmo e a correr nele sem qualquer interferência externa. Na preparação para a Maratona de Nova York, tomei uma decisão: com exceção dos longões (pois gosto de fazer na rua), todos os intervalados serão na pista de atletismo, com as marcações da pista e um cronômetro simples. Mais nada.

Na semana passada, por exemplo, foram dois treinos assim: 15×300 m e 8x800m. Tenho o planejamento passado pelo Marcelo Camargo, calculo o quanto tenho de passar a cada 100m (nos tiros mais curtos) ou 200m e 400m (nos mais longos). As parciais são “anotadas” na cabeça.

Nesta segunda-feira, foram 15x400m. Tinha de fazê-los entre 1:21 e 1:23. Calculei o ritmo: 81 segundos, dividido por 4, deu que a cada 100 m tinha de fazer em 20s. Dessa forma, fiz o primeiro em 1:20, o último em 1:21. Todos os outros 13, 1:21 ou 1:22. Quinta-feira, será assim de novo. 7×1.000m entre 3:45-3:50. Ou seja, 45 s a cada 200m, com 1:30 e 3:00 as passagens dos dois 400m… É, não dá tempo de pensar em mais nada.

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