Blog do Corredor André Savazoni 19 de abril de 2013 (2) (145)

A ficha cai em Boston

Aos poucos, a ficha vai caindo em Boston. Depois dos incidentes de segunda-feira, apesar das imagens repetidas à exaustão aí no Brasil, o clima aqui ainda é de extrema tranquilidade. Parece que estamos na cidade mais segura do mundo, devido ao número de policiais e militares nas ruas. Não há qualquer sensação de insegurança. Muito pelo contrário. Cenário afetado nos arredores, com a perseguição ao segundo dos suspeitos, na madrugada e manhã de hoje.

Mas a realidade, dia após dia, vai lhe dando um tapa na cara. Na quarta-feira, ao ir até o “memorial” improvisado pelos moradores da região às vítimas, principalmente ao garoto Martin Richard, de 8 anos, a sensação foi de um piano caindo nas costas. Não há como deixar de pensar que poderia ser meu filho, o seu… Todo homem que corre maratonas, sempre tem esse sonho, esse ideal. Não importa se já é pai ou virá a ser. Ter o filho o esperando, próximo da linha de chegada, para cruzarem o pórtico juntos. Ou somente para um sorriso, um toque de mão, uma conversa pelo olhar. Um orgulho duplo. “Aquele é meu filho”. “Aquele é meu pai”. Foi essa emoção que Martin e o pai tiveram. Durou alguns longos segundos. Inesquecíveis. Pelo menos, mais duradouros do que a fração de segundo em que uma vida foi embora.

A dor é grande demais. Imaginando esse momento, no meio do silêncio total diante do “memorial”, não há como segurar as lágrimas, sentir uma angústia, uma batata quente na garganta. É sensacionalismo dizer “escapamos da morte”, mas não há como negar (e pensar) que ela passou por perto. Não era a hora nem o momento. Mas a minha mulher, Mariluci, estava ali, na frente de onde tudo foi pelos ares, durante mais de 1 hora, me aguardando… e se eu tivesse chegado depois, e se a bomba tivesse explodido antes…

Nessa hora, vale pensar como os moradores de Boston e região, que são a alma da maratona. Sem eles, a prova seria como qualquer outra do mundo. Com eles, torna-se única. Especial. A mensagem que mandam é que são fortes e que nada, nem ninguém, irá derrubá-los. A ferida está aberta (e ficará por tempos), a ficha cai, mas avisam que darão a volta por cima, machucados, porém prontos para continuar correndo.

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2 Comments on “A ficha cai em Boston

  1. Oi André, fico imaginando o quanto tudo isto está sendo difícil, e vai demorar muito para passar esta sensação. Foi um acontecimento que chocou a todos. Graças a Deus vocês estão bem. Agora é rezar para as famílias e todas as pessoas que foram atingidas.
    Um grande abraço.

  2. André

    Parabéns pelo comentário, dos que eu li até agora foi o único que focou no que eu achei mais triste que foi ter atingido as crianças que ficam incentivando suas famílias e os outros corredores. É uma pena que um clima de confraternização que a cidade de Boston nos propicia seja estragado por uma ação sem sentido.

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