Uma questão simplesmente de cultura

No domingo, disputei a quarta edição da Meia-Maratona Amil, em Campinas. Prova bem dura (das que conheço no Brasil, os 21 km mais difíceis, piores até que algumas de montanha). Subidas e descidas. Particularmente, neste ano, ainda mais complicada, devido ao vento contra nos sete quilômetros finais.

A corrida passa por avenidas tradicionais em Campinas e estava bem sinalizada. Em alguns trechos, uma pista para carros e uma ou duas para corredores. Em outras, o espaço todo para a meia. Manhã de domingo, então, cruzamentos eram fechados e, com a presença de amarelinhos e guardas, sendo liberados conforme o fluxo.

Em todos esses trechos, motoristas indignados. Buzinando. Outros, xingando. Incluindo os de ônibus municipais. E, garanto, a maioria faz parte do grupo que em época de Olimpíadas ou Mundiais critica os atletas por não trazerem resultados ou nas conversas em bares, redes sociais, dizem que o governo é uma “porcaria” por não apoiar o esporte. Mas não podem nem esperar cinco ou dez minutos, pois está tendo uma meia-maratona no caminho deles. Uma única prova de 21 km em 365 dias do ano. Isso mesmo!

Na parte final, ainda pior. No trecho paralelo à Avenida Aquidabã, um carro passa por cima dos cones e quase atropela o corredor que seguia na minha frente. Um outro, se “empolga” e faz o mesmo: joga o carro para esquerda, em cima de mim. Tive de “frear” ou teria sido atropelado. Xinguei de todos os palavrões possíveis e alguns a mais. Duas garotas que estavam ao lado, completando os 10 km, ainda incentivaram. “Xinga mesmo, que babaca”. Pena que, após a longa e interminável subida do final, não tinha como memorizar a placa do carro, ou a colocaria aqui para presentearmos o infeliz.

Os motoristas de Campinas deram um baita mal exemplo. Péssimo. Não todos, claro, mas a maioria dos que cruzaram o caminho da meia-maratona, no domingo, com certeza sim. Pelo menos nos momentos em que eu fui passando pelo percurso. Algo que, infelizmente, é extremamente comum no Brasil. E que, ao contrário, não vemos no exterior.

Não é dizer de elogiar o que vem de fora, mas simplesmente param Nova York por doze horas e as pessoas e motoristas também vão as ruas para gritar. Gritar palavras de incentivo e apoio aos corredores. O mesmo em Boston. na Disney. Em Chicago e Paris, idem, segundo relatos de amigos. E em diversas provas espalhadas mundo afora. A diferença? Simplesmente uma questão de cultura. E isso não tem a ver com governo, com empresários, com nada. Tem relação com o povo. Com a forma como encaram o esporte.

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

É GRATUITO, RECEBA NOVIDADES DIRETAMENTE NO SEU E-MAIL.