Blog do Corredor André Savazoni 25 de março de 2014 (9) (101)

Uma questão simplesmente de cultura

No domingo, disputei a quarta edição da Meia-Maratona Amil, em Campinas. Prova bem dura (das que conheço no Brasil, os 21 km mais difíceis, piores até que algumas de montanha). Subidas e descidas. Particularmente, neste ano, ainda mais complicada, devido ao vento contra nos sete quilômetros finais.

A corrida passa por avenidas tradicionais em Campinas e estava bem sinalizada. Em alguns trechos, uma pista para carros e uma ou duas para corredores. Em outras, o espaço todo para a meia. Manhã de domingo, então, cruzamentos eram fechados e, com a presença de amarelinhos e guardas, sendo liberados conforme o fluxo.

Em todos esses trechos, motoristas indignados. Buzinando. Outros, xingando. Incluindo os de ônibus municipais. E, garanto, a maioria faz parte do grupo que em época de Olimpíadas ou Mundiais critica os atletas por não trazerem resultados ou nas conversas em bares, redes sociais, dizem que o governo é uma “porcaria” por não apoiar o esporte. Mas não podem nem esperar cinco ou dez minutos, pois está tendo uma meia-maratona no caminho deles. Uma única prova de 21 km em 365 dias do ano. Isso mesmo!

Na parte final, ainda pior. No trecho paralelo à Avenida Aquidabã, um carro passa por cima dos cones e quase atropela o corredor que seguia na minha frente. Um outro, se “empolga” e faz o mesmo: joga o carro para esquerda, em cima de mim. Tive de “frear” ou teria sido atropelado. Xinguei de todos os palavrões possíveis e alguns a mais. Duas garotas que estavam ao lado, completando os 10 km, ainda incentivaram. “Xinga mesmo, que babaca”. Pena que, após a longa e interminável subida do final, não tinha como memorizar a placa do carro, ou a colocaria aqui para presentearmos o infeliz.

Os motoristas de Campinas deram um baita mal exemplo. Péssimo. Não todos, claro, mas a maioria dos que cruzaram o caminho da meia-maratona, no domingo, com certeza sim. Pelo menos nos momentos em que eu fui passando pelo percurso. Algo que, infelizmente, é extremamente comum no Brasil. E que, ao contrário, não vemos no exterior.

Não é dizer de elogiar o que vem de fora, mas simplesmente param Nova York por doze horas e as pessoas e motoristas também vão as ruas para gritar. Gritar palavras de incentivo e apoio aos corredores. O mesmo em Boston. na Disney. Em Chicago e Paris, idem, segundo relatos de amigos. E em diversas provas espalhadas mundo afora. A diferença? Simplesmente uma questão de cultura. E isso não tem a ver com governo, com empresários, com nada. Tem relação com o povo. Com a forma como encaram o esporte.

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9 Comments on “Uma questão simplesmente de cultura

  1. Que coisa louca!! Realmente falta cultura a nosso povo. Aqui na minha cidade a gente faz uma corrida de 5 km por ano e é duro aguentar esse motoristas mal educados também!!

  2. Acho q essa “cultura” tem nome: FALTA DE EDUCAÇÃO! O q esperar de motoristas que cruzam as calçadas sem dar seta, quando vão acessar o posto de gasolina ou sair do Drive Thru do McDonalds? Ou q desrespeitam o sinal vermelho e ainda te xingam pq vc estava atravessando a rua naquele momento, sobre a faixa de pedestre? Ou do cara q quando vê vc correndo perto da guia, “joga” o carro na sua direção pra te forçar a subir na calçada? Enfim… A falta de educação e respeito é geral… Cabe a nós ficarmos alertas, sempre!

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    Nem fale, Marcos. Outro dia, estava correndo rápido, em cima da calçada. Tinha o acesso a um posto de gasolina. O cara simplesmente me viu e jogou o carro. Eu xinguei e ele ainda ficou bravo como se fosse o dono do mundo! Uma pena. Temos de ficar 100% atentos… o tempo todo.
    Abraço
    André

  3. É uma pena que seja assim. Mas não me surpreende, nem um pouco.
    Moro num prédio onde, pra entrar com o carro na garagem, venho sinalizando com seta uns 200m antes, diminuo e aguardo o fluxo do outro lado diminuir, pra poder cruzar. Mas, frequentemente, recebo uma buzinada de alguém que vem atrás e não queria diminuir, perdendo no máximo 10 segundos do seu tempo. Como se eu não pudesse entrar na minha garagem. Como se, pelo simples fato de ele estar atrás, eu tivesse que passar direto e tentar novamente sem a presença dele.

    E esse é um caso entre milhões, que mostra que somos mal educados, e no trânsito parece que essa falta de educação ganha contornos insuperáveis. A partir do momento que um mal educado entra num carro, o mundo passa a girar em seu redor.

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    Luiz, vivo essa situação também. E duas vezes, mesmo a rua sendo de mão dupla, uma faixa, reduzi para entrar e um carro veio para ultrapassar (é proibido) e outra, um motoboy….esse se jogou no chão para não bater… felizmente, ele viu a bobagem que fez e pediu desculpas!

    Abraço
    André

  4. Como moro em Campinas e já morei em dezenas de cidades brasileiras, posso afirmar com segurança: Campinas tem os piores motoristas do país. É um absurdo o que se vê por aqui no dia-a-dia. Presenciei tudo isso, motoristas e passageiros do ônibus gritando e discutindo com guardas, xingando corredores, uma vergonha. Sei que não justifica, pois todos deveriam apoiar a única meia maratona da cidade, mas os amarelinhos são péssimos na distribuição e fechamento de vias. Algumas ruas deveriam ser fechadas antes da interseção com o percurso da corrida, dando opção ao motorista de pegar outro caminho. Tive um amigo que ficou 50′ com o carro parado esperando a prova passar. Se a EMDEC tivesse planejado, poderia desviar esses caminhos antes, afim de minimizar esses problemas.

  5. Oi André,
    Isso é muito ruim mesmo. Nos dá a impressão que muitos não possuem o mínimo de respeito com o próximo.
    Há alguns anos participei de uma meia maratona na cidade de Guaratinguetá, e aconteceu coisas similares ao que relatou. Em alguns trechos, a maioria do percurso da prova, o trânsito não foi impedido, e nos cruzamentos os motoristas tinham que esperar os corredores passarem. E presenciei falta de paciência e respeito de muitas pessoas.
    Isso acaba afastando as pessoas destes eventos e prejudica a propagação do esporte ainda mais.

  6. É triste quando chegamos ao ponto de pensarmos que é imprescindível elaborarmos Guias de recomendações com o intuito de disseminar através da Internet. Tais Guias como:
    – Guia de recomendações para corredores e ciclistas que treinam em vias públicas.
    – Guia de recomendações para corredores e ciclistas que treinam À NOITE em vias públicas.
    – Guia de recomendações para corredores e ciclistas (DO SEXO FEMININO) que treinam SOZINHAS em vias públicas.

    Se em um dia movimentado já há estas infrações, imagine quando treinamos cedo, ainda de madrugada, sem muito movimento!
    Quando posso, sempre treino correndo em direção contrária a dos carros. E mesmo assim, avistando um carro, a uma distãncia de uns 300metros, já começo a pensar como me esquivar caso jogue o carro para cima de mim.

    Um fato curioso que eu já percebi. De madrugada/manhã, os idosos são os maiores frequentadores, correndo ou caminhando. Os jovens preferem a noite. Pois então, eu nunca vi jogarem o carro para cima de um idoso… Será que eles acham que nós sempre nos safaremos ileso por sermos corredores????? Chego a pensar que é uma grande inveja que faz com que tenham estas atitudes de pura raiva justificando não terem ou não conseguirem ter estes hábitos que nós corredores temos.

    E é por essas e outras que os fones de ouvidos também não ajudam na segurança. A pessoa fica dispersa do ambiente.

  7. Aqui em Curitiba também temos problemas de buzinaço em meias e maratonas.

    O que o Felipe colocou deveria ser mais disseminado entre os organizadores de meias e maratonas: “Algumas ruas deveriam ser fechadas antes da interseção com o percurso da corrida, dando opção ao motorista de pegar outro caminho.”

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    Há esse problema, realmente, Adolfo, mas eu vi agentes orientando e falando de opções, mas o motorista reclamando que teria de dar uma volta….

    Abraço
    André

  8. O problema é também do órgão de trânsito, que muitas vezes não dá opção ao motorista.
    não acho justo alguém ter um compromisso e ter que ficar parado 50 minutos um domingo de manhã esperando uma corrida passar. Imaginemos o seguinte: A gente sai num domingo cedo pra algum compromisso ou mesmo ir no mercado ou na padaria, e de repente sem a gente saber de nada dá de cara com um cruzamento fechado pra uma competição de skate naquela avenida, e a gente não tem como fazer a volta porque não havia avisos, então apesar de termos horário temos que ficar 50 minutos parados olhando passar os skatistas…
    E sobre ter jogos olímpicos aqui e cadê o incentivo e etc, desculpem, mas não tem nada a ver uma corrida de rua com o esporte profissional dos jogos olímpicos.
    E sobre no exterior ser diferente, isso me lembra uma passagem em um dos livros do Lance Armstrong na qual ele diz que perdeu a conta de quantas vezes foi atropelado, abalrodado, ameaçado e xingado enquanto treinava por motoristas em suas possantes caminhotes… não dá pra querer comparar maratona de NY com meia maratona de Campinas, seria mais justo tentar comparar provas do mesmo nível.

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    Julio, a comparação é simples e nesse caso, a meu ver válida, pois se um evento com 50 mil pessoas que para uma cidade, é respeitado, fica óbvio que na maioria das provas menores, também. E não eram 50 minutos parado, pois os agentes de trânsito estavam corretamente informando nos locais que vi. Eram 5 minutos, 10 no máximo… com informações durante a semana e caminhos alternativos. Então, a meu ver, a questão é cultural de não valorizar nada além do umbigo aqui. E isso não é exceção.

    Abraço
    André

  9. Boa noite Andre,
    infelizmente no Brasil, esporte é somente o futebol, os demais atletas são considerados vagabundos…quantas vezes treinando não ouvi> vai trabalhar rapaz…estive semana passada correndo em Paris, e a prova deixa fechada por mais de 6h uma das principais avenidas da capital francesa, a champs elyseé, entre outras,e o que se vê são muitas pessoas nas ruas torcendo e incentivando. Creio que vamos demorar muito para fechar lá…
    Abraços
    Renato

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