Comecei a correr em 2006 aos 47 anos de idade, após um longo período de sedentarismo e durante o qual cheguei a pesar 92 kg. A primeira prova de que participei foi a Unimed Jundiaí, na qual a minha principal preocupação era completar os 10 km sem andar. Consegui completá-la em 57 minutos e fui imediatamente contaminado pelo vírus da corrida. Queria fazer a próxima prova o mais cedo possível.

Então, percorri uma trajetória conhecida por muitos corredores: buscar mais informações sobre treinos, alimentação, materiais esportivos, e procurar um estilo de vida mais saudável, visando baixar os tempos de prova. Desde o início, já tinha colocado algumas metas na minha cabeça, que julgava difíceis, mas não impossíveis de serem atingidas: completar 10 km abaixo de 40 minutos e uma maratona abaixo de 3 horas.

Lendo sobre corrida nas revistas especializadas, sites e alguns livros, evolui nos treinamentos e perdi mais algum peso (quando comecei a correr, já estava com 75 kg). Aprendia, também, um pouco a cada prova, descobrindo que o caminho seria mais longo e difícil do que parecia a principio. Consegui, no final de 2008, os primeiros 10 km abaixo de 40 minutos. Aos poucos, eu percebia que minhas metas iniciais eram diferentes quanto à dificuldade: completar a maratona abaixo de 3 horas seria muito mais difícil do que os 10 km abaixo de 40 min.

Depois de correr sete maratonas, estava próximo de alcançar meu objetivo: completei a de Curitiba em 2010, com o tempo de 3h10. Em janeiro de 2011 iria correr a Maratona de Miami, e pelas condições mais favoráveis de clima e percurso, acreditava que seria possível conseguir novo recorde. Confirmei isso na prova, fechando em 3h04. E imaginei que a melhor chance de ser sub 3h seria repetir Miami no ano seguinte.

VIAGEM COM A FAMÍLIA. No meio do ano, eu e minha esposa fizemos a programação da viagem, buscando reunir turismo e corrida, bem como incluir os filhos e uma família de amigos. O estado da Flórida, onde fica Miami, tem passeios para todos os gostos e com preços convidativos. Com a inscrição feita e passagens compradas, elaborei uma planilha de treinos com iniício em setembro e um pouco mais forte que a do ano anterior, tanto em volume como em intensidade.

Infelizmente logo começaram os problemas. No final de setembro, uma dor no joelho me fez parar por uma semana. Contudo, fisioterapia e exercícios de reforço muscular me fizeram voltar progressivamente aos treinos. No final de novembro, sem dores no joelho e com os treinos programado, senti a temida fasciite plantar. Pensei que seria obrigado a desistir da maratona, mas novamente com a ajuda da fisioterapia, de alongamentos e da proteção de esparadrapos, pude voltar devagar aos treinos.

Nesse ponto resolvi abandonar a planilha e radicalizar o treino: correr de três a quatro vezes por semana, fazendo um grande volume em cada sessão, usar a bicicleta para complementar, além das sessões de fisioterapia e reforço muscular duas vezes por semana. Na semana de maior volume, três semanas antes da prova, corri 114 km e pedalei outros 95.

Durante a preparação fiz diversos treinos de 30 km na pista de atletismo, o que é ótimo para a preparação mental. Além disso, minha única chance de alcançar a meta era reduzir ainda mais o peso. Em média, acredito que cada kg perdido significa uma melhora em torno de 1,5 minuto em maratona. O final de ano certamente não é a melhor época para se fazer regime, mas, mesmo assim, consegui perder quase 2 kg.

Enfim a viagem chegou; fomos para Orlando em 18 de janeiro. Corri uma prova de 5,2 km no dia 21 e consegui melhorar um pouco o tempo do ano anterior; estava me sentindo bem e mais confiante para a Maratona. No dia 27 viajamos para Miami e neste mesmo dia fui à feira para retirar o kit.

25 MIL INSCRITOS. Apesar dos 25 mil inscritos para as três provas (5 km no sábado, maratona e meia simultâneas no domingo), a entrega estava muito organizada e sem filas, sobrou muito tempo, inclusive, para passear na feira e ver como seria a prova. O que havia de bom no ano anterior foi mantido: largada às 6h15, ainda escuro, com baias fechadas e acesso controlado com firmeza, chip colocado atrás do número de peito, percurso plano e com 20 postos no percurso, todos com água, Gatorade, socorro médico e banheiros.

Uma melhora ocorreu na hidratação: além dos tradicionais copos abertos, a água seria fornecida também em saquinhos fechados. Havia um estande na feira para mostrar a novidade e instruir os corredores para o uso – basicamente morder um canto do saquinho para liberar a água aos poucos. Embora seja melhor que os copos abertos e possibilitar que se tome a água sem diminuir o ritmo, continuo achando os nossos copinhos fechados uma solução de melhor qualidade. Outra boa surpresa foi a medalha comemorativa da 10ª edição da prova, ainda maior e mais bonita que a do ano anterior.

As previsões eram de um clima mais quente do que o do ano anterior e, de fato, ainda de madrugada, enquanto caminhava para a largada, pude sentir a diferença; estava de regata e não sentia frio. A temperatura devia estar em 19 graus e se esquentasse meu tempo de prova seria prejudicado, mas não tanto quanto seria para os americanos e europeus que vieram de climas frios.

A largada é conjunta da meia e da maratona, com mais de 20 mil pessoas, porém a excelente organização e o fato de largar na frente graças ao tempo do ano anterior, possibilitaram correr quase sem trânsito, mantendo o ritmo em torno de 4:10 min por km desde o início. Como a marcação é em milhas fui controlando a prova com base no ritmo necessário de 7:52 min por milha.

MUDAR PARA 21 KM PODE. Por volta do km 20 ocorre a separação dos que estão na meia-maratona, existindo a opção de quem está correndo a maratona mudar de ideia e finalizar a meia com direito à medalha e resultado oficial. Depois dessa separação, a rua fica com poucos corredores, uma condição ótima para manter o ritmo e pegar água e Gatorade em todos os postos. Passei a marca da meia em 1:28:57, dentro do planejado e ainda em boas condições.

O clima passou a colaborar: amanheceu nublado, o sol não apareceu e a temperatura praticamente não subiu. Mesmo assim, a prova começou a pesar a partir do km 28, sendo cada vez mais difícil manter o ritmo; andei cinco vezes por curtos períodos de tempo em alguns postos de hidratação. Depois de andar pela última vez no km 37 fiz as contas com a precisão que a fadiga me permitia, e conclui que iria chegar próximo das 3 horas. Lembrei de um post que li no site da Contra-Relógio alguns dias antes, no qual o editor André Savazoni comentava sobre a frustração dos resultados do tipo 40:05 nos 10 km e que o atleta sempre pensava que poderia ter forçado um pouco mais e feito abaixo de 40 minutos.

Então, resolvi que, se não conseguisse meu objetivo, não seria por falta de esforço. Daí para frente não andei mais e usei toda a energia que restava. Todo o sofrimento foi compensado: 3:59:39, meta alcançada e primeiro lugar na faixa etária (50/54 anos). Depois de 15 minutos de intenso cansaço residual, muita alegria e comemoração. Depois de tudo, concluí que a receita ultra-simplificada para melhorar o tempo na maratona é: treinar muito, comer pouco, zero álcool e se matar na prova.

A prova cresceu em relação à edição anterior com 16.095 concluintes na meia (13.519 em 2011), sendo 7.780 homens e 8.315 mulheres. Na maratona foram 3.970 concluintes (3.577 em 2011) compostos por 2.593 homens e 1.377 mulheres. A participação brasileira cresceu para 38 atletas na maratona. Considerando a qualidade do evento e a facilidade da viagem, acredito que poderia ser bem maior nos próximos anos. Mais informações no site: www.ingmiamimarathon.com. E para provas em Orlando: www.trackshack.com.