Hoje em dia aumenta, exponencialmente, o número de pessoas que adere ao esporte para ampliar seu círculo social, com o objetivo de fazer novos amigos, conhecer lugares e, em alguns casos, até para arrumar uma boa paquera. Performance, para eles, fica em segundo plano, mas apesar disso a convivência com os corredores competitivos e dedicados da equipe costuma ser pacífica.
"É importante não forçar ou pressionar os que não querem melhorar o tempo em cada prova ou não ligam nem um pouco para resultados. Mas também não podemos deixá-los soltos, sem um objetivo. Mesmo que não haja nenhuma preocupação em relação à performance, procuramos definir metas a todos, e isso faz com que treinem mais comprometidos e evita que faltem nos dias de chuva ou quando estão mais cansado", diz o diretor técnico da Run & Fun no Rio, João Paulo Póvoa.
Há cinco meses funcionando, a Run & Fun carioca conta com 50 alunos. Desse total, Póvoa acredita que apenas 30% treinam por performance, enquanto o restante buscou a assessoria na corrida principalmente para emagrecer. Apesar de minoria, o preparador considera importante ter no grupo corredores com preocupação de melhorar tempo e performance, geralmente adeptos de meia-maratona e que não perdem um treino em sua preparação. "Eles estimulam os outros, que mesmo não inscritos nas provas gostam de começar os treinos junto com os mais rápidos, pois são contagiados pela determinação e energia dos competidores."
Com mais tempo nas pistas cariocas – são 21 anos como treinadora, sendo 11 à frente de sua própria assessoria esportiva -, a ex-triatleta Luciana Toscano e fundadora da Equipe Toscano afirma que costuma existir uma ótima convivência e respeito entre os corredores. Mas admite que, mesmo não havendo atritos, os grupos sempre ressaltam o absurdo de objetivos tão diferentes entre eles. "A galera de alta performance respeita o grupo da saúde, mas tem a opinião que ‘não sei o que fazem aqui, já que não querem melhorar e competir …'. Por outro lado, a turma light acha uma bobagem alguns ‘marmanjos' quererem melhorar e visar performance depois de ‘uma certa idade'. Mas fica cada um na sua, e cabe a nós, da assessoria, respeitarmos e direcionarmos os treinos de acordo com o perfil de cada um", comenta Luciana.
ALGUNS MOMENTOS JUNTOS. Corrida é assim, para todos os gostos, ritmos e tipos de pessoas. Coincidir os treinos regenerativos é uma boa oportunidade, tendo em vista que correr mais lento é uma das necessidades. Também o momento do alongamento é uma ótima oportunidade para interagir os dois grupos e, geralmente, é acompanhado de uma boa dose de descontração. Assim como a época de treino de base ou o encerramento do ano.
"Várias vezes percebo momentos de muito companheirismo no final desses treinos. Em alguns, de subida, os corredores mais fortes já estão descendo e dão força aos outros ou às vezes esperam no topo da ladeira para um pouco de descontração. Essas situações são muito boas, pois os alunos se sentem felizes e estimulados. Os treinos ficam mais dinâmicos e divertidos com a largada conjunta da maioria e isso torna cada seção especial para todos", pondera Póvoa.
Já no treino, o assunto é bem diferente. Tanto Póvoa quanto Luciana concordam que se a intenção do corredor é conversar enquanto corre, primeiro ele precisa identificar quem está a fim. Ter certeza de que o parceiro, ou parceiros, possuem um "ritmo" parecido também é importante. A questão do bom senso evita o estresse físico associado à adequação de velocidade, já que o desconforto é tanto para quem precisa correr mais rápido, quanto para quem precisa diminuir o próprio ritmo.
Com 180 alunos, a Equipe Toscano também conta com uma minoria de corredores que treinam em busca de performance. Entre estes e os mais descompromissados, que treinam por saúde e prazer, existem ainda os que, embora não persigam tanto os números, buscam evolução e desafios como passar dos 10 km para a meia-maratona. Por isso, Luciana considera a participação em provas, na própria cidade, em outros estados ou até em outros países, muito indicada para aumentar e melhorar a convivência entre os grupos de interesses distintos.
"No ano passado fomos para a Maratona de Amsterdã, que além dos 42 km oferece 21 e 8 km. Dessa forma, dava para agradar aos vários tipos de corredores da equipe, apesar de um de nossos alunos ter desistido porque tinha muita gente na turma que não levava a sério a corrida. Juntamos 50 pessoas para a viagem e foi uma experiência muito interessante", lembra Luciana.