Notícias Redação 11 de janeiro de 2012 (1) (136)

Maratona de Nova York: arrasadora

Todos apostavam no recorde da prova em Nova York, no dia 6 de novembro, mas com certeza ninguém imaginava que seria um resultado tão arrasador. Eram muitas as expectativas em cima do queniano Geoffrey Mutai. E a pergunta que mais se ouviu entre os especialistas que circulavam na sala de imprensa do evento era: "O que será que o mais rápido maratonista da história, que não teve seu recorde mundial homologado em Boston (2:03:02) pelas regras da IAAF, poderia fazer em Nova York?"

O fracasso de Haile no ano anterior deixava uma dúvida no ar e era um discurso recorrente daqueles que conheciam o percurso e apostavam numa corrida mais consersadora, que fosse definida no Central Park, conforme vinha acontecendo nos últimos anos. Mas Geoffrey Mutai mudou definitivamente a história da prova, batendo o recorde aguardado, que já durava dez anos e pertencia ao etíope Tesfaye Jifar (2:07:43, em 2001), com uma marca que nem o mais otimista esperava num percurso tão adverso: 2:05:06.

Esse resultado é o mais rápido corrido numa prova válida em solo americano (não contando Boston), para felicidade de Mary Wittenberg, presidente do Clube de Corredores de NY, que organiza a prova, e que em nenhum momento na coletiva dos campeões deixou de mostrar sua alegria pelos números alcançados. Com temperatura e dia perfeitos em Nova York e um grupo de elite masculino de primeira linha, o evento rendeu ainda mais dois resultados abaixo do antigo recorde. O queniano Emmanuel Mutai foi o 2º, com 2:06:28, seguido do etíope Tsegaye Kebede, com 2:07:14. Com o resultado em Nova York, Mutai garantiu o título da 2010-2011 da World Marathon Majors (as 5 grandes, junto com Chicago, Boston, Berlim e Londres), levando para casa a premiação de US$ 500 mil.

Já na prova feminina o que se viu foi um passeio solitário e arrojado da queniana e recordista mundial de meia-maratona Mary Keitany, que assumiu um ritmo forte desde o início, passando os 21 km para a incrível marca de 1:07:56, mas que não conseguiu manter a liderança até final, sendo ultrapassada no km 39 pela etíope Firehiwot Dado, que venceu com 2:23:15. Keitany foi ainda superada pela também etíope Buzunesh Deba, que fechou em 2:23:19, enquanto a queniana marcou 2:23:38. O título da Marathon Majors já era da russa Lilya Shobukhova.

 

47.795 CONCLUINTES! Ainda que a edição de 2011 tenha sido uma prova de recorde de percurso, Nova York continua mesmo mostrando sua grandiosidade nos números de participantes, que crescem de forma progressiva. No total, 46.795 finalizaram a prova, ou quase todos que largaram e que somaram 47.438. Os números representam um aumento de 1.692 finishers em relação ao ano passado, que teve 45.103, e mantém o evento na posição de maior maratona do mundo.

Para este ano, algumas mudanças foram feitas nos eventos que compunham a programação. A grande alteração em relação ao que se via até então foi a substituição da tradicional Corrida da Amizade, que celebrava as delegações estrangeiras no sábado anterior à prova, pela Parada das Nações, na sexta à noite, que passou a ser um desfile dos corredores de cada país, com direito à queima de fogos ao final. Outra mudança significativa do evento foi a realização de uma corrida de 5 km na véspera da maratona, aberta a quem quiser se inscrever, com pagamento, e sem medalha ao final, com chegada no Central Park.

Entre os amadores, o Brasil continua sendo a maior delegacão sul-americana, com 373 concluintes, incluindo os que moram nos EUA. E as opiniões daqueles que participaram da prova também continuam sendo unânimes, sempre mostrando que o evento faz jus à fama que carrega ao longo de todos estes anos. 

Por isso mesmo, a prova acaba atraindo não apenas corredores que escolhem Nova York para estrear em grande estilo na distância, mas também aqueles que fazem uma vez e resolvem retornar para reviver a experiência de correr pelos cinco distritos da cidade: Staten Island, Brooklyn, Queens, Bronx e Manhattan.

 

BRASILEIROS PRESENTES. O curitibano Luiz Fernando Vianna, de 34 anos, é apenas um destes corredores que resolveram repetir a participação. Sua estreia em Nova York aconteceu em 2008 e, de lá para cá fez a prova mais duas vezes. Diretor administrativo financeiro, o corredor conseguiu uma evolução de tempos nos 42 km em NY, com 4h46 na primeira participação, depois 4h06 e agora sua primeira maratona abaixo de 4h, com 3h54. "Quando escolhi NY para estrear não imaginava o que encontraria pela frente. Sabia que era grande, porém não tinha noção que, além do grande número de corredores, também era grande pelo público, que sai de casa para incentivar e aplaudir todos os participantes, independentemente de serem profissionais ou não", comenta Luiz, apontando isso como o grande diferencial do evento.

Sobre sua participação em cada um dos anos, Luiz diz que conheceu faces diferentes da prova, mas que as bandas no percurso, as pessoas gritando o nome dos competidores e do país nas ruas, o público que nunca acaba e a perfeita organização são pontos marcantes e que estiveram presentes nas três vezes. "Na largada, quando o canhão atira e depois ouve-se Frank Sinatra cantando ‘New York, New York' é de arrepiar. Na chegada, a vibração das pessoas me fizeram chorar as três vezes que cruzei aquela linha. Minha família sempre me acompanha e acho isso fundamental", conta o corredor.

As gêmeas baianas Marcia e Martha Simões, de 47 anos, moram distante uma da outra, mas, sempre que podem, aproveitam a corrida para celebrar o encontro das duas em alguma cidade diferenciada. E em Nova York não foi diferente. Estreante na distância de 42 km, Martha, que é advogada e mora em Salvador, sempre ouviu dizer que a prova era difícil, mas não se intimidou muito com o que as pessoas diziam. "O que mais ouvi foi você vai passar frio, vai ter que acordar cedo, vai esperar 4 horas para largar e depois vai sofrer", comenta ela, que define NY como uma maratona de contradições, já que são exatamente as adversidades que levam você a querer estar lá. "Você sabe que vai sofrer."

Marcia, que é médica, mora há 19 anos em São Paulo, concorda com a irmã e cita a largada, com o hino norte-americano, o tiro de canhão e a voz de Sinatra como um dos momentos mais emocionantes da prova. "Eu chorava e minha irmã dizia: ‘guarda energia para o final' ", lembra Marcia, que já havia feito Chicago ano passado. As gêmeas correram a prova juntas, finalizando os em 4h58.

 

PRIMEIRA VEZ. Com dez anos de corrida e agora dez maratonas no currículo, o comerciário paulista Carlos Arraez, de 41 anos, estreou este ano em Nova York. "Sempre quis fazer a prova, mas nunca tive a oportunidade", diz ele, que tem 3h04 como melhor tempo nos 42 km, em Paris, e que foi a Nova York com um objetivo ousado, de quebrar a barreira das 3h. "Sabia que era uma prova difícil, mas claro que você tem que acreditar mais no seu treino do que no que as pessoas dizem. Mas percebi que a situação real da prova requer mais força e dos 30 km para a frente faltou um trabalho diferenciado no treino, de força muscular, para suportar os 12 km finais no mesmo ritmo", conta o paulista, que finalizou a prova em 3h07, acreditando ter sido um tempo bom para as condições da corrida. "Achei a prova maravilhosa. Quem gosta de corrida tem que passar por aqui algum dia. Tem gente da largada até a chegada e, em alguns lugares, é possível perceber até pessoas tentando procurar espaço no meio da multidão para poder ver", lembra Carlos, que promete voltar o ano que vem para a prova. "Volto mais bem preparado. Tenho agora referência do que é e, sabendo disso, facilita. Acho que minha estratégia de corrida foi acertada e, com trabalho diferenciado de força, dá para aguentar o ritmo na parte final, que exige muito mais."

Com maratona para 3h16 no currículo, a psicóloga campineira Patrícia Piazzon Queiroz, de 37 anos, resolveu fazer Nova York não com preocupação de tempo, mas com o objetivo de ter algo grandioso para celebrar. Em duas oportunidades teve que abrir mão da inscrição por problemas de saúde. Por  isso, correr em Nova York para ela, que tem nove maratonas na bagagem, representava algo ainda maior. "Essa prova sempre foi descrita como a mais festiva do mundo, com o maior número de pessoas na rua, bandas, diversidade de culturas correndo e assistindo, organização impecável, entre outros. Era perfeito para comemorar a minha volta", conta a psicóloga, que esperava terminar em menos de 3h50.

"Foquei no que realmente importava: aproveitar a prova e o desempenho no dia seria consequência. Foi o que fiz. Chorei com a beleza e emoção da largada e em diversos pontos da prova, lembrando de tudo que passei." Após três anos longe das maratonas e da corrida, Patricia terminou Nova York em 3h44. "Foram muitos pontos altos. A largada é emocionante; entrar na ponte Verrazano repleta de corredores coloridos; o Brooklyn lotado com todas aquelas bandas e pessoas; passar pelos judeus ortodoxos olhando e comentando com as crianças vestidas iguaizinhas torcendo; ver voluntário judeu e negro entregando água juntos; crianças fazendo fila ou em cima de escada com mão para batermos. Foi solitário passar na ponte de Queensboro, em subida, cinza e sem torcida. Porém, ao sair de lá, você escuta como um estouro a torcida gritando. É emocionante, marcante e inesquecível essa entrada em Manhattan. Ver a primeira avenida sem espaço dos dois lados para tanta gente em toda a sua extensão. Passar para o Bronx e voltar a Manhattan sabendo que está acabando. Entrar no Central Park também é indescritível. A emoção só aumenta!", detalha Patricia, que completou chorando.

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One Comment on “Maratona de Nova York: arrasadora

  1. Nenhuma maratona supera as de Paris, Berlim ou Londres. Nova york soh tem “oba-oba”, coisa que eles sabem fazer muito bem. Mas correr em cidades onde grande parte da historia da civilização se fez eh outra coisa.

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