Moses Mosop venceu dia 9 de outubro a Maratona de Chicago com 2:05:37, confirmando seu favoritismo. A temperatura alta, 18,5°C às 7h30 na largada, e a falta de competidores em ritmo forte, inviabilizaram a busca do recorde mundial. Mosop sobrou na disputa e administrou a liderança a partir do km 35, quando a vitória estava garantida. Mesmo assim, bateu o recorde da prova, que era do compatriota Samuel Wanjiru (que morreu neste ano), de 2009, com 2:05:41.
O Quênia comprovou a ampla supremacia em mais uma maratona em 2011. O segundo colocado foi Wesley Korir, em 2:06:15 (tinha 2:08:24 como melhor tempo) e Bernard Kipyego, em 2:06:29. Entre outras provas, os quenianos venceram este ano em Paris, Boston, Roterdã, Berlim, Londres e no Mundial de Daegu (Coreia do Sul).
O brasileiro Marilson Gomes dos Santos foi para Chicago com dois objetivos claros: quebrar o recorde sul-americano de Ronaldo da Costa (2:06:05, em Berlim-1998) e garantir antecipadamente o índice para a Olimpíada de Londres (2h16). Mas ele começou a passar mal a partir do km 25 e pouco depois decidiu abandonar.
Fernanda Paradizo, que estava nos EUA, entrevistou o técnico de Marilson, Adauto Domingues, com exclusividade: "A gente tinha uma expectativa muito positiva, porque tudo o que a gente planejou ele conseguiu fazer. A expectativa era que a temperatura variasse entre 13 e 20ºC, mas foi até uns 26ºC. Mas o pior não foi a temperatura e sim a indisposição estomacal, e ele passou a ter ânsias de vômito. Ele vinha em um ritmo bom 14:55/15:00 para cada 5 km, o que daria 2h06, conforme o programado. Mas do km 25 para o 30, ele fez 16:05 e decidiu parar, porque ia sofrer demais." Segundo Adauto, Marilson tem convites para correr em Londres ou em Roterdã em abril do ano que vem, onde deverá adotar uma estratégia mais conservadora para assegurar o índice olímpico.
No feminino, o show foi da russa Lillya Shobukhova, acumulando marcas de respeito. Venceu com 2:18:20, tornando-se a segunda mulher mais rápida da história (atrás apenas dos dois tempos da britânica Paula Radcliffe); é a primeira tricampeã (e seguida) de Chicago e garantiu presença na Olimpíada de Londres. A etíope Ejegayehu Dibaba foi a segunda colocada, com 2:22:09 e a japonesa Kayoko Fukushi, a terceira, com 2:24:38.
A brasileira Cruz Nonata, aos 37 anos, estreou na maratona com a boa 9ª posição, em 2:35:35. O objetivo era o índice olímpico, para conseguir a marca A da IAAF (2h37), porém a CBAt faz uma média dos últimos resultados das maratonas e o tempo exigido para ir a Londres é 2:30:07.
Cerca de 35 mil corredores largaram em Chicago e, de acordo com balanço da rede de televisão NBC Chicago, 1 milhão de pessoas assistiram à prova nas ruas. Terminaram 198 brasileiros, estando na listagem o que fecharam em até 5 horas.
UM MILHÃO DE DESCONHECIDOS TORCENDO POR VOCÊ
Americano adora maratona. E olha que o principal corredor deles (Ryan Hall) não passou de um quinto lugar em Chicago. Mas corrida de rua não é desses esportes que um ídolo arrasta multidões. Não conheço ninguém que começou a correr depois dos dois títulos do Marilson Gomes dos Santos em Nova York. Sem menosprezo, mas é assim que as coisas funcionam.
Chicago é especial porque os americanos entendem o esforço necessário para correr as 26 milhas. Foram mais de 1 milhão de espectadores nas ruas às 7h30 de um domingo para torcer e tocar seus sinos para 45 mil desconhecidos. Um deles era eu.
Larguei no curral C, junto com uns três mil corredores. Somando a elite e os inscritos dos currais A e B, chegamos perto dos 10 mil. Emocionante olhar para trás e ver aquele mar de gente. Mais adrenalina é injetada ao olhar para a calçada. Deixe seu MP3 Player em casa. Eu levei o meu e não adiantou nada. Só ouvia as badaladas dos sinos e os gritos de "come on, you're looking good, you can do it, keep the pace" e por aí vai.
Chicago é plana, mas o calor tratou de castigar os atletas. Com 2h30 de prova, passei por um termômetro que marcava 85F (algo em torno de 30°C). A feira da maratona é muito boa. Todos os segmentos de corrida tinham estande. Marcas de roupas, tênis, suplementos, gel e meias. A entrega dos kits foi eficiente e com filas bem pequenas. A hidratação esteve quase perfeita. Havia sempre água e isotônico em todos os postos de hidratação, que estavam distribuídos mais ou menos a cada 3 km. Só não foi perfeito porque em um dos últimos postos peguei água quente, mas nada que chegasse a atrapalhar.
Foi minha pior e melhor prova em Chicago. Vomitei o gel que tomei três vezes. Mas como desistir depois de tanto treino e com essa multidão torcendo? Fechei em 3h59. Indo para o aeroporto após a prova, um senhor viu o chip no meu tênis e perguntou se eu havia terminado. Disse que sim e começamos uma animada conversa sobre a maratona, inclusive com a participação de outros passageiros. É disso que vou lembrar de Chicago. Se você é maratonista, precisa correr lá. Tem 1 milhão de desconhecidos querendo torcer por você. (Jarbas Pereira, de Brasília)