Notícias admin 7 de novembro de 2011 (0) (150)

Mont Blanc: 300 km em 5 dias

Depois de correr por dois anos consecutivos (2006 e 2007) o UTMB, que é uma das provas do Ultra-Trail du Mont-Blanc, na fronteira da França com a Itália, com 166 km e 9.500 m de desnível, em 2010 resolvi arriscar no PTL (La Petite Trotte à Leon) a maior e mais dura prova dessa ultra pelos Alpes. Eram 240 km com 18 mil metros acumulados de desnível, que fiz ao lado do aluno e amigo André Arruda, já que pela grande dificuldade da prova e por segurança este desafio deve ser realizado em duplas ou em trios. Éramos a primeira equipe brasileira a participar desta ultramaratona, mas como 83 das 85 equipes que largaram, não completamos.

No final de agosto último, voltei a Mont Blanc, agora com Luís Mazzotini, experiente corredor de aventura e um exímio navegador, já que nesta corrida a navegação é fundamental, pois o percurso deve ser realizado através do uso de mapas (cartas topográficas) e GPS, o que torna este equipamento fator determinante. Porém, neste ano o desafio era ainda maior, na medida em que o PTL passou a ter 300 km e desnível de 25 mil metros, com tempo limite de 138 horas para conclusão.

Em função das quebras no ano passado, os atletas resolveram ir com seis dias de antecedência da largada para Chamonix,  com o objetivo de se aclimatar da melhor forma possível, já que por muito tempo iriam permanecer em altitudes acima dos 2.500 metros.

Dia 22 de agosto foram passadas as últimas informações, checagem do material obrigatório de segurança e entrega dos dois sacos de apoio, que deveríamos preencher com roupas e alimentos, para os receber de volta no percurso (km 110 e 195). A largada aconteceu às 22h, com muita festa e fomos deixando Chamonix para trás. Após 3 km nos demos conta que tínhamos esquecido no hotel os mapas dos primeiros 67 km, ficando então na total dependência do GPS. Mas fomos em frente na madrugada.

 

POUCO PESO, MAS… Nossa estratégia era carregar pouco peso, somente dos equipamentos obrigatórios e dos alimentos que fossem ser consumidos até atingir o próximo vilarejo ou refúgio de montanha; os dois lanches logo acabaram e nada de encontrar algo para comprar. Somente no final da tarde, 60 km percorridos, encontramos o primeiro apoio, onde pudemos comer um belo prato de macarronada, ovos mexidos, e beber sete latinhas de Coca-Cola. Agora alimentados e mais confiantes, seguimos na prova, para alguns quilômetros depois sermos informados que o trajeto havia mudado, o que levou os atletas para uma subida extremamente difícil, tornando-se uma verdadeira escalada. Atingimos então o primeiro grande posto de apoio, com alimentação e hospedagem.

No dia 24, após dormir por apenas 3h30, tomamos um reforçado café, abastecemos as mochilas e saímos de madrugada em direção a Morgex, distante 110 km e com 10 mil metros de desnível, lá chegando às 16h15. Nessa parada foi possível tomar um rápido banho, trocar de roupa, alimentar-se, repor os suplementos na mochila e partir para o trecho que iria levar os corredores até Borg San Pierre, trecho este em que por mais 60 km não teríamos apoio algum.

O dia foi bastante puxado, com muita subida e descida por trilhas características do PTL, com nível de dificuldade alto e sempre com pedras e cascalhos. Ao cair da noite a atenção tinha que ser aumentada, pois se exige mais da navegação e foi uma noite bastante dura devido ao cansaço e ao sono, mas era nossa estratégia dormir o mínimo possível.

Na quinta, dia 25, chegamos a Borg San Pierre às 15h30, local em que pudemos fazer um belo almoço a base de massa e um bife e também várias Cocas. Repostas as energias, mas não o sono, a meta passou a ser Champex, km 195, segundo e último ponto de apoio fornecido pela organização, onde seria possível encontrar o segundo saco com roupas limpas, pilhas e suplementos. Chegamos às 23h15, eu com dores no pé e o Luís sofrendo um pouco com seu joelho e também com bolhas nos pés. Nos alimentamos, dormimos por 3 horas, e saímos às 5h da manhã.

 

GRANIZO E NEVE. Depois de muitas trilhas e mudanças no percurso impostas pela organização, pegamos chuva no começo da noite, descansamos um pouco em um refúgio e seguimos em frente pela noite. No início da madrugada a chuva piorou e virou granizo, e o vento também aumentou, piorando a sensação de frio, que chegava a – 10 oC. Não demorou muito para que essa chuva em pleno verão europeu se transformasse em neve e em seguida numa nevasca terrível, o que exigiu muita coragem, concentração e determinação, pois as trilhas se apagavam completamente com a neve e o deslocamento ficava ainda mais lento e perigoso.

Enfim chegamos ao refúgio La Voyage a 1.750 m de altitude e km 260 de prova, por volta da 4h30. Após breve descanso e alimentação, com parte das roupas molhadas, seguimos com a missão de terminar ainda no sábado. Finalmente, alcançamos o centro de Chamonix, às 21h30, com muita gente nas ruas aplaudindo; a equipe D-run Fortitech cruzou a linha de chegada após 119 horas, em 6º lugar geral.

O Brasil também foi bem representado pela equipe D-run nas outras competições. No TDS, prova de 110 km e 7.100 m de desnível, por André Arruda, com o tempo de 27h51, Walter Rinaldo (29h52) e Giovanni Rinaldo (32h21). No CCC, 98 km com 5.600 m de desnível, Cyntia Terra conquistou o 8º lugar, com o tempo de 14h59.

A D-run, de Campinas, dirigida por Décio Ribeiro, tem o apoio da empresa Fortitech e da Nutristore Suplementos. Mais informações no site www.ultratrailmb.com

 

 

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