A certeza de que eu faria esta matéria surgiu dia 17 de abril, quando estava embarcando na balsa em direção à largada da Corrida da Ponte, em Niterói. Fui um dos últimos a subir e logo percebi que alguém próximo da sala de comando disparava flashes. Foi quando um dos corredores gritou para o fotógrafo: "Tião! Fotografa eu!" Outro repetiu o pedido e rapidamente muitos começaram a gritar pelo nome do Tião. O detalhe mais interessante é que o Tião não estava na barca, aliás ele nem tinha ido ao Rio de Janeiro, pois naquele dia estava fotografando outra corrida em Santo André. Fiquei emocionado com aquele momento, ao ver quanto o Tião é querido, e muito orgulhoso por tê-lo como amigo.
Alguns dias depois, relatei o fato ao Tomaz Lourenço, editor da CR, e da minha idéia de escrever sobre Tião, e ele observou: "Essa matéria é na verdade um justo reconhecimento ao Tião, que está conosco desde o lançamento da primeira edição da revista, em 1993. Tião sempre nos ajudou com suas informações sobre as provas e os muitos corredores que conhece. Ele não apenas colaborou nesses quase 20 anos com suas fotos, mas tem sido companheiro de todas as horas. Toda essa experiência engrandece ainda mais a nossa revista!"
Naquele momento ficou claro que o tal fato na balsa não tinha acontecido por acaso e com certeza pela popularidade do Tião deve se repetir nas corridas por ai. Ele me disse numa ocasião: "Fotografei corridas de rua em todos os países da América do Sul, e porto do Brasil, só me falta uma prova no Amapá."
TIÃO CORREDOR. O que a grande maioria não sabe é que Tião antes de ser fotógrafo era corredor e sempre gostou de esporte, tendo sido um exímio lutador de kung fu. "Comecei a lutar com 16 anos. As artes marciais são muito boas para desenvolver a paciência; praticá-las nos ensina a disciplina, e era normal quatro horas diárias de treino." Foi com 20 anos que Tião descobriu as corridas, de forma semelhante a muitos de sua época: assistindo com a família, pela televisão, a São Silvestre, em 1977.
Sua primeira corrida foi a do Marco Zero, prova que percorria vários bairros de São Paulo, finalizando na Praça da Sé. Ao todo eram 25 etapas, de corridas que variavam de 1,2 a 2,5 km. "Era interessante porque podíamos correr quantas etapas quiséssemos e a inscrição era gratuita, com direito a sorteio de bicicletas."
Muito disciplinado, após sua primeira corrida em 1978, Tião evoluiu rapidamente. Morador até hoje em Osasco, sua primeira equipe foi a Sedert, da cidade, e depois disputou pelo Sesi Vila Leopoldina. "Estar nessas equipes era praticamente estar com a família!" Tião ressaltou que ao contrário do que muitos pensam, havia muitas provas naquela época. "O difícil era saber onde aconteceriam, o que só começou a melhorar depois que surgiu a Contra-Relógio".
O fotógrafo da CR foi corredor dos bons, conseguindo em 1981 marcar 33:50 nos 10 km. Perguntado sobre como eram seus treinamentos, ele respondeu: "Eram praticamente rodagens longas e certa vez treinei 210 km numa semana me preparando para enfrentar a maratona. Tião lembra que sua melhor chegada ocorreu em 1983, numa da provas mais duras da época, a Mini Maratona de Itapira/SP. "Essa prova tinha 18 subidas e completá-la já dava a sensação de uma grande conquista. Por isso, quem tinha a camiseta de algodão da prova – uma das únicas que oferecia esse brinde, mesmo nada cobrando de inscrição, como era o normal – era visto como um corredor diferenciado. Lá eu cheguei a fazer os 21 km em 1h18."
SÓ TROFÉUS. Quem o vê fotografando nem imagina que Tião no melhor de sua forma na maioria das vezes se encaixava entre os cinco primeiros em corridas menores e chegou a vencer algumas corridas faturando alguns troféus, na época essas provas tinham um apelido comum e ao mesmo tempo pejorativo "Corrida Bate-Saco" que nada mais eram do que corridas rústicas realizadas nos bairros da periferia e no interior onde eram disputadas no máximo por uma centena de corredores que tentavam mesmo faturar algum troféu, que era o prêmio máximo oferecido nas corridas de rua. Nada de premiação em dinheiro, nem medalhas aos que terminavam, mas também nada se cobrava.
Foi nesse cenário que Tião teve seu dia de corredor de elite. "Numa visita que fiz à minha família em Visconde de Rio Branco, em 1986, ao chegar lá fiquei sabendo que haveria uma corrida em Tocantins, cidade vizinha, e como eu vivia competindo, ao chegar na prova, com um pouco mais de 50 participantes, me senti o favorito; pelo menos eu tinha toda a pinta de corredor: estava treinado, tênis do momento, short de corrida e muita vontade de vencer. Olhei para os concorrentes, vi uns magrinhos, outros nem tanto, achei que todos menos um (eu) eram pangarés e não tomei conhecimento; saí na disparada, para os 7 km e concluí exausto, na décima colocação. A vitória foi de um garoto de 17 anos, que uma década depois viria a ser recordista mundial de maratona, o Ronaldo da Costa".
O COMEÇO. Atualmente são muitos os fotógrafos nas corridas de rua, figura inexistente há 30 anos. Tião afirma que sua carreira fotográfica surgiu quando percebeu que os corredores queriam muito ter registrado momentos de alegria e superação na corrida. "As poucas fotos que tenho, são as que os amigos tinham e copiavam, raríssimas, porque era caro na época e não tinha ninguém fotografando. Assim percebi como seria importante fornecê-las."
Os primeiros anos de fotografia de Tião foram bem diferentes de hoje. "Na época que eu comecei era muito difícil e mais trabalhoso fotografar, sendo que por vezes levava pelo menos 30 rolos de filmes. Os equipamentos eram mais volumosos e pesados e depois das provas corria para revelar, para entregar… Na verdade, nunca parei de correr."
O CASAMENTO. Tião casou-se com Maria da Graças, uma corredora tão famosa quanto ele próprio. "Ela foi uma das minhas clientes mais assíduas, comprava muitas fotos." Ele a conheceu na São Silvestre de 1993. Chamou-lhe a atenção as duas loirinhas do nordeste, Maria das Graças e sua irmã Margarida. "Fui fotografar a Meia de Buenos Aires e as encontrei lá. Graça venceu os 11 km em 1994 – essa foi a minha primeira viagem internacional pela CR. Foi lá que tive a oportunidade de conhecê-la melhor, ficamos amigos, e nos encontrávamos nas corridas. Em 1995 e 1996 ela venceu muitas provas, quando já morava em SP. O casamento dos dois, em 1998, foi quase uma preliminar de São Silvestre, com mais de 200 corredores e o editor da CR como um dos padrinhos. "Tinha atleta de elite de todo o Brasil, até mais que numa prova grande nos dias de hoje", lembra Tião.
CLIENTES AMIGOS. Muitos foram os atletas famosos clicados por Tião, e milhares os corredores amadores. "Na verdade, o meu maior prazer é fazer amigos, e nas provas é o que mais somei até hoje". Tião destaca que a elite também compra suas fotos, e que alguns gostam tanto de seu trabalho que o contratam para outros trabalhos que não corrida, como casamentos ou outros eventos sociais.
Entre suas corridas inesquecíveis ele destacou a vitória de Carmem de Oliveira na São Silvestre de 1995; "clicar aquela luta pessoal que ela travou para ser a campeã foi emocionante." Tião também recorda de Vanderlei Cordeiro, quando fez o tempo de 2h11 na Maratona de São Paulo de 2002. "Até aquele dia as más línguas diziam que era impossível realizar essa proeza no Brasil."
Já suas provas preferidas para fotografar são a Volta à Ilha de Florianópolis, os 25 km de Aracaju, a Volta ao Cristo de Poços de Caldas, a Meia-Maratona do Rio, a Meia da Corpore em SP e o Revezamento Pão de Açúcar também na capital paulista. "Gosto porque essas corridas trazem um fator que julgo importante: todas elas promovem o congraçamento das pessoas, de diferentes classes sociais e etnias. É uma harmonia democrática! Isso é que eu gosto nas corridas."
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Senhores,
estou tentando contato com o Fotográfo Tião, para poder adquirir uma foto da corrida Meia Maratona de Praia Grande, o qual percebi que ele me fotografou. Tenho seu cartão com o celular 11-9163-0767 porém a claro não copleta a ligação. Seria possível ele me contatar
meu celular: 11-xxxxx,ou me passarem um atual contato dele.
obrigado
Ginez
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O celular atual do Tião é 11 8186-6767
Eu diria mais sobre o Tião. Ele não é só fotógrafo, é gente à beça. Lembro particularmente de uma Maratona em Porto Alegre, calor atípico, tempo e eu estourados, todo mundo indo embora… coisa triste para o caramba. O Tião não me fotografou. Me deu um copo de àgua, me deu um abraço e me deu parabéns. O Tião solidário é sempre o que mais marca. Ah, eu não sabia que nascemos no mesmo dia!!!