Sem categoria admin 4 de outubro de 2010 (0) (105)

Síndrome de supertreinamento; Canelite demorada; Artrose do quadril; Descanso demais?;Dor no tendão de Aquiles

SÍNDROME DE SUPERTREINAMENTO
Sou assinante da Contra-Relógio porque acho uma revista realmente útil. Gostaria de expor um pouco meu "problema" e sugerir uma matéria a respeito do tema. Tenho 38 anos e sou corredor desde os 29; resolvi correr para entrar em forma depois de ter engordado por ter parado de fumar. Participei da primeira prova de 10 km somente 3 anos depois que já estava correndo, a convite de um amigo; como meu tempo naquela prova foi relativamente bom para um principiante (43:15) meu amigo me sugeriu que treinasse com um profissional, pois poderia melhorar minhas marcas. E foi isso que fiz; de lá pra cá, me tornei triatleta, faço somente provas longas, prefiro os de distância olímpica (1500 m de natação / 40 km de ciclismo / 10 km de corrida) e os meio ironman (1900/90/21), mas minha paixão mesmo são as maratonas. Já concluí 9, sendo meu pior tempo 3:32:19 e o melhor 2:54:54 em São Paulo 2006, e é aí que começa meu problema.

Treinei duro, foi um ano puxado, pois além de tudo sou empresário do ramo de produção de vídeos institucionais. Logo após a maratona cometi um erro: não diminui meu ritmo. Voltei de São Paulo e continuei participando de provas, porque me sentia forte e leve e meus tempos nas provas de 10 km nunca foram tão bons; cheguei a fechar uma em 36:12, o que pra mim é maravilhoso, pois apesar de fazer tempo que corro abaixo dos 40 minutos, nunca tinha concluído abaixo dos 38.

Um dia, logo após uma rodagem num parque da cidade, me senti tonto e tive uma taquicardia violenta; achei que fosse morrer. Procurei um cardiologista que me recomendou um monte de exames, até um holter de 24 horas eu fiz. Não apareceu absolutamente nenhuma anormalidade, porém, daí em diante, tive várias taquicardias, e meu rendimento está ridículo: não consigo correr 5 km a 5km/min. Isso é sindrome de supertreinamento?
Rogério Verderoce Vieira, Curitiba, PR

Sua condição clínica é muito interessante do ponto de vista médico, pois você está apresentando uma nítida diminuição na sua performance e apesar disto não registrou nenhuma alteração em exames que lhe foram solicitados, o que torna a hipótese de "overtraining" bastante possível. Muito mais complexa do que relatada pela mídia não especializada, a chamada "síndrome do overtraining ou supertreinamento" é um conjunto de sinais e sintomas que caracterizam um distúrbio neuroendócrino marcado pelo declínio da "performance" esportiva, incapacidade de manter a carga de esforço físico nos treinamentos, fadiga persistente, freqüentes infecções de vias respiratórias superiores, alterações do estado de humor, distúrbios no padrão de sono e alterações em determinados exames laboratoriais. Em resumo, um distúrbio resultante do processo de supertreinamento e culminando com toda a fadiga acumulada durante os períodos de excesso de treinamento e inadequada recuperação. Como você mesmo relatou, seu erro foi terminar a MSP e continuar com ritmo forte em provas e treinamentos, exatamente o que pode ter influenciado na evolução do seu quadro clínico. Como você está apresentando taquicardias e seu rendimento está muito aquém do normal, creio que seja melhor você parar por completo com a corrida e realizar outras modalidades aeróbicas, com treinos apenas regenerativos por alguns meses. Quantidades suficientes de sono e alimentação balanceada ajudam na recuperação. Procure um clínico geral especialista em medicina esportiva para lhe orientar.

CANELITE DEMORADA
Gostaria de saber quanto tempo dura em média a cura de uma canelite. Tenho dores há 3 semanas na canela, três dedos acima do peito do pé do lado direito do osso. Estou parado há 1 semana e a melhora foi pouca; tomo Flanax 500 uma vez ao dia, faço gelo duas a três vezes, calor com vibração duas vezes ao dia, e alongamentos de acordo com ilustrações da revista. Quanto tempo devo esperar para retornar? Posso trotar na grama, mesmo com dor? Se puderem me ajudar, agradeço muito.
Reinaldo José Pereira Leite, Jaú, SP

Não há um tempo pré-determinado para a remissão dos sintomas das "canelites", medicamente denominada de síndrome do "stress" tibial medial, que surge a partir de um processo inflamatório acometendo o tecido fibrótico que reveste a tíbia (osso da canela), e já comentado diversas vezes pela revista. Creio que está seguindo corretamente os passos do tratamento, porém são necessárias algumas semanas antes de você estar preparado para voltar a correr. Quando não sentir mais dor, comece os exercícios de fortalecimento para a musculatura da parte anterior da perna, para condicionar estes músculos e minimizar seus riscos de uma recaída. Breve retorno!

ARTROSE DO QUADRIL
Eu tenho artrose do quadril (igual à do tenista Guga, só que menos grave), acredito devido ao esforço repetitivo da corrida. Eu corro desde os 14 anos e agora tenho 45 anos. Consultei um médico que me indicou a artroscopia do quadril. Gostaria de sua opinião sobre o procedimento, inclusive quanto ao sucesso, riscos e recuperação.
Carlos Corrêa, Rio de Janeiro, RJ

A artrose de quadril é uma condição ortopédica caracterizada basicamente por um desgaste da cartilagem que recobre os ossos que compõem sua articulação: a cabeça do fêmur e o acetábulo do quadril.  Diferentemente da condição do nosso querido Guga, que sofreu uma lesão de labrum acetabular inicialmente, a osteoartrose não tem uma cura propriamente dita, mas pode haver um controle de seus sintomas. A artroscopia é uma técnica cirúrgica fechada, ou seja, não são realizadas incisões na pele do paciente, na qual o cirurgião visualiza o interior da articulação através de ópticas especiais e realiza os procedimentos necessários da mesma forma. É uma alternativa interessante para este tipo de problema, sobretudo quando o tratamento conservador convencional não surtiu a melhora esperada. Porém, como é um procedimento cirúrgico, traz os riscos inerentes a ele, e seu sucesso depende da condição particular de cada caso. A recuperação, obviamente, é mais rápida do que o tratamento cirúrgico aberto, porém depende também da complexidade dos procedimentos que foram realizados.

DESCANSO DEMAIS?
Faço meu treino normalmente durante a semana, porém se eu descansar no domingo, o dia todo, na segunda-feira meu treinamento não tem o mesmo rendimento. A impressão que tenho é que estou muito cansada. Gostaria de saber se isso é normal e porque acontece? Aproveito para dizer que aqui em casa "devoramos" a revista toda vez que ela chega.
Giane, via email

Sua reação é pouco comum entre esportistas de várias modalidades, mas pode ocorrer. Creio que seu repouso absoluto no domingo contribua com este estado letárgico que você apresenta na segunda-feira, quando não é capaz de treinar adequadamente. Pense em realizar algum treino leve no domingo, especialmente através de atividades aeróbicas que não envolvam a corrida, pelo menos para se movimentar um pouco, como natação, hidroginástica, caminhada ou bicicleta, e seguramente sua rotina de segunda irá melhorar. 

DOR NO TENDÃO DE AQUILES
Gostaria de um parecer a respeito de uma dor  no calcanhar, mais precisamente no tendão de Aquiles, que me acompanha há bastante tempo. No início era apenas a dor, e que logo após os treinos e provas ficava intocável, mas que logo passava. Agora percebo, além da dor, um repuxar do nervo quando estou correndo e um inchaço após, com dor latente. Faço compressa de gelo, sinto melhora e volto a correr, porém, a dor volta. Minha pisada desgasta o tênis pelo lado externo do calcanhar, penso ser supinador leve; mas indo em uma loja especializada, foi informado que tenho pisada neutra. Tenho pernas arcadas, e quando criança sofri um acidente em que tive um corte profundo, lado externo, logo abaixo do joelho. Não seriam estes fatores que forçam o nervo, causando seu stress e conseqüentemente inflamação?
Jorge Lienart Gomes, Cariacica, ES

A tendinopatia de Aquiles é frustrante não só para atletas de uma maneira geral, como para médicos, fisioterapeutas, técnicos, professores de Educação Física e fisioterapeutas. Com etiologia ainda indeterminada, apesar de várias teorias para explicar sua gênese, tem caráter recidivante, ou seja, retorna com alguma freqüência após uma aparente melhora, e pode piorar ao longo da carreira esportiva do corredor. As pernas arcadas constituem um fator predisponente para o desenvolvimento desta lesão, porém seu ferimento quando criança não deve estar relacionado a isto. Converse com um fisioterapeuta a respeito de exercícios excêntricos para a musculatura da panturrilha, pois tenho experiência com a melhora do quadro clínico após a adoção desta medida. Tenha paciência e seja persistente no seu tratamento. Bons treinos.

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